Fagner Sena: Que sinais dá Marcio Lacerda?

Analisar conjunturas, governos e processos políticos deve ser sempre uma busca incessante por reprimir paixões e desejos. Tarefa árdua. "Análise concreta da situação concreta", como dizia Lenin. Ou "chamar as coisas pelo seu próprio nome", mais uma vez citando o marxista russo.

Avalizar os "sinais" emitidos pelo Prefeito Márcio Lacerda do PSB nesses quase três meses do segundo mandato necessita, desse modo, exercitar o que Maria A. do Nascimento Arruda chamava de "uma atividade ascética – por ser produto do sacrifício nascido do esmagamento dos sonhos". Ou seja, não nos hipnotizarmos pela perspectiva que quer a todo custo de caracterizar Marcio Lacerda como um fascista, de direita "um tucano no PSB". Nem tão pouco pela benevolência dos que buscam ver em tudo um sinal de que o mesmo está fazendo o jogo político e que, mais cedo ou mais tarde, se posicionará realinhando com Dilma ou com o seu partido nacionalmente.

Dois eventos ocorreram até o momento pelos quais alguns sinais podem ser decodificados. Apenas dois: a eleição da Câmara e o anúncio do primeiro escalão do governo. Na eleição da Câmara opino que prevaleceu a ingenuidade e falta de habilidade do Prefeito, na medida em que pouco influenciou no processo, depois de instigar um conjunto de vereadores a construir uma candidatura à margem dos desejos do PSDB. Foi um sonho que virou pesadelo com a eleição de Leo Burguês e Welliton Magalhães.

O anúncio do primeiro escalão do governo talvez seja o evento mais esperado, tanto para analistas políticos quanto, sobretudo, para os partidos sedentos por verem seus quadros figurarem na lista. De todos, o mais apreensivo, era o PSDB que gostaria de ocupar o espaço ocupado pelo PT no primeiro governo. E lutou arduamente por isso, tanto que o panfleto tucano Estado de Minas foi porta-voz de vários recados.

Depois de idas e vindas, facas no pescoço, janeladas em indicações de Aécio, sai a nominata. Penso que seja necessário olhar o orçamento que será controlado pelos tucanos e comparar com o que era controlado pelo PT. É um "esmagamento de sonhos" mais eficaz do que contar o número de secretarias. Mas vamos ao que está disponível. No governo anterior, o PT ocupava doze cargos de primeiro escalão: Planejamento, Educação, Obras, Políticas Sociais, Procuradoria, Regional Leste, Regional Venda Nova, Regional Oeste, Fundação de Cultura, Belotur, Prodabel e Urbel. O PSDB ocupava seis cargos: Saúde, Desenvolvimento, Regionais Barreiro e Pampulha, BHtrans e Esportes no final do mandato. Entre indicações do PSB e os da confiança do Prefeito eram somavam no máximo cinco: Governo, Institucionais, Finanças, Comunicação Social e Serviços Urbanos.

Na equipe anunciada pelo prefeito constam seis nomes do PSDB nos seguintes postos: Saúde, Desenvolvimento, Segurança Patrimonial, Políticas Sociais, Regionais Barreiro e Pampulha e BHtrans. Ou seja: aumento de seis para? Já as indicações do Prefeito, os considerados técnicos, somados aos do PSB chegam a 15 nomes: Governo, Planejamento, Institucionais, Obras, Meio Ambiente, Finanças, Comunicação Social, Educação, Serviços Urbanos, Controladoria, Procuradoria, Fundação de Cultura, Belotur, Urbel e Regional Oeste.
A fotografia até então mostra uma composição, ao que parece, sob controle do Prefeito e da Burocracia que o acompanha desde os tempos empresariais. Por mais que os tucanos não manifestem, o fato é que eles serraram fileiras em torno da Secretaria de Obras e da Urbel. Não obtiveram. Márcio Lacerda leva o ônus e, talvez, seja a principal notícia e motivo de susto, por receber os tucanos derrotados em Juiz de Fora e Neves no pleito do ano passado.

Outros sinais virão. O principal, que é sobre o processo sucessório de 2014, o Prefeito tem tempo e uma boa confusão para que ele percorra todos os muros da Capital: Dilma – ela e ninguém mais que possui os recursos que BH precisa para o êxito do segundo mandato de Lacerda, visto que o Minas é um estado quebrado; Aécio, que o apoiou nas duas eleições luta no ninho tucano para se viabilizar candidato a Presidente; Eduardo Campos, Presidente do PSB e potencial candidato a Presidente. É um cenário perfeito para o nosso Prefeito atravessar bem 2013.

*Fagner Sena é Bacharel em Letras e Secretário de Organização do PCdoB-BH