Camarões: quatro potências em disputa
Camarões tornou-se um caso singular na história da escravatura e colonização pelas nações europeias mais desenvolvidas da época, que incrementaram suas riquezas com a exploração dos povos africanos.
Publicado 26/09/2014 12:40

Ao território camaronês, situado na África Ocidental, chegaram a partir do século XV navegantes e conquistadores de Portugal, Alemanha, Grã-Bretanha e França, convertendo-se na única nação do continente a ter em seu solo a presença dessas quatro potências.
Há muitas etnias que conformam o Camarões. Os bantus estabeleceram-se procedentes da África Equatorial. O primeiro grupo que chegou ao país incluía os makas, dualas e njema, e mais tarde os fang, bete, sao, fulani e kanuri, enquanto os habitantes mais antigos são os pigmeus (baringas e baguelli).
Esta foi a primeira população autóctone que encontraram os navegantes portugueses, os primeiros europeus a chegar ao Camarões em 1476, que exploraram a costa do que atualmente formam os territórios de Angola, Gabão e Congo.
Nessa época as autoridades de Portugal estavam interessadas na abertura de uma rota comercial segura para a Índia, e com esse objetivo financiavam projetos de navegantes lusos.
Os portugueses iniciaram o tráfico de escravos que eram enviados a sua colônia do Brasil, sua primeira e única na América, para trabalhar em rigoroso regime de escravatura em plantações de cana de açúcar e outros cultivos.
O comércio de marfim e azeite, bem como o de escravos, atraíram a ingleses, franceses, espanhóis e traficantes de outras nações europeias.
Os povos do Camarões ofereceram tenaz resistência aos caçadores de escravos, cuja oposição foi vencida pela superioridade em armas e conhecimentos militares dos conquistadores.
A historiografia não registra a quantidade de membros dos grupos bantu camaroneses que foram escravizados na América e nas ilhas caribenhas aonde levaram seus hábitos, costumes e tradições que influíram na cultura dos países onde foram assentados.
A colonização abriu um inovador capítulo na opressão dos povos da África e na exploração de seus abundantes recursos; significou uma nova modalidade da escravatura em que os direitos da população autóctone eram negados e pisoteados pelos dominantes europeus.
Em 1884 a pedido do rei Leopoldo II de Bélgica, que converteu em uma fazenda privada o Congo (hoje República Democrática do Congo), território mais de vinte vezes maior que seu reino, convocou uma conferência celebrada em Berlim, entre 1884 e 1885, onde as potências europeias levaram a cabo a partilha da África.
A reunião pretendia evitar as guerras de rapina e os confrontos entre as metrópoles pelo controle das nações, em primeiro lugar, as quais se destacavam por seus recursos naturais. Camarões com suas abundantes riquezas florestais e mineiras converteu-se em uma possessão alemã. A oposição dos nativos obrigou aos teutões, apoiados pelos britânicos, a utilizar suas frotas de guerra para bombardear a costa.
Para o domínio do interior do país foram necessárias sessenta expedições alemãs e finalmente mediante a assinatura de um tratado com o sultão Adamana, puderam submetê-los. Como ocorreu com os convênios firmados pelas metrópoles e os nativos, praticamente analfabetos, este foi sistematicamente violado.
Nas explorações florestais a maior parte dos africanos morria em consequência das condições desumanas de trabalho a que eram submetidos. A população autóctone via como os recursos do país serviam para aumentar a riqueza da potência europeia.
Novo colonialismo
Com a derrota da Alemanha na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), essa nação perdeu suas posses coloniais na África. Duas potências destacadas na opressão e na pilhagem colonial, Grã-Bretanha e França, repartiram o território camaronês.
Em 1920, o Camarões foi dividido e adjudicado como mandato da Sociedade das Nações; o ocidente foi entregue a Grã-Bretanha e a parte oriental a França. Estas duas nações acrescentaram novos territórios a seu vasto império colonial na região.
Em 1946, um ano depois do fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o país ficou sob a tutela das Nações Unidas. No entanto, as potências europeias valendo-se de argucias políticas e de seu poder recuperaram suas antigas colônias.
Mas as circunstâncias políticas no continente, incluído Camarões, tinham mudado. O surgimento do nacionalismo unificou as diferentes tendências e movimentos que lutavam pela independência.
As potências europeias que tinham combatido a escravatura que lhe prometia o nazismo hitleriano, não permitiam que os africanos se libertassem da escravatura colonial e organizaram horríveis matanças contra os lutadores camaroneses.
Mas as repressões não puderam impedir a unificação dos territórios sob domínio de Grã-Bretanha e França, e que o Camarões surgisse como país livre e soberano em 1961. Em cinco séculos, quatro metrópoles tiveram presença nessa nação. Caso único na África.
Fonte: Prensa Latina