O cidadão que luta visto como inimigo: bala de borracha
A liminar que proibia uso de balas de borracha durante manifestações, aprovada no último dia 24 de outubro, foi suspensa pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJSP). Publicada nesta quinta-feira (6), a decisão é do desembargador Ronaldo Andrade, relator do processo.
Publicado 07/11/2014 10:54

A proibição atendia a pedido da Defensoria Pública, ação que começou em abril e obteve resposta na última sexta (24). Ronaldo Andrade declarou que “Não há comprovação de abusos em profusão a justificar a intervenção judicial. O que se tem nos autos são casos isolados de violência e a tentativa policial de manter a ordem e evitar que manifestações pacíficas perdessem essa característica e se fossem tomadas pela violência”, ressaltou o relator. O que pode legitimar o uso de violência para impedir manifestações de caráter legal e justas.
O juiz Valentino Aparecido de Andrade, autor da limiar que proibia o uso das balas de borracha, criticou no documento oficial que: "o que se viu, em 2013, foi uma absoluta e total falta de preparo da Polícia Militar, que, surpreendida pelo grande número de pessoas presentes aos protestos, assim reunidas em vias públicas, não soube agir, como revelou a acentuada mudança de padrão: no início, uma inércia total, omitindo-se no controle da situação, e depois agindo com demasiado grau de violência ", declarou.
Efeitos
Por serem revestidos de borracha, os projéteis não chegam a penetrar no corpo da vítima. Porém, causam fortes dores, hematomas e cortes. Não é à toa que a distância mínima recomendada para o uso dessas munições é de 20 metros e a ordem é para que os policiais mirem apenas da cintura para baixo, o que frequentemente, não ocorre. Além disso, os projéteis podem ricochetear e, nesse caso, atingir os olhos das vítimas. Essa imprevisibilidade é a grande desvantagem desse tipo de armamento e já causou desde fraturas até o rompimento de artérias. Também existem inúmeros casos de projéteis que penetraram na cabeça, peito e abdômen das vítimas.
Jornalistas feridos por balas de borracha
Caso notório, em 2000, o fotógrafo Alexandro Wagner Oliveira da Silveira foi atingido por uma bala de borracha no olho enquanto cobria uma manifestação de professores na Avenida Paulista. À época, ele cobria o ato pelo jornal "Agora SP". O profissional perdeu 85% da visão do olho esquerdo. Em decisão judicial, ele foi considerado responsável por ter sido atingido, o que alterou a sentença anterior que condenava o Estado de São Paulo a indenizar o fotógrafo em 100 salários mínimos.
Dois casos que ganharam importância e seguiram como símbolos da luta contra a violência policial são do fotógrafo, Sérgio Andrade da Silva que foi atingido em junho de 2013, durante manifestação contra o aumento da passagem, nas chamadas "jornadas de junho". Ele cobria o protesto pela agência “Futura Press” e perdeu a visão do olho esquerdo e também não foi indenizado. Outra profissional ferida por bala de borracha foi a repórter Giuliana Vallone, do jornal “Folha de São Paulo”. Também em junho de 2013, ela foi atingida no rosto e foi internada no Hospital Sírio-Libanês. O caso foi o estopim para que a Folha passasse a apoiar as manifestações de junho em 2013.
O Sindicato dos Jornalistas repudiou a decisão da justiça.
Fonte: CTB