O retrato do Brasil na Avenida Paulista

Em mais uma contraofensiva à elite brasileira que foi às ruas no último domingo (13), milhares e milhares de pessoas, entre sindicalistas, trabalhadores e estudantes também marcaram presença na Avenida Paulista na tarde e noite de quarta-feira (16) contra o impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Organizadores disseram mais de 100 mil, DataFolha, 55 mil pessoas. Mas o certo é que vivemos uma luta de classes visível no Brasil.

Manifestação na Paulista - Foto: Eliz Brandão

O que se viu é inquietante e deveria servir de reflexão mais forte para sociólogos, empresários, autoridades brasileiras com responsabilidade, ou mesmo para a própria iniciativa privada. Não vivemos apenas uma crise política e econômica. Já vivemos quase uma crise institucional.

Claramente o país se divide. Lamentavelmente a palavra divisão não significa 50% de pessoas que podem e 50% que não podem. É uma divisão social que se refletia muito na Avenida Paulista.

Não se via babás, nem carrinhos de crianças, nem menores de 16 anos. Não se via grifes de camisas de 100 reais, nem de tênis de 400 reais, nem de relógios, nem carros de luxo. Vias-se homens e mulheres de caras marcadas, que não estavam preocupados com o preço de seus condomínios em Miami após a alta do dólar, e nem com o preço da gasolina. Estavam ali preocupados com o desempregado – e talvez com eles mesmos. Na realidade, como verdadeiros trabalhadores, sindicalizados ou não, são o motor deste país. Não podem perder seus empregos, não querem perder a perspectiva de que seus filhos darão continuidade a seus trabalhos nas indústrias. Muitos não conseguem educar seus filhos para que voem nas alturas dos estudantes que se formam tendo acesso a aprimoradas tecnologias e saber notório. Querem simplesmente que seus filhos trabalhem onde for.

Não era feriado no dia em que a Avenida Paulista reunia milhares em manifestação. Era sim dia de trabalho. E por isso mesmo, indo dos seus trabalhos direto para as ruas, eles economizavam o suado dinheiro ou o vale transporte que gastariam se fosse uma mobilização num feriado ou num fim de semana.

Vemos com preocupação a explosão que começa com essas manifestações. O país perdendo o seu grau de investimento, permitindo a fuga do capital, o crescimento negativo que significa não só o desemprego, como a deterioração das máquinas paradas… As decisões administrativas em escalões inferiores no governo também estão paradas. Funcionários, preocupados com as operações corretas da Polícia Federal e do Judiciário, temem qualquer tipo de suspeita ou envolvimento, e sequer assinam documentos. Os ministros, os presidentes de empresas públicas, sabem que suas ordens não são mais cumpridas. E as empresas privadas só têm uma preocupação: se existe caixa para desempregar e indenizar seus empregados. Por sua vez, o empregado só tem uma preocupação: como pôr comida na mesa para seus filhos, como pagar o aluguel de suas casas.

Alguns, pior do que serem desempregados – pois nesses casos podem ser indenizados – trabalham, pagam seus compromissos, mas não recebem salário. Não se demitem nem abandonam seus empregos porque não querem perder seus direitos.

Em contrapartida, o noticiário diz que o povo é obrigado a cumprir o que os homens que legislam decidem, que o povo é obrigado a obedecer o que os homens que executam decidem. E o povo vê os homens do Poder Executivo, do presente e dos passados, indiciados e alguns presos. Vê homens do Poder Legislativo, do presente e dos passados, indiciados e alguns presos. Vê os homens que empregam e tiram suor e sangue dos trabalhadores, os homens dos mais importantes setores empresariais do país, indiciados, e muitos presos. E estes empresários são sempre os mesmos, os que delinquem

Em compensação, um banqueiro foi preso.

Como se não bastasse PHDs de Harvard, e de outros grandes centros de estudos do mundo qualificados em economia, afirmam que a solução é aumentar os juros.

E os bancos, felizes, concordam.