"Deutsche Bank não é o único banco alemão em apuros"
Matéria publicada nesta sexta-feira (14) pelo The Wall Street Journal conta que o Deutsche Bank está com uma série de problemas e agrande causa seria uma multa que pode ter que pagar de 14 bilhões de dólares para encerrar um processo, nos Estados Unidos, ligado à venda de produtos lastreados em hipotecas antes da crise financeira. Há ainda uma longa lista de problemas regulatórios e a cotação de suas ações atingiu os menores níveis das últimas décadas.
Publicado 14/10/2016 19:39

Segundo reportagem do Journal as dificuldades do banco viraram uma questão política, já que o governo alemão tem ponderado se pode, ou deve, socorrer a instituição, caso necessário. A maioria dos analistas acredita que o Deustche Bank não precisa de nenhum resgate agora e, em 30 de setembro, o diretor-presidente John Cryan assegurou aos empregados que o banco atende a “todas as exigências atuais de capital e nossa reestruturação está bem engatilhada”.
O texto do WSJ cita uma pesquisa recente do instituto alemão TNS Emnid para a revista de notícias “Focus”, onde indica que 69% das pessoas ouvidas são contra qualquer ajuda estatal ao banco, com apenas 24% a favor. Questões financeiras domésticas estão aumentando a lista de preocupações da chanceler Angela Merkel, com problemas ainda maiores surgindo na Itália e na Grécia.
O jornal norte-americano destaca que o Deutsche Bank, terceiro maior banco europeu, não está sozinho. Seu concorrente de menor porte, o também alemão Commerzbank AG, anunciou planos de cortar até 20% de seus funcionários e enxugar operações. Outros grandes bancos com forte presença na área de financiamentos para o transporte marítimo estão sendo afetados pela crise do setor. Além disso, a política de juros excessivamente baixos do Banco Central Europeu vem corroendo a receita de muitos bancos de poupança comunitários e bancos cooperativos da Alemanha.
o noticiário observa que enquanto os bancos de outros países, como a Itália, enfrentam o desafio de lidar com empréstimos inadimplentes, na Alemanha o problema é mais estrutural: bancos demais brigando no mesmo espaço e nem todos com as mesmas necessidades de satisfazer os acionistas, enquanto obstáculos legislativos e políticos dificultam uma consolidação.
Além dos grandes bancos alemães de capital aberto, o cenário de banco de varejo do país também engloba instituições de poupança de capital aberto, ou Sparkassen, e bancos cooperativos, chamados Volksbanken e Raiffeisenbanken. Os chamados Landesbanken, bancos de compensação para as instituições de poupança, são bem maiores. O banco de compensação das cooperativas financeiras é o DZ Bank.
Wall Street Journal fala que esse fragmentado sistema era muito mais comum na Europa de décadas atrás, mas outros países fizeram reformas para permitir que diferentes tipos de bancos se unissem, algo que até hoje permanece politicamente complicado na Alemanha. Restrições legais impedem que bancos privados maiores, como o Deutsche Bank e o Commerzbank, comprem bancos de poupança.
Os dados amparam essa análise. Os grandes bancos franceses chegaram ao fim de 2015 com um retorno sobre o patrimônio de 6,18%, ante 4,51% dos grandes bancos alemães, segundo a firma de dados FactSet. Já o retorno sobre o patrimônio dos bancos regionais da França foi de 8,88%, comparado com 2,65% de seus pares da Alemanha.
Especialistas dizem que a Alemanha simplesmente tem mais bancos do que precisa. Os dados do BCE mostraram que, em 2014, a Alemanha tinha a menor proporção de população por banco entre as grandes economias da zona do euro, com 45.552 habitantes por instituição de crédito. Em comparação, na Espanha esse número era de 205.593.
A publicação diz que os reguladores alemães vêm exortando os bancos a estudar a possibilidade de cobrar por serviços antes gratuitos. Embora os clientes gostem de ter serviços grátis, “essas ofertas [gratuitas] não devem se sustentar no longo prazo, com a falta de fontes alternativas de receita”, disse neste ano Felix Hufeld, presidente da BaFin, agência reguladora do setor financeiro na Alemanha.