Cardozo: A palavra “golpe” irrita porque querem esconder a verdade

 Durante o lançamento do livro É Golpe, sim!, nesta segunda-feira (17), no auditório do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região (SindBancários), o ex-ministro da Justiça e advogado defensor de Dilma durante o processo de impeachment, José Eduardo Cardozo, afirmou que, apesar da elite se incomodar com a palavra, não há dúvida de que o que aconteceu no Brasil foi um golpe.

Cardozo AGU

“Não é por acaso que o emprego dessa palavra é o que mais irrita as elites conservadoras do Brasil hoje. Quando a verdade é dita, os que querem escondê-la ficam incomodados”, disse Cardozo.

Ele lembrou que o ex-advogado-geral da União, Fábio Medina Osório, abriu uma sindicância por ter utilizado a palavra “golpe” para descrever o que estava acontecendo no país. “Para eles, se tratava de uma luta política de vida ou morte. Eles pensavam que ganhariam as eleições de 2014 e, na apuração, houve um momento em que acharam que tinham vencido e nós chegamos a achar que tínhamos perdido. Mas nós acabamos vencendo. O sentimento de frustração das elites conservadoras se expressou até na imprensa naquele momento, com comentários sobre a população de determinadas regiões do país que não saberia votar.”

Cardozo enfatizou que o inconformismo com a derrota também levou a questionarem até a legitimidade da eleição, levantando suspeitas sobre o funcionamento do sistema de urnas eletrônicas. “Eles sabiam que, uma vez que Dilma tomasse posse e a crise econômica fosse superada, não voltariam ao poder tão cedo. Por essa razão, iniciaram ainda em 2014 um processo de deslegitimação da presidenta eleita.”

Segundo o ex-ministro, o golpe no Brasil ganhou uma nova roupagem, diferente dos anteriores com os militares. Ele definiu o processo vivido no país em três dimensões: parlamentar, jurídica e midiática, com destaque para o papel desempenhado pelo ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB).

“Eles precisavam de um fato de 2015 para abrir um processo de impeachment contra a presidenta Dilma. Eles não tinham nem fatos nem maioria para isso. No entanto, as investigações da Operação Lava Jato acabaram atingindo lideranças do PMDB, entre elas Eduardo Cunha, que controlava cerca de 100 deputados. Ele era um verdadeiro partido na Câmara. Quando ocorreu uma operação de busca e apreensão contra Cunha, ele veio a público dizer que estava rompendo com o governo. Quando foram descobertas as contas dele no exterior, Cunha disse que havia uma conspiração coordenada pelo governo e ameaçou abrir um processo de impeachment, caso o PT votasse a favor de sua cassação.”

Ainda de acordo com ele, Cunha sabia que precisava de um fato de 2015 para abrir o processo de impeachment e articulou, junto com a oposição, a tese das “pedaladas” e dos decretos de suplementação orçamentária que, até então, sempre foram aceitos pelo Tribunal de Contas da União (TCU). A construção dessa tese, disse Cardozo, envolveu um processo de evidente burla e desvio de poder. “No momento em que Cunha se juntou à oposição, nós perdemos a maioria na Câmara”, resumiu o ex-ministro da Justiça, que lembrou uma frase do senador Romero Jucá para definir o que aconteceria em seguida: “Temos que parar com a sangria”.

Neste contexto, José Eduardo Cardozo lembrou qual é a definição de golpe: “é a destituição de um presidente eleito sem suporte constitucional. É uma ruptura com a Constituição e com a Democracia”.

Cardozo contestou ainda o argumento de que, no processo do impeachment, teriam sido seguidos todos os ritos legais. “A expulsão de Olga Benário do Brasil para as mãos dos nazistas, chancelada pelo STF, também seguiu os chamados ritos legais”, salientou.