Lula no Irã: construir a paz, não a guerra
O anúncio, feito em Teerã, do acordo sobre o programa de pesquisa nuclear pacífico do Irã, significou uma derrota para […]
Publicado 17/05/2010 11:38
O anúncio, feito em Teerã, do acordo sobre o programa de pesquisa nuclear pacífico do Irã, significou uma derrota para diplomacia dos EUA e seus aliados mundo a fora, entre eles os setores conservadores da política brasileira e a mídia ligada a eles.
A viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Irã foi descrita com negativismo, ironizada com adjetivos que variaram da fanfarronice (diziam que Lula entrava em briga de grandes, onde nada tinha o que fazer, nem podia…) à ingenuidade (como argumentaram vários jornais, entre eles o norte-americano The New York Times, e a própria secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton).
Estavam todos errados e seu canto de guerra foi calado pela iniciativa ousada e sensata da diplomacia brasileira que buscou a paz, o entendimento e o consenso, recusando o caminho da arrogância, da ameaça e da guerra.
O acordo acertado com o Irã, em negociações que envolveram o primeiro ministro da Turquia, Recep Endorgan, o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, e a presença decisiva do presidente Lula, prevê que o Irã entregará 1.200 quilos de urânio enriquecido a 3,5% à Turquia, que devolverá ao país 120 quilos enriquecidos a 20% (procedente da Rússia e da França), sob monitoramento de organismos internacionais e fiscalização de representantes turcos e iranianos. O acordo fecha, disse o chanceler brasileiro Celso Amorim, a via de novas sanções contra o Irã, garantindo a soberania do país e a continuidade de seu programa nuclear para fins pacíficos.
A reação das grandes potências – dos EUA em particular – expõe as verdadeiras motivações de sua investida contra o Irã a pretexto de seu programa nuclear. Manifestações de ceticismo por parte da União Européia e dos EUA comprovam que o problema real são as mudanças de poder no mundo, que alteram profundamente o equilíbrio político vigente a mais de meio século e que privilegia o domínio euro-americano. O acordo ressalta a presença de um novo protagonista de peso nas relações internacionais, a diplomacia brasileira. E ela, juntamente com novos parceiros em negociações à margem da ação das grandes potências, procura caminhos para resolver as querelas internacionais com base no respeito mútuo entre as nações, no diálogo e na cooperação.
O Brasil, disse a ex-ministra Dilma Rousseff, pré-candidata à sucessão de Lula, "assumiu uma posição audaciosa, de liderança. Entrou no jogo difícil do Oriente Médio e até agora teve êxito". E o próprio Lula, autor dessa "ousadia", insistiu no caminho da soberania das nações e da busca do entendimento entre elas ao dizer, nesta manhã, no programa de rádio Café com o Presidente, que há “um milhão de razões para a gente construir a paz e não há nenhuma razão para a gente construir a guerra".
Lula tem razão: esta é a contribuição maior que a diplomacia brasileira pode trazer ao convívio internacional, e que o projeta como líder mundial na contramão dos pregoeiros da guerra. E que desmente os porta-vozes da política de ameaças encastelados nos grandes jornais brasileiros, que são ventríloquos dos centros de poder mundial, principalmente de Washington, e papagaios da mídia que, naqueles centros, reproduz as ameaças e diatribes do imperialismo.