Sempre Mulher
Nesse oito de março ergueram-se bandeiras para saudar as mulheres de todos os continentes. Na verdade cumprem as tarefas de Hércules e muitas tantas outras. Nos últimos cinqüenta anos aceleraram uma revolução nada silenciosa em busca da emancipação social
Publicado 10/03/2007 17:41
Entre as nações emergentes, pode-se declarar, pelas razões óbvias, que a empreitada tem sido bem mais renhida no mundo do trabalho assim como no profundo oceano do lar. Nada mais árduo que a persistente batalha por um lugar ao sol, o direito de passear acordadas pelas estrelas de um céu limpo de verão.
No Brasil são as balconistas, as que labutam nos verdes imensos dos canaviais dos outros, nos caixas dos supermercados, no serviço público, as operárias produzindo riquezas para os barões do capital, abelhas incansáveis produzindo o mel da nação.
Politizadas ou não, os espaços vão sendo conquistados.
São guerreiras, abrem caminhos por todos os lados e direções, assumem sustos, riscos e impávidas atropelam tempestades, raios e trovões. Inquietam e reconstroem o universo incompleto dos homens. Quando assustadas prosseguem altivas enfrentando o obscurantismo dos preconceitos masculinos arraigados, mas com os dias contados, condenados ao passado.
No oito de março, não aconteceram monumentais comemorações, como existem em datas consolidadas. Não seja por isso, andaram pelas ruas com passos agitados, atravessaram sinais de trânsito, cortaram cana, venderam pão, obturaram dentes, operaram apêndices, fizeram cálculos, analisaram processos, usaram as tribunas, construíram carros, terminaram poemas, concluíram jornais, varreram apartamentos, escreveram manifestos. Em dupla jornada, arrumaram a casa, puseram a mesa e ainda fizeram amor.
Agüentaram bêbados, encosto em ônibus, cantadas idiotas, arranjaram parceiros toleráveis, passaram batom nos lábios, desejaram, sentiram-se cobiçadas. Estão vivendo um grande amor ou separaram-se com dor, umas abandonaram aliviadas, um traste.
Sonharam com rosas, orquídeas, quem sabe um novo jeans, uma saia na vitrine, um bom almoço, pensaram no futuro da prole, a filha precisa se cuidar, viram o jornal nacional, a novela, o filme, a lista do mercado, a conta da luz, água, o problema policial, e vão em frente que a luta é braba.