Uma nova paixão: o piquira, um cavalinho marchador
Criança, sonhava com um cavalo do tamanho do jumento
Publicado 15/06/2010 20:28
Amo cavalos. Tenho um sertanejo e um mangalarga marchador, o Taj Mahal (símbolo do amor eterno), cuja pelagem lembra a cor do mármore do Taj Mahal, branco com umas sujeirinhas esparsas entre o bege e o amarelado. As cavalgadas são meu esporte, minha diversão e terapia.
A cavalo sinto como se ele fosse uma extensão do meu corpo, algo que soma liberdade e poder, signos universais da montaria, sensação que eu não sabia verbalizar até ler a crônica “Andar a cavalo X cavalgar”, do médico gaúcho Eduardo Festugato, na qual diz que “Equitar é ligar o próprio sistema nervoso ao corpo do animal, como se ele fosse extensão do próprio corpo. É comunicar-se com ele através de rédeas, bridões, bucais, cabrestos, mas também com as pernas, com a postura (posição do corpo) e o tom de voz. Para isso é indispensável entender sua linguagem, que ele manifesta através da expressão corporal”.
Ano passado fiquei apaixonada por um cavalinho, que não conhecia, chamado piquira (em tupi: pequeno cavalo), raça em formação, com criação concentrada na Bahia e Minas Gerais, de porte (altura) até no máximo 1,28 cm (fêmeas) e 1,30 cm (machos). É um cavalinho um pouco maior que o jumento nordestino, conhecido por jegue ou jerico, de altura média de 1,15 cm (fêmea) e 1,20 cm (macho); e bem maior que um pônei, de altura média de 70 cm, que não é uma raça de cavalo, pois há mais de cem raças de pôneis.
Diferentemente do pônei, com membros desproporcionais ao corpo, as proporções do piquira são equilibradas entre a altura da cernelha (parte proeminente da escápula, ou omoplata – parte entre a crina e o dorso) e o comprimento do corpo, com angulações dos membros que propiciam liberdade de movimentos ao passo, em marcha e ao galope. Pura elegância mágica!
O padrão racial piquira considera apenas a marcha e o porte, mas sua grande marca é a versatilidade no uso, pois se presta para montaria (sela), concursos de marcha, provas funcionais e demais modalidades hípicas, como o salto. Graças ao estilo dócil e temperamento calmo, é de fácil adaptação para transporte de carga, tração leve e cavalgadas, suportando bem adultos de até 80 kg. Como quero montar um piquira, tenho em mente jamais chegar aos 80 kg. Então, o piquirinha funciona bem como uma balança emocional.
O piquira é um cavalinho (ou pônei?) marchador brasileiro, para alguns um invento mineiro, resultante do cruzamento de pôneis da raça Shetland com éguas nativas de pequeno porte. Visando o porte pequeno e o andamento marchado, foram cruzadas éguas comuns de menor porte com cavalos das raças mangalarga marchador, brasileira e “cavalo pé duro” (nordestino ou sertanejo) – um tipo de cavalo e não uma raça definida, pois não apresenta características próprias permanentes.
Tive pelo piquira uma paixão ao primeiro olhar. Atrás dos porquês, encontrei em meu baú de lembranças a primeira vez que vi o que denominei de “cavalinho-jumentinho”. Era o pônei de “E o Vento Levou”. Como costuma dizer uma amiga diante de coisas impossíveis: “ai, ai”, como desejei ter um! Achava fácil montar jumento, por ser pequeno, mas não gostava da passada dele, que não é de todo confortável, algo entre o “pototó-pototó” duro e o seco. Falta a maciez da passada do cavalo. É o que acho. Quando criança, sonhava com um cavalo do tamanho de um jumento e ao ver um piquira, fiquei fascinada. Era meu sonho concretizado. E não pude deixar de pensar que um dia teria um. Eu e Maria Clara.