O legado da dama de ferro
Um recente ensaio do sociólogo italiano Franco Cassano expõe a ideologia hegemônica da atual etapa da sociedade capitalista globalizada mesmo que algumas de suas conclusões possam ser questionadas.
Publicado 15/03/2012 15:47
Segundo ele as conquistas sociais dos anos sessenta (direitos trabalhistas, consumo de massa, expansão dos direitos sociais) teriam rachado o compromisso entre o capitalismo e a democracia clássica porque revelaram um Estado "perigosamente" exposto às pressões de baixo e a máxima "um indivíduo, um voto" mostrou-se incompatível com os imperativos da rentabilidade e do lucro.
Assim, o capital global numa intensa ofensiva iniciada nos idos de 1970 implementou uma estratégia de evitar o choque frontal, esvaziando a política, redimensionado drasticamente a sua esfera e o papel do Estado nação que já não seria o de dirigir mas garantir algum grau de coesão social, de não mais cultivar projetos ambiciosos, mas apenas remendar e tampar através das políticas compensatórias.
E aí acontece uma espécie de crime perfeito: a decadência da política é atribuída aos seus protagonistas enquanto o verdadeiro poder, o capital global, goza de total liberdade de movimento, impunidade e privilégios.
Com a débâcle da União Soviética e do chamado campo socialista ao leste da Europa, essa liderança unipolar fez-se mais contundente introduzindo um novo período de expansão colonial militar sob o tacão norte-americano e inglês apesar de óbvio declínio econômico, cultural.
Possibilitando que essa contra-ofensiva neoliberal permeasse uma capilar liderança ideológica conduzida principalmente através da grande mídia hegemônica mundial onde o imaginário social assume que o essencial da vida é o sucesso total, que você pode ser o que quiser, não importa de qual maneira, mas que a coletividade é o obstáculo à sua realização individual.
A ex-primeira ministra britânica Margareth Thatcher, a "dama de ferro", cuja biografia filmada acabou de ganhar um Oscar, mãe das políticas neoliberais, dizia que "a sociedade não existe, existem apenas os indivíduos" em uma clara apologia à lei da selva, ao leviatã.
A emergência dos BRICS é um novo alento num mundo conduzido em galopante regressão à barbárie e ao desvario. Para tanto é decisiva a luta de ideias que galvanize os trabalhadores, povos e as nações em defesa de uma nova alternativa econômica, social, bem mais justa para a humanidade.