Os novos conceitos de Guerra e Paz, segundo Obama
Os povos amantes da paz enfrentam na atualidade novos desafios diante de novas estratégias do principal país responsável pelas ultimas guerras internacionais, os Estados Unidos da América – ao lado da maior articulação guerreira em operação no mundo, capitaneada pela Organização do Tratado do Atlântico Norte, a Otan. É o que muitos analistas consideram “guerras de quarta geração”.
Publicado 07/05/2014 09:24
Este tipo de guerra de hoje são criadas, num primeiro momento, pelo sistema midiático internacional – que a uma só voz – constroem uma matriz de opinião, frequentemente eivada de preconceitos de todo o tipo, para servir a interesses escusos de grandes empresas e interesses geopolíticos das grandes potências que permanecem invisíveis para a grande opinião pública mundial. O bombardeio do grande conglomerado de imprensa global procura construir uma nuvem de fumaça que impede qualquer outra versão que não seja a sua própria “revelação” do que seja a suposta “verdade dos fatos”.
Os governos que eventualmente não concordem com estes interesses internacionalizados são acusados sistematicamente de anti-povo, sejam ou não democraticamente eleitos por voto direto de suas respectivas populações. Foi o que ocorreu na intervenção no Afeganistão – o envolvimento guerreiro direto mais prolongado da história dos Estados Unidos até agora, de mais de uma década. Foi o que aconteceu abertamente no Iraque, onde contra decisões do Conselho de Segurança da ONU, os EUA invadiram o país argumentando que existiam armas de destruição em massa prontas para serem utilizadas por Saddan Hussein. Versão que se mostrou absolutamente falsa depois de o Iraque ter sido arrasado e hoje praticamente administrado por várias empresas de segurança e de energia como a Halliburton Company, multinacional com interesses nas fontes de petróleo iraquianas dirigida por Dick Chenney de 1995 a 2000 – que depois se tornou vice-presidente dos EUA de 2001 a 2009.
Já com o beneplácito do Conselho de Segurança da ONU, a Otan, os Estados Unidos, a França e a Inglaterra traçaram um plano para desestabilizar e liquidar o governo de Muammar Al- Gaddafi, na Líbia, assumindo o poder e tomando de assalto fontes de energia e outros recursos naturais líbios, além de tomarem posição estratégica na região norte da África. Neste caso particular, o comando de ataque foi dado por Barack Obama diretamente de território brasileiro quando de sua viagem ao nosso país. Diferente tratamento este sistema guerreiro deu ao Egito, por exemplo, quando um grupo de generais — que tomaram o poder de um governo legitimamente eleito pelo povo egípcio — recebe apoio de bilhões de dólares ao ano diretamente do governo americano. No mesmo estilo os atuais dirigentes da Arábia Saudita respaldados pelos estadunidenses governam seu país a ferro e fogo, contra as manifestações de descontentamento.
Já no caso recente dos ataques contra a Síria – o planejamento não foi capaz de derrubar o governo de Bashar Al Assad, legitimamente constituído. Mas praticamente todos os passos do novo tipo de guerra em curso foram dados. No trabalho escrito pelo filósofo colombiano Enrique Alfonso Rico Cifuentes, e publicado no sítio Argenpress.info – “A guerra midiática e o Golpe suave”—o primeiro passo das modernas intervenções imperialistas é o da guerra psicológica e da propaganda caluniosa contra o inimigo interno considerado; o segundo passo é a combinação deste tipo de guerra midiática com outras ações de desestabilização da ordem econômica e política do país; a terceira fase é a violência de grupos armados antigovernamentais – geralmente mercenários estrangeiros e mesmo gente cooptada localmente; todos estes fatores devem, então, numa quarta etapa servir de ante-sala da intervenção massiva de tropas estrangeiras, apoiadas pela grande mídia internacional e nacional para que a opinião pública aceite a dita intervenção como necessária para “salvar o país”, resgatar a “democracia”, as “liberdades individuais” e os “direitos humanos”. Na Síria a escalada intervencionista foi barrada pela resistência do próprio governo sírio, articulada com os apoios estratégicos da Federação Russa e da China Popular. No caso do Irã, uma poderosa estratégia diplomática foi colocada em ação para impedir a ação intervencionista americana, a custo de postergação temporária de movimentos que garantirão a independência militar do país.
No caso da Ucrânia aqueles mesmos passos de intervenção estrangeira – neste caso subvencionada pelos Estados Unidos com a ajuda de países europeus — foram dados com sucesso inicial, mas que não contavam com a reação russa apoiada em movimentos internos da Crimeia e do leste da Ucrânia, ainda em luta de resistência. Enquanto a crise ucraniana estava em andamento, Barack Obama executou sua longamente preparada viagem “pivô para a Ásia”. Este périplo asiático estava sendo executado desde a definição de que o eixo estratégico dos Estados Unidos deveria ser orientado para a contenção da Republica Popular da China, ainda na sua primeira gestão como presidente dos Estados Unidos.
No primeiro pit-stop Obama já teve que enfrentar dificuldades com o governo de Shinzo Abe, que não concorda com uma série de tópicos de uma acordo no âmbito da Parceria Transpacífica (TPP na sigla em inglês). Os dois países que representam praticamente 80% do bloco a ser formado, continuam a ter divergências em relação à produtos agrícolas e automotivos. Sem esse acordo inicial de um tratado que vem sendo costurado em segredo desde 2010, não tem como o pacto avançar com os outros possíveis integrantes: o Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Chile, México, Peru, Malásia, Brunei, Vietnã e Singapura.
Na passagem por Seul, na Coréia do Sul, a tragédia que vitimou mais de 300 pessoas em uma balsa e que provocou a queda do primeiro ministro Chung Hong-won, eram assuntos muito mais relevantes do que a visita de um presidente estadunidense. O final do tour asiático na Malásia e nas Filipinas – com as dificuldades de fechamento do acordo Trans Pacífico, não tiveram maior repercussão. O discurso final de Obama tenta dar um recado à China quando diz acreditar que “é preciso respeitar a legislação internacional, preservar a liberdade de navegação e não obstruir o comercio”. Para fechar sua viagem o presidente estadunidense faz uma ode à paz, afirmando que as disputas devem ser resolvidas com a negociação, e não por meio da intimidação e da força—forma mais do que utilizada pelos EUA para impor seu hegemonismo de qualquer maneira.
O movimento de luta pela Paz deve levar em conta esta nova configuração da guerra para que a conquista de um mundo mais solidário e cooperativo possa se tornar uma realidade. A cada denuncia da grande imprensa imperialista sobre a tentativa de desestabilização em países de destaque mundial como é o caso recente da Venezuela – onde todas aquelas tentativas de ação patrocinada por interferência estrangeira infiltrada e subliminar estão em curso no atual momento – merecem repúdio intenso do movimento progressista e popular em nosso país. Os passos em direção à intervenção aberta e direta do imperialismo têm que ser estancados logo no início do processo, antes que seu esquema de propaganda mentirosa ganhe corações e mentes desavisadas.