Livro “O golpe do capital contra o trabalho” é lançado em segunda edição
Fiquei honrado com o lançamento da segunda edição do meu livro no encerramento de um curso do Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores em Transportes Rodoviários de São Paulo, ministrado pelo valoroso Centro de Estudos Sindicais (CES) na Colônia de Férias do Sintaema em Nazaré Paulista.
Publicado 28/11/2019 19:25

Foi emocionante assistir cerca de 200 lideranças da categoria erguendo a obra, que propõe uma visão classista (ou marxista-leninista) dos acontecimentos políticos em curso no Brasil desde o golpe de 2016 que depôs Dilma Rousseff e entronizou Michel Temer no Palácio do Planalto, inaugurando o processo de restauração neoliberal, agora radicalizado pelo governo neofascista de Jair Bolsonaro.
É pobre e enganosa a leitura da conjuntura quando focada principalmente, ou exclusivamente, nas ações individuais dos seus protagonistas políticos, que no caso foram ou são meros instrumentos da operação golpista. Temer, Cunha, Aécio Neves e Gilmar Mendes estrelaram o filme, em sua abertura, mas são personagens que, embora relevantes, foram ou estão sendo devorados pelo golpe, o que é interpretado por alguns analistas superficiais como sinal de que o golpe derivou para o caos.
Gilmar Mendes foi quem impediu a posse de Lula como ministro de Lula, fato por muitos considerado fundamental na engrenagem golpista. Depois, perseguido furtivamente pelos procuradores da Lava Jato, tornou-se o mais ácido e lúcido crítico da operação, e foi graças a seu voto que Lula saiu da prisão. Mesmo a imagem sacralizada de Sergio Moro, fã (e provavelmente lacaio) da CIA, tá desmoronando como sugeriu a revista Veja, que em muito contribuiu para construir a reputação de herói nacional do “mocinho” que comandou a República de Curitiba e prendeu o ex-presidente Lula.

Caráter de classe
Forças sociais mais amplas e mais poderosas, expressas no que o livro define sinteticamente como o Capital em oposição ao Trabalho, estão por trás do golpe. Compreendem o grosso da grande burguesia brasileira, urbana e rural (os modernos latifundiários do chamado agronegócio), e sobretudo a burguesia financeira internacional, que comanda a ordem imperialista e cujos interesses orientam as políticas externas das potências capitalistas, com destaque para os EUA, que foram na realidade os regentes da orquestra golpista.
Municiaram e instruíram a Lava Jato e até o momento podem ser considerados os principais beneficiários do golpe, cujo objetivo geopolítico (que não é o menor) foi alcançado com a mudança radical da política externa. O mesmo propósito perseguido (e também alcançado) na Bolívia, Paraguai, Honduras, Equador e outros países da região. Seria ingenuidade acreditar que as semelhanças refletem uma mera coincidência.
Em contraste com a aparência de caos, o fio condutor do golpe é uma ofensiva sem fronteiras contra direitos e conquistas seculares da classe trabalhadora, que desde 2016 vem sendo imposta sem diálogo e sem escrúpulos: a reforma trabalhista, a reforma da Previdência, a MP 905, o novo regime fiscal fundado no congelamento dos investimentos públicos, as privatizações e entrega das riquezas nacionais, o estímulo aos crimes ambientais, as pregações neofascistas, o retorno da censura, a criminalização das lutas e ofensas diárias contra o que nos resta da frágil e golpeada democracia brasileira. Vê-se que, na verdade, não há caos, mas uma linha coerente de consumação do projeto que foi esboçado na “Ponte para o futuro” de Temer e nos “15 pontos” de Aécio Neves.
Os acontecimentos em curso na América Latina, com destaque para o Chile e a Bolívia, sugerem que este projeto de radical restauração neoliberal não pode ser consumado num ambiente democrático. O fundamentalismo neoliberal é a essência do golpe e confere a este um nítido caráter de classe. O impeachment de Dilma foi, com certeza, O golpe do capital contra o trabalho, como sugere o título do livro.
Reitero aqui meus agradecimentos ao conjunto da diretoria do sindicato, e em especial aos companheiros Sorriso, presidente em exercício do Sindicato, Noventa, deputado federal e presidente licenciado da entidade e Chiquinho, secretário geral; aos queridos amigos e camaradas Nailton Francisco de Souza, Zé Carlos Negrão e Cipó, às diretoras Luciana Borges, secretária da Mulher, e Kátia Rodrigues, à jornalista Márcia e ao fotógrafo Denis Glauber, autor das fotos que reproduzo aqui.