China anuncia US$ 9,2 bilhões em crédito para a América Latina

Xi Jinping recebeu Lula, Petro e Boric na abertura do Fórum China-CELAC e defendeu união dos países do Sul Global contra hegemonias e pressões protecionistas

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante foto oficial dos Chefes de Delegação. China National Convention Center II, Pequim - China

Foto: Ricardo Stuckert / PR

O presidente da China, Xi Jinping, reafirmou nesta terça-feira (13) o compromisso chinês com o Sul Global ao discursar na abertura do 4º Fórum Ministerial China-Celac, em Pequim.

O encontro marca os 10 anos da criação da plataforma de cooperação entre a China e os países da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e foi acompanhado pelos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Gabriel Boric (Chile) e Gustavo Petro (Colômbia).

Na cerimônia de abertura, Xi anunciou a concessão de uma nova linha de crédito de US$ 9,2 bilhões à região. O apoio financeiro tem como objetivo impulsionar projetos de infraestrutura, energia renovável e desenvolvimento produtivo. 

“A China apoia as nações regionais na defesa de sua soberania e independência nacional”, afirmou Xi, ressaltando que Pequim está pronta para ampliar a cooperação “em segurança, intercâmbios culturais e aplicação da lei”.

Contra hegemonias, China defende multipolaridade

Diante de um cenário global de tensões crescentes, Xi Jinping fez duras críticas às guerras tarifárias e ao protecionismo. Segundo ele, não há vencedores nesse tipo de disputa. “Bullying e hegemonia só conduzem ao isolamento”, declarou. 

O presidente também denunciou a existência de “confrontos entre blocos” e disse que é preciso salvaguardar a justiça internacional, com base no verdadeiro multilateralismo.

O fórum ministerial, que acontece no Centro Nacional de Convenções de Pequim, também formalizou a intenção da China de convidar 300 líderes de partidos da Celac nos próximos três anos para visitas institucionais ao país. 

“Desenvolvimento e revitalização são nossos direitos inerentes. Equidade e justiça são nossa aspiração comum”, disse Xi.

A iniciativa faz parte do reforço institucional da cooperação sino-latino-americana. Somente em 2024, o comércio entre a China e a região superou US$ 518 bilhões, superando a meta estabelecida dez anos antes. O total de investimentos chineses na América Latina e Caribe ultrapassou os US$ 600 bilhões.

Boric, Petro e Lula destacam parceria e criticam unilateralismo

Ao discursar na abertura, o presidente Lula destacou que a China é hoje o segundo maior parceiro comercial da Celac e um dos maiores investidores na região. 

“A parceria com a China é um elemento dinâmico para a economia regional”, afirmou. Lula reiterou sua crítica à imposição de tarifas arbitrárias e advertiu contra o risco de uma nova Guerra Fria.

Presente na abertura do fórum, o presidente do Chile, Gabriel Boric, defendeu o fortalecimento do livre-comércio e elogiou a integração regional com a China.

“O livre comércio e justo em benefício de nossos povos é o caminho para o progresso e o desenvolvimento das nações”, afirmou. Boric pediu um “salto de qualidade” na cooperação bilateral.

Já o colombiano Gustavo Petro aproveitou o palco internacional para alfinetar o governo Trump. Sem citar diretamente os EUA, lamentou que “o diálogo dentro das Américas não avance” e defendeu a diversificação das alianças. 

“O diálogo com outras regiões pode estar livre de autoritarismo e imperialismos”, disse. Petro também confirmou que a Colômbia vai assinar um memorando de adesão à Iniciativa Cinturão e Rota, com foco em geração de empregos para jovens e projetos de inteligência artificial.

Linhas de cooperação e novos desafios regionais

A 4ª Reunião Ministerial China-Celac se encerra com a adoção de uma declaração conjunta. Os temas centrais do encontro são a interconexão elétrica, as energias renováveis e a integração comercial. 

As diretrizes do fórum estão alinhadas à Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI), que visa melhorar a infraestrutura de transportes e garantir à China acesso aos principais recursos naturais da América Latina, como lítio, cobre, petróleo e terras raras.

Além da cooperação institucional e econômica, Xi Jinping defendeu o intercâmbio educacional, cultural e tecnológico. 

Segundo o presidente chinês, a unidade entre China e Celac será decisiva para “manter a paz, promover a estabilidade e garantir a prosperidade global”. O discurso marca um posicionamento estratégico claro em meio ao avanço do unilateralismo e das pressões protecionistas lideradas pelos Estados Unidos.

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