A luta contra o imperialismo deve explorar suas contradições

Em artigo publicado pelo Observatório de Imprensa e reproduzido no Vermelho em 18 de julho último, o professor Venício A. de Lima alertava para a importância de não se cair “na tentação da fácil análise das aparências conjunturais”. Dizia ele em seu texto

Peço licença ao leitor para utilizar o mesmo método de análise proposto pelo professor Venício para analisar artigos que vem sendo publicados na página WSWS – World Socialist Web Site, órgão trotsquista do portal do Comitê da Quarta Internacional (ICFI – International Committee of the Fourth International) e depois republicados no portal Rebelión. O autor em pauta é Bill Van Auken e o último de seus artigos intitula-se “Obama esboça uma política de guerra sem fim”. Logo no início do texto, Van Auken faz um alerta sobre os que se iludem achando que Obama esteja participando destas eleições de 2008 na qualidade de candidato “contra a guerra”. O que talvez o articulista tenha lido somente no dia 18/07, também no The New York Times, é que todo o dia, em torno das oito horas da manhã, cerca de trezentos analistas de política externa do senador Barack Obama se reúnem, no quartel general de campanha de Chicago, para enviar ao candidato dois e-mails: uma sinopse dos principais acontecimentos internacionais ocorridos nas 24 horas anteriores e um conjunto de questões que ele deveria observar durante as entrevistas sobre relações internacionais que ocorressem durante o dia.


 


 



A construção da nova política externa


 


 


O diário americano se refere concretamente a uma destas orientações detalhadas por sua equipe de política externa em um destes e-mails matinais para o candidato. A questão era se Obama deveria apoiar a decisão do primeiro ministro iraquiano Nuri Kamal al´Maliki de propor um calendário de retirada de tropas americanas de território iraquiano em qualquer novo tratado de segurança com os EUA. A resposta indicada pela equipe era SIM – ou “UMA GENUÌNA OPORTUNIDADE” como o próprio Obama colocou o problema ao discursar sobre política externa, no começo desta semana.


 


 


Seria bom também que o articulista do site da Quarta Internacional soubesse que nesta plêiade de assessores internacionais do candidato do Partido Democrata estão velhos conhecidos dos estudiosos da política externa dos Estados Unidos, como se compusessem um mini-Departamento de Estado – é assim que o NYT denomina este grupo. Muitos dos que compõem esta equipe fizeram parte do Governo Bill Clinton e vários outros assessores também participaram do staff montado por Hillary Clinton durante sua campanha pelo direito de ser nomeada candidata democrata. Dois deles foram chefes do Departamento de Estado, como Madeleine Albright e Warren Christopher. É claro que a maioria deles procura se diferenciar das teses proclamadas pela então candidata a candidata presidencial Hillary Clinton, especialmente no que se refere à guerra do Iraque. O pensamento dominante é do que se costuma chamar nos EUA de diplomacia do “poder suave” e de ajuda econômica que contribua para fazer avançar os interesses americanos no mundo. A equipe de Obama é chefiada por Susan E. Rice, uma secretária de Estado adjunta para assuntos do continente africano e Anthony Lake, que foi o principal assessor de segurança nacional de Bill Clinton.


 


 


Ainda segundo o NYT, faz parte desta assessoria Gregory B. Craig, um dos funcionários mais  graduados do Departamento de Estado na era Clinton, Richard J. Danzig, uma espécie de ministro da Marinha também durante o governo Clinton e Mark W. Lippert, um antigo conselheiro de Barack Obama na Comissão de Relações Exteriores do Senado. Lippert e McDonough são assalariados do comitê de relações internacionais de Obama e os outros são colaboradores, como Samantha Power, que ganhou o prêmio Pulitzer e que ficou conhecida também por ter chamado Hillary Clinton de “monstro”. Este pessoal todo está organizado em pelo menos 20 grupos temáticos sobre as mais variadas questões de política externa. Já a equipe do senador John McCain é bem menor. São 75 pessoas, mas que não estão organizadas em grupos de trabalho. Certamente o senador pelo Arizona tem plenas condições de descartar uma assessoria mais aparatosa, pois conta com a orientação permanente do Departamento de Estado, dirigido por George W. Bush.


 


 


O que importa saber é que não se pode ter ilusões sobre que tipo de política externa Barack Obama irá exercitar — se for vitorioso na eleição em novembro. No plano político, entretanto, o que acaba acontecendo é que nestas eleições para a presidência dos Estados Unidos se realizará um verdadeiro plebiscito sobre se deve (McCain) ou não (Obama) continuar a política belicista, unilateral, anti-democrática e hegemonista do Estado americano. E o resultado do pleito terá ampla repercussão, já que George Bush é considerado hoje, no planeta Terra, o maior inimigo dos povos. Se a política externa atual dos Estados Unidos permanecerá a mesma ou não dependerá da luta internacional e em cada país pela liberdade, pela democracia, pela soberania nacional e pelos direitos dos trabalhadores. Mas a condenação aos dois governos de Bush-filho estará gravada.


 


Os povos fazem sua própria experiência


 


Em vários momentos decisivos da história mundial – como foi o caso das guerras de libertação colonial dos séculos dezenove e vinte, das guerras antiimperialistas, das guerras de libertação nacional, da guerra contra o nazi-fascismo, da Guerra contra a invasão japonesa na China e na Coréia, da Guerra de libertação da Argélia, da Guerra da Coréia, da Guerra de libertação e pela unificação do Vietnã, das lutas contra o colonialismo na África e na América Latina – entre tantas outras lutas desenvolvidas pelos povos, dois grandes fatores determinaram o seu desfecho: a capacidade orgânica, militar e política de cada um desses povos em luta e a possibilidade de explorar as contradições no seio do inimigo em sua própria casa e no campo de batalha. Todos se recordam de quanto foi importante o movimento popular contra a guerra colonial na França para o final da presença militar francesa na Argélia e no Vietnã (onde a França exerceu seu poder colonial por 98 longos anos). Ainda se pode lembrar os movimentos de rua em praticamente todos os paises do mundo contra a presença americana na península vietnamita, registrados em fotos no Museu da Guerra cuidadosamente mantido na cidade de Ho Chi Minh. Hoje, o imperialismo norte-americano enfrenta dificuldades na esfera econômico-financeira, o que o faz mais onipotente e feroz em sua disputa por fontes de energia e por posições estratégicas como na tentativa de fortalecer a OTAN e de construir um escudo anti-Rússia na Europa do Leste, como na sustentação das atividades seccionistas do Dalai Lama, na China, como na reativação da Quarta Frota Naval no hemisfério sul, como na Guerra do Iraque e no Afeganistão. Assim é que o resultado das eleições de novembro nos EUA tem grande importância para a continuidade da luta dos povos, na medida em que a atual política seja condenada nas ruas e nas urnas, abrindo possibilidades não de ilusões, mas de um terreno mais propício para desenvolver a democracia, a liberdade e a soberania de cada país.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho