Candidatura Huck não interessa ao Plim-Plim

O título desse artigo seria "Crônica de uma re-renuncia", mas mesmo um gago só renuncia aquilo que tem. Resolvi, pois, tratar o tema com mais seriedade.

Ao se confirmarem as notícias, Luciano Huck não deve mesmo sair das telinhas para a foto da urna, de maneira que especularei aqui algumas razões de ordem política que creio terem sido pesadas na decisão.

Parece-me pura bobagem o argumento econômico de que o apresentador perderia dinheiro. Como é sabido e consabido, a elite agasalha muito bem os seus nesse quesito.

O principal motivo do novo refugo, já que os outros derivam dele, a meu ver é: em nada interessa à Rede Globo tal empreitada.

E por que? Simples. A Globo, sempre e em qualquer situação, é uma força política pela qual a eleição terá de passar. Seja para a busca de apoio explícito, da "neutralidade" engajada, de um armistício pontual ou da destruição de um adversário, os Marinho estarão na mesa de negociações. E com maiores margens de manobra do que teriam com um candidato com a vênus platinada carimbada na testa.

Logo, não lhes é oportuno a luz dos holofotes dos debates eleitorais e sim a sombra dos bastidores. Com Huck na parada, a Globo seria arrastada à incômoda posição de pauta eleitoral. Com todo o potencial destrutivo que isso tem.

A derrota do apresentador seria a derrota da emissora, com as consequências trágicas por ela acarretadas. Para começar, estaria trincada a imagem de toda poderosa da rede; para ficar por aqui, teria de criar as condições para repactuação com um desafeto de inquilino do Planalto.

Já a vitória do amigo do Aécio tampouco significaria a panaceia para os lados do Jardim Botânico. Oras, Huck assumiria questionado como marionete e constrangido a, cedo ou tarde, dar seu grito de independência. Daí que os DARFs não pagos estariam sob maior escrutínio público em sua gestão e não o contrário. Globo e Huck se conhecem demais. Não convém dar poder demais a quem demais te conhece.

Por fim, a vida é dura, mas a eleição de 2018 é mais. Vamos aos fatos: criou-se uma narrativa de que o eleitor quer o "novo" e faria dele o bom moço das tardes de sábado. O problema é que as pesquisas colocam o nosso heroi numa triste posição de japonês, igual e embolado a uma plêiade de candidatos mais experimentados e bem alojados em velhas e eficazes máquinas políticas. Ademais, o jovem almofadinha é conhecido de 110 em cada 100 brasileiros, o que lhe tira a muleta do desconhecimento.

2018 não é 2016, gente. O eleitor não vota pelos mesmos motivos num prefeito e no presidente da República. O chute eleitoral em uma das 5570 prefeituras não tem o mesmo valor que o voto que leva uma alma solitária a subir a rampa do Palácio.

Essa eleição vai ter dedo no olho, chute nas partes e muito mais. Acabamos de sair de um Carnaval em que, para fazer sucesso, bastava malhar um político – aliás, aguardemos quem serão os Judas do mês que vem. Ele resistiria?

Se os parágrafos acima contêm verdades, por que, diabos, a Globo, que pode vencer em acordo com qualquer candidato e se preservar, iria arriscar? Por tudo isso, certamente por muito mais até, a candidatura do marido da Angélica poderia servir aos propósitos de muita gente, menos aos da Rede Globo.

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