Cezinha: Precisa de muletas?

Sou Analista de Recursos Humanos Pleno, apresentador de eventos, pai de família, motorista, rapper, compositor e outras funções esporádicas que surgem.

Quando criança eu tinha uma muleta pequena, porém me ajudava muito no meu dia a dia, afinal, uma muleta serve para te auxiliar enquanto anda, certo? Minha muleta era tão importante que tinha até apelido “Meu tamanho”.

Para situações adversas eu sempre usava o “Meu Tamanho”, por exemplo:

Um moleque maior do que eu me colocava pra correr…ahhh eu logo dizia:

–         Só corri porque sou menor do que ele, seu eu fosse maior…..

Ou talvez, quando minha mãe pedia para eu lavar louças ou fazer algo em casa, a resposta era muito parecida:

–         Ah Mãe! Sou muito pequeno para fazer isso!

O tempo passou e descobri que eu era pequeno para algumas coisas e gigante para outras, ou seja, eu tinha uma certa habilidade para arquitetar planos para não ir a escola, enganar a professora, colocar chumbinho nas máquinas de fliperama e outra formas de levar vantagens de situações não convenientes ao meu querer.

Cresci! (não muito), porém suficiente para não precisar mais daquela muleta chata, que já havia me cansado. Sem perceber adquiri uma nova muleta. Essa chamava “tempo”. Essa eu usava com muito mais freqüência do que a antiga, pois em quase todas situações ela se fazia extremamente necessária, por exemplo:

–         Não vou visitar minha mãe, porque não tenho “tempo”.

–         Não vou à igreja, porque não tenho “tempo”.

–         Não escrevo mais músicas, porque não tenho “tempo”.

–         Não participo de ações comunitárias, porque não tenho “tempo”.

Acreditem, essa muleta era das boas! Não falhava nunca!

Pessoas costumam se aproveitar de muletas construídas por si própria em função do não fazer, ou seja, uma espécie de “fuga da realidade”. Basta surgir algo fora da sua Zona de conforto…pronto! É hora de usar todas muletas necessárias.

Como agente ativo do Hip hop, posso afirmar com muita propriedade que entre nós, há mais aleijados do que em qualquer outro lugar, pois nossas muletas são inúmeras e sempre utilizadas em prol do egocentrismo. Nós compositores, trovadores e porta-voz da periferia devemos cuidar para que algumas muletas não atrapalhem efetivamente nosso objetivo. 

Temos letras de rap ideológicas, dom da palavra, postura firme….O que mais falta?

Resp. Atitude!

Cada vez que utilizo umas das muletas que abstratamente crio, fortaleço ainda mais o meu não desenvolvimento e partindo de um pressuposto de que sou um formador de opinião, isso se torna algo muito perigoso.

A definição de muleta é: bastão, forcado ou bengala a que se apoiam os trôpegos e os coxos para andar;

Se não estamos nessas condições, não precisamos de muletas! O Hip hop precisa de guerreiros que quebre muletas no dente. “Sem massagem”. Se alguém aqui nesse país precisa de muletas, é a oposição ao nosso Movimento, pois como explicar o desenvolvimento e resgatamento de jovens sem precisar deles?

Como explicar nossa diversidade de idéias criativas e embasadas sem ao menos cursar uma faculdade? (a grande maioria)

Como explicar um cara de 29 anos, pai de familia, ex-dependente químico ocupar a mente com coisas boas, tendo um projeto de vida e vivendo no mesmo ambiente que antigamente era o antro de sua destruição?

Não precisamos de muletas!!!! Joguem fora suas muletas!!!! Queimem elas!!!!

Abaixo as muletas!!!!!

A sociedade opositora utiliza muletas contra nós e tem uma enorme fábrica delas. Não podemos ser consumidores dessas muletas, deixem isso pra eles.

Eles que precisam dar explicações e não nós, pois a partir do momento que provo que eles estão errados…isso já me torna certo!

E aí parceiro(a) você acha mesmo que ainda precisa de muletas?

Cézinha – Visão da Favela, Cufa-SP.