Combustíveis, população e governo do Mandrião: BraZil em transe

Está em construção a narrativa de que o aumento dos combustíveis é derivado diretamente do conflito europeu e, portanto, “não há o que fazer”, cabendo encontrar um “bom caminho”, que mantenha ileso essa política de preços da Petrobrás

Foto: Marcello Casal jr/Agência Brasil

Por mais que desejemos mudar a matriz energética mundial, é o petróleo que detém a primazia de ser a principal fonte energética da humanidade. E essa nova crise, derivada de um conjunto de sanções que o Eixo EUA-Otan-União Europeia impôs contra a Rússia devido à conflagração militar que esta trava com o governo ucraniano, corrobora com essa premissa. As sanções estão tendo efeitos desastrosos na economia global e o presidente do Banco Mundial, David Malpass, confirmou essa expectativa.

Aliás, e é bom que se diga, o Banco Mundial, tão reticente em ofertar créditos a países mais pobres, está enchendo as burras da Ucrânia. Já emprestaram U$ 923 milhões para “assistência social”, de um total de U$ 3 bilhões, que serão dados nos próximos meses.

E num país totalmente descontrolado, sem nenhum tipo de política econômica e com um feitor na presidência, o que temos é um quadro de completo caos econômico, agravado com a decisão da Petrobrás, hoje uma empresa mais comercial do que estatal, de aumentar de forma escandalosa os preços dos combustíveis e do gás de cozinha, desprezando a situação calamitosa em que se encontra o país, favorecendo seus acionistas, que devem estar comemorando essa política de preços, implantada no governo Temer, menos de seis meses depois do Golpe, em 2016.

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Rapidamente os articulistas econômicos correram para “proteger” a empresa das “garras” do presidente Bolsonaro, que nos últimos dias comporta-se como uma “barata tonta”, visto que o seu principal assessor, Paulo Guedes, continuar a agir como faz desde o primeiro dia de governo: não faz nada que seja contrário aos interesses do mercado. Está em construção a narrativa de que o aumento dos combustíveis é derivado diretamente do conflito europeu e, portanto, “não há o que fazer”, cabendo encontrar um “bom caminho”, que mantenha ileso essa política de preços da Petrobrás.

Não se pode mudar a política de preços, alegam esses articulistas, porque se a Petrobrás mudar essa política estará retornando ao controle estatal, o que seria catastrófico para os “interesses nacionais”, pois sujeitaria a empresa a uma política de subsídios, que provoca calafrios nos liberais de proveta ou pior, tornaria a empresa mais frágil aos “processos de corrupção”, ou seja, repete-se o mesmo discurso que foi vastamente utilizado no governo Dilma e a equação completa nos remete ao velho chavão : “a culpa é do petê”.

A saída, do ponto de vista neoliberal é simples: aumentar o Auxílio Brasil e que a população mude seu modo de vida. Que use mais o transporte público, que ande mais a pé ou de bicicleta e que se alimente menos. Simples assim. É uma solução que beira ao ridículo, mas que o bombardeio diário da mídia oligopolizada acaba introjetando na população, principalmente a mais pobre, que vive o sob o signo do “não tem jeito”, “é assim mesmo”, ou “seja, o que Deus quiser”.

Aliás, o Ministério Público já se adiantou e cobrou, do Tribunal de Contas da União (TCU) que garanta a manutenção da política de preços da Petrobrás. O subprocurador-geral do Ministério Público Federal junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), Lucas Rocha Furtado, foi o autor dessa peça patética, posto que protege o acionista, ou seja, rapidamente o MPU se posicionou a favor dos interesses dos verdadeiros donos da empresa: seus acionistas.

Foto: Marcello Casal JrAgência Brasil

Não se trata de uma declaração de guerra aos acionistas, posto que a empresa abriu seu capital para facilitar o acesso a recursos para melhorar seu parque produtivo, mas, sendo uma estatal, ela teria, como empresa que produz o “ouro negro”, de estar alinhavada com os interesses nacionais, ou seja, não se pode desconsiderar o impacto que a política de combustíveis pode causar no conjunto da economia e na sociedade como um todo.

O Brasil importa 25% da gasolina e do diesel e 30% do gás, o preço do barril de petróleo no país é vendido a U$ 30 e hoje o Barril está a U$ 120. Exporta 650 mil barris de petróleo/dia, com uma lucratividade média de U$ 90 por barril. Ora, a lógica é que esse lucro fosse revertido em investimentos para que o custo de produção caia e a empresa se torne mais rentável. Mas não é bem assim.

A Petrobras em 2021 registou um lucro líquido de U$ 19 bilhões, R$ 97,3 bilhões (com o U$ a R$ 5,12), e geração de caixa operacional de U$ 37,6 bilhões ou R$ 192,5 bi, que se refletiram em um desempenho extremamente favorável, explicado em boa medida pela aplicação da famigerada Paridade de Preço de Importação (PPI), que simplesmente repassa, sem nenhum “filtro”, as variações internacionais do preço do petróleo, ou seja, a população é “recompensada” com reajustes contínuos dos preços dos combustíveis, enquanto os acionistas soltam rojões. O total a ser pagos em dividendos é de R$ 101 bilhões, 94,7% do lucro anual, referente a 2021.

O patético presidente, por sua vez, mantém a tradicional postura mentirosa, jogando a responsabilidade para o presidente da Petrobrás, o general de pijama, Joaquim Silva e Luna, que é agraciado mensalmente com uma renda mensal de R$ 250 mil, para dirigir essa empresa comercial, pois isso que a Petrobrás, na prática, se tornou.

Enquanto a grande mídia procura relativizar os efeitos catastróficos do último reajuste de combustíveis, saudando uma “revolução nos costumes”, elogiando a cultura de comer alimentos crus; de andar a pé ou de bicicleta e, em alguns caso, rever essa “coisa horrorosa” de usar botijão de gás, enaltecendo o fogão a lenha, como uma espécie de “retorno à natureza”, a realidade que vive o pobre e o miserável se apresenta cada vez mais sombria.

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