Dilma volta. E aí?

Os que defendem a proposta de eleições presidenciais antecipadas ou mesmo aqueles que sugerem a realização de um plebiscito a respeito, estão afirmando essencialmente o seguinte: 

A presidente Dilma Rousseff, caso retorne à plenitude do seu mandato (possibilidade já considerada no meio político e nas esferas organizadas da sociedade, em razão de circunstâncias que todos conhecem), não terá condições políticas de governar, a não ser que proponha um amplo acordo envolvendo, entre outros aspectos, eleições presidenciais diretas adiantadas para este ano ou o início do próximo.

Ou seja: colocando em questão o próprio mandato antes do seu término legal, em 31 de dezembro de 2018 e, com isso, acenando à direita e ao centro-direita a possibilidade real e próxima de voltar ao governo pela via eleitoral.

Essa proposta também acena com outra possibilidade, esta mais presente e preliminar ao eventual retorno de Dilma à Presidência: ganhar, contra a tese do “impeachment”, alguns senadores que, mesmo integrando a oposição, estão incomodados com as revelações do ex-senador Sérgio Machado (que ajudou a confirmar o golpismo a presidir o processo de impedimento da presidente eleita) e o desmoralizante fracasso do governo interino de Michael Temer, que protege corruptos e avança por uma agenda descaradamente contrária aos interesses nacionais.

A proposta das presidenciais diretas já teria revertido o voto de quatro senadores. Dois outros, que votaram pelo “impeachment”, já manifestaram publicamente sua inclinação pela mudança de voto.

Assim, a tese dessas eleições diretas, ou mesmo do plebiscito, possui um valor essencialmente tático, pois seria absurdo propô-la sem que houvesse uma razão muito relevante na atual circunstância política do país. E esse valor está no que foi afirmado acima, na quase certeza de que a simples volta da presidente ao cargo para o qual foi eleita não terá capacidade de resolver ou, ao menos, mitigar a crise política que aprisiona o Brasil, tornando-a administrável.

Somente neste sentido é que a tese, a meu ver, se sustenta, o que não tem sido suficientemente abordado por blogueiros e colunistas dedicados a textos meramente propagandísticos, de intensa emulação e pouco raciocínio político. Assim, a proposta das diretas ou do plebiscito, pelo que percebo em sua proposição, não deverá correr paralela à defesa do mandato da presidente, mas integrá-la, dentro da antevisão do cenário politico de curto e médio prazos.

É claro que, como disse Garrincha, é preciso combinar com os russos. Ou seja: Dilma precisa concordar com isso, o que não fácil, pois implica uma condenação do seu segundo mandato. E também Lula e o PT, que não parecem simpáticos à ideia.

Mas, concordando com tal alternativa tática, a presidente eleita deve anunciar desde já sua disposição de leva-la à pratica, sem prejuízo de comprometer-se com o programa consagrado nas eleições de outubro de 2014, sobretudo seu capítulo sobre a política econômica.

De todo modo, é preciso não se iludir. Mesmo com o retorno de Dilma e firmado o largo acordo, que inclui a antecipação das eleições, a luta política seguirá acesa, muitas vezes ásperas, permeando todo um eventual processo eleitoral, e seguirá adiante.

O Brasil, afinal, não vive um suave, manso, bem comportado debate sobre alternativas, mas sob o tacão de um processo de luta de classes que atinge seu paroxismo no confronto entre dois projetos para o país que se excluem mutuamente.

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