É o capitalismo que está em foco na luta de idéias

Na última semana, a campanha do candidato republicano John McCain à presidência dos EUA encarregou sua candidata a vice, Sarah Palin, de atacar o candidato democrata Barack Obama do ponto de vista ideológico: “O senador Obama disse que ele quer “espalhar

Continuou a candidata que atualmente é Governadora do Estado do Alaska: “Barack Obama chama esta questão de distribuir a riqueza, Joe Biden (que é o vice de Obama) propõe aumento ‘patriótico’ de impostos, mas Joe, o encanador (como ficou mundialmente conhecido o eleitor que interpelou Obama em uma atividade de campanha)… eu penso que para ele isto mais se aproxima de socialismo.”


 


 


Este tipo de apelo ideológico não é recente durante esta campanha eleitoral americana. O acadêmico da Universidade de Harvard, Jerome R. Corsi publicou um livro que está nas listas dos mais vendidos da coluna especializada do New York Times, intitulado “The Obama Nation” (A Nação de Obama, em tradução livre), onde ele procura alinhar os argumentos para provar que Obama é um esquerdista empedernido e que promove um verdadeiro culto à personalidade em torno de sua trajetória política. Em tal livro, Corsi tenta ‘documentar’ as profundas ligações de Obama com o Islã e sua política radical, segundo o autor. Lista também seus ‘mentores socialistas e comunistas’ no período em que ele viveu no Havaí e na cidade de Chicago, seus laços com o professor William Ayers e Bernardine Dohrn – acusados de terroristas pela imprensa comercial americana.


 


 


Todo este material coletado por Jerome Corsi é o fundamento do ataque da campanha de McCain nesta fase atual do debate político, no velho estilo macartista, muito comum nos EUA da Guerra Fria, onde se via comunismo por toda a parte e quando muitos intelectuais e personalidades progressistas foram presos e condenados ou expulsos do país. Além dessas ligações supostamente socialistas e comunistas, Corsi acusa Obama e Michelle, sua esposa, de se ter filiado por 20 anos à Teologia da Libertação Negra, dirigida pelo reverendo Jeremiah Wright, inspirada por Stokley Carmichael e Malcolm X. Depois estabelece uma ligação de Obama com a história do Quênia, onde o pai dele teria apoiado um candidato socialista radical para a presidência do país. Ataca a propaganda democrata de utilizar as técnicas de culto à personalidade, quando faz uso das palavras “esperança” e “mudança”.


 


 


Por fim, a bíblia da direita utilizada por McCain acusa Obama de inexperiente, anti-guerra, contra a política externa baseada na força nuclear, defensor da diminuição do Exército, da erradicação de bombas-atômicas, e de superestimar seu poder persuasivo, como se clamar por mudanças por si só pudesse mudar o mundo e transformar a política externa dos EUA, como se a retirada das tropas americanas do Iraque não traria conseqüências desastrosas para os EUA, para o Iraque e para Israel, conclui Jerome.


 


 


Todo este debate de idéias se dá em um período de profunda crise do capitalismo a partir do centro financeiro mundial em Wall Street. A revista The Economist, que é referência teórica, econômica e financeira do sistema capitalista globalizado, na edição desta semana, estampa um texto intitulado “Capitalism at bay” ou algo como “Capitalismo em compasso de espera”, no qual defende a tese de que o resgate global com o dinheiro dos contribuintes — “é pragmático, não ideológico” – e que hoje pode ser traduzido em cerca de 3,5 trilhões de dólares considerando-se todos os recursos desembolsados pelos Governos dos Estados que participam do sistema global.


 


 


Na análise das possíveis soluções para a crise financeira, a revista The Economist, que se auto-denomina “newspaper”, se coloca absolutamente contra uma pesada regulação, que segundo ela “não poderia inocular o mundo contra futuras crises”. Explica, em seguida, que os casos recentes de crises financeiras do Japão e da Coréia do Sul ocorreram em sistemas controlados por leis altamente reguladoras. Infelizmente, conclui o editorial principal da revista, uma outra lição da história se impõe: “Em política, nem sempre a razão econômica é a que prevalece, especialmente quando o melhor cenário que se pode esperar desta crise é uma curta recessão”. Ao final, o texto constata que o capitalismo está neste compasso de espera, mas conclama aos que acreditam no sistema que lutem em defesa do capitalismo. Segundo a revista, trata-se do melhor sistema econômico que o homem jamais inventou.


 


 


O que está em jogo, portanto, neste grande debate ideológico é o que revelam pesquisas recentes aplicadas aos dois grandes eleitorados em luta nesta campanha eleitoral. Os republicanos de McCain aparecem como mais apegados à religião e a posturas moralistas, aos temas ligados à força militar e segurança e à disposição do país a enfrentar outros povos e fazer inimigos, enquanto os apoiadores de Obama se colocam a favor da diplomacia e os direitos civis, querem a separação entre a política e a religião e vêem a afirmação nacional relacionada à idéia de justiça. O socialismo, como ideologia, aparece como instrumento de uma propaganda que procura açular o medo do eleitor médio americano, que ainda sofre a influência do período da Guerra Fria e do conservadorismo predominante no ambiente cultural e político nos EUA.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho