Fortalecimento da nação e a luta anti-imperialista

O capitalismo não conseguiu resolver os problemas da humanidade – isso é fato. Então a necessidade histórica do Socialismo é mais forte hoje no mundo. Entretanto, a correlação de forças que resultou do fim do bloco socialista não permite a sua realização a curto ou médio prazo. No curso da luta política devemos ter essa premissa básica bem presente para não construirmos uma perspectiva Socialista baseada num “castelo de cartas”.

A disputa pelo poder político depende de um longo processo histórico e é resultado de uma conjugação dialética de dois fatores: da correlação de forças em nível mundial e da realidade de cada país, ou seja, é da síntese da conjuntura internacional com as particularidades nacionais que dependerá o rumo da luta pelo poder político em disputa em cada país.

A correlação de forças em nível mundial não é favorável ao avanço da luta em prol do Socialismo. Embora exista uma ascensão da luta dos povos, principalmente na América Latina, a correlação de forças ainda é desfavorável para aqueles que lutam pelo Socialismo. A queda do bloco Socialista, que tinha à frente a União Soviética, deu início a um período conservador e contrarrevolucionário.

Não é novidade que o capitalismo engendra contradições que não podem ser superadas dentro de seus próprios limites: a contradição entre o capital e o trabalho, o Socialismo e o capitalismo, das potências imperialistas entre si e dos países imperialistas e as nações dependentes.

Dependendo do momento histórico essas contradições ganham dimensões diferentes na luta política, senão vejamos. Quando do surgimento do bloco socialista as contradições que se colocavam no centro do debate político eram Socialismo versus capitalismo e trabalho versus capital. Não quero dizer que as demais contradições tinham desaparecido, ao contrario, continuavam e faziam parte da realidade do capitalismo, entretanto, não tinham a mesma força no xadrez da luta política. A disputa interimperialista é um grande exemplo. Por óbvio que os países imperialistas tinham diferenças, interesses econômicos divergentes, mas devido à existência de um inimigo fortíssimo – o bloco socialista – as potencias imperialistas tendiam a colocar seus problemas internos em segundo plano e buscavam unir-se para derrotar o inimigo comum.

Então, se as contradições mais evidentes no capitalismo naquele período eram entre o Socialismo e capitalismo e entre trabalho e capital, as forças políticas que buscavam construir o Socialismo precisavam montar suas táticas partindo dessa realidade. A luta nacional não era o grande mote político, pois não era essa contradição que saltava aos olhos na conjuntura de então. A defesa do Socialismo era a bandeira mais adequada dentro daquela realidade política, porquanto era a contradição mais evidente naquele momento histórico.

E agora, com a nova realidade que se instaurou no mundo com a queda do bloco socialista, será que as contradições mais evidentes do capitalismo são as mesmas? Para responder a essa pergunta devemos – como dizia Lenin – fazer uma análise concreta da realidade concreta. Há que se perquirir a realidade concreta, desvendar quais são os aspectos mais importantes na luta política contemporânea, pois uma transformação tão drástica na realidade mundial como a queda do bloco socialista não deixaria de realizar mudanças profundas na realidade mundial – não entender isso é uma infantilidade política.

Com a queda do bloco socialista a balança da luta política se inverteu; as contradições mais evidentes no capitalismo são outras. Uma das contradições que ganhou mais evidência na atualidade é a disputa entre as potências imperialistas. Sem um inimigo forte – que represente um contraponto em grande parte do mundo – as divergências entre os países imperialistas afloraram-se e sem um motivo forte que justifique um acordo interno, os países imperialistas tendem a levar seus interesses até as últimas conseqüências buscando uma nova divisão das riquezas entre as superpotências.

Outro antagonismo que ganhou relevância na atual quadra histórica é a contradição entre o imperialismo e as nações dependentes. O imperialismo não precisa mais fazer concessões às nações periféricas, ao contrário, o imperialismo tende a exacerbar seu caráter explorador, pois não tem mais motivos para segurar seus desejos de dominação. Soma-se a isso o caráter desigual do desenvolvimento do capitalismo que não deixa muita perspectiva para uma nação se desenvolver de forma digna sem afrontar os interesses do capitalismo central.

Então, ao elaborarmos nossa tática – partindo do pressuposto que nossa estratégia já está definida, ou seja, a transição para o socialismo – necessariamente precisamos levar em conta essa realidade se não queremos abrir mão do materialismo histórico e dialético.

Então, se a contradição entre capital e trabalho e entre socialismo e capitalismo estão em segundo plano no jogo político – volto a esclarecer que não defendo que essas contradições não existem mais no capitalismo, mas estão em segundo plano na luta política – e as contradições interimperialistas e entre o imperialismo e as nações em desenvolvimento ganham mais evidência na atual quadra histórica, necessariamente nossa tática deve expressar essa realidade.

Se todos concordam que a queda do bloco socialista gerou um período desfavorável à luta socialista, hão de concordar, também, que não podemos ter como fator aglutinador a bandeira do Socialismo. Precisamos ter um fator aglutinador mais forte, que esteja posto no atual embate político e que se entrelace com a perspectiva Socialista. Não podemos inventar lutas, devemos fazer a luta que a realidade nos apresenta, colocando-a em um patamar mais elevado.

Destarte, entendo que os fatores que se apresentam com maior força na atual quadra histórica é o caráter antiimperialista e nacional das lutas a serem travadas. Para construir uma alternativa ao capitalismo devemos dar um caráter antiimperialista a todas as lutas que realizamos e devemos, de forma conjunta, buscar o fortalecimento da nação como forma de superarmos nossos entraves econômico-sociais históricos; não podemos, contudo, perder o rumo socialista do nosso horizonte político.

A luta antiimperialista – como desdobramento da realidade em nível mundial – torna-se de vital importância para desenvolvermos uma perspectiva de mudança em nosso País. Outro fator importante para os desdobramentos da luta política é a questão nacional. A defesa da nação – e seus desdobramentos – adquire caráter estratégico para as forças políticas que buscam o avanço social em nosso País. O desenvolvimento econômico-social do Brasil – tendo por princípio a soberania nacional, a redução das desigualdades regionais, a democratização do Estado e a criação de políticas públicas de inclusão social dos segmentos historicamente excluídos – vai de encontro aos interesses do imperialismo.

A importância da questão nacional não é estranha aos Comunistas, Lenin já defendia a sua importância e foi enfático, em sua Obra “Esquerdismo Doença Infantil do Comunismo”, ao dizer:

“Enquanto subsistam diferenças nacionais e regionais entre os povos e os países, e essas diferenças subsistirão inclusive muito depois da instauração universal do poder do proletariado, a realidade da tática internacional do movimento operário comunista de todos os países não exigirá a supressão das variedades nem a superação das particularidades nacionais, coisa que na atualidade é um sonho absurdo, mas uma aplicação dos princípios fundamentais do comunismo, que modifiquem acertadamente estes princípios, em seu detalhe, que os adaptem, que os apliquem acertadamente às particularidades nacionais e nacionais-regionais, investigar, estudar, descobrir, adivinhar, captar o que há de particular e especifico do ponto de vista nacional”.

Ao combater o imperialismo e fortalecer a nação estaremos enfrentando as mais evidentes contradições do capitalismo na atualidade; estaremos, portanto, edificando o caminho brasileiro rumo ao Socialismo. Não cansamos de repetir que o Brasil é um país cheio de potencialidades, seja por seu povo, por sua biodiversidade, por seu território, por sua posição geográfica, entre outras. Então, o que está posto é que ao concretizarmos as potencialidades do Brasil, como nação soberana, democrática e responsável por seu povo, estaremos construindo o Socialismo em nossa terra.

Nação forte e soberana é o caminho. Não estamos abandonando a luta pelo Socialismo, ao contrário, estamos adequando essa luta à realidade imposta pela conjuntura mundial e às particularidades do Brasil, tornando efetivamente concreta a edificação dos caminhos para o Socialismo em nosso País e não apenas que essa palavra (Socialismo) seja uma mera palavra de ordem repetida só em nossos círculos e não tenha efetividade na vida.

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