Helder, o Dom da Justiça

“Quando dou pão aos pobres me chamam de santo, quando pergunto as causas da pobreza, me chamam de comunista”. (Helder Câmara)


 

No final de 1973 estive pela primeira vez em Recife. Em pleno regime militar tive a oportunidade de manter contato com personalidades importantes na luta pelas liberdades democráticas em nosso país. Entre elas, Marcos Freire, um político progressista do MDB e Dom Helder Câmara, Arcebispo de Olinda e Recife.


 


 


Helder Câmara – o Dom – como era chamado, já havia se transformado num mito para aqueles que desejavam ver o país livre da ditadura e da influência nefasta do imperialismo estadunidense. Dotado de uma coragem excepcional, Dom Helder denunciava constantemente as injustiças cometidas contra os pobres e oprimidos. Levava uma vida muito simples, procurando sempre ter atitudes que o identificassem com os homens e mulheres das classes dominadas. A repressão  não lhe dava trégua, tentando sempre impedi-lo de continuar denunciando as arbitrariedades cometidas contra aqueles que lutavam contra a ditadura.


 


No momento em que o conheci, Dom Helder já havia recebido duros golpes da ditadura militar. No início de 1969, com o AI-5 decretado, recebemos na residência do meu sogro e da minha sogra, um assessor especial de Dom Helder, o Padre Henrique Pereira Neto. Batista Lemos, atual Secretário Sindical Nacional do PCdoB e Diretor de Relações Internacionais da CTB, estava entre aqueles que recepcionaram Padre Henrique. Padre Henrique era jovem, dotado de um grande dinamismo e de uma capacidade de luta que o credenciavam a ser um dos principais assessores de Dom Helder. No dia 27 de maio de 1969, após ter sido preso e torturado, Padre Henrique foi brutalmente assassinado. Outros assessores e auxiliares da Arquidiocese, dirigida por Dom Helder, foram também submetidos a prisões e torturas. Não podendo torturar e assassinar o Dom, em função da repercussão extremamente negativa que haveria no Brasil e no exterior, os órgãos da repressão dirigiam seu alvo diretamente para os assessores e auxiliares , com a intenção clara de fazer calar a voz poderosa de D. Helder.


 


Mas, todos esses ataques brutais da ditadura, foram em vão. Logo após o assassinato de Padre Henrique, Dom Helder condenou o fato. Um ano após, mais precisamente no dia 26 de maio de 1970, Dom Helder produz um vigoroso pronunciamento em Paris, com repercussão internacional, condenando firmemente a prática de torturas a presos políticos no Brasil. Em 1972, foi lembrado para receber o Prêmio Nobel da Paz, mas o regime militar abortou esta justíssima homenagem, divulgando um dossiê na Europa alegando tratar-se de um comunista.


 


Nasceu em Fortaleza, Ceará, em 7 de fevereiro de 1909. Filho de um guarda-livros e de uma professora e teve 13 irmãos, sendo que 5 deles faleceram no prazo de um mês, vitimados por uma epidemia de difteria em 1905. Faleceu em 27 de agosto de 1999. O Senador Inácio Arruda ( PCdoB-CE) autor da proposta no Senado Federal da realização de uma Sessão Especial para reverenciar o centenário de seu nascimento em 7 de fevereiro de 2009, afirmou com muita ênfase que a honra de “ingressar nas fileiras do Partido Comunista do Brasil, Dom Helder não nos deu mas, pela sua conduta que nunca absorveu a subordinação e a bajulação dos poderosos, tem lugar assegurado entre os que se destacam na edificação de uma sociedade justa e igualitária”.


 


Foi o próprio D.Helder que afirmou: “Quando dou pão aos pobres me chamam de santo, quando pergunto as causas da pobreza, me chamam de comunista”.

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