Hip-Hop na escola
Nos primeiro meses do ano estive por varias vezes na escola do meu filho. Mas não foi pra acompanhar o andamento dele na escola, mas pra assinar as incansáveis advertências dele, e o motivo delas? Queixas de mau comportamento e sua falta de interesse! Percebi também que ele não era o único, assim como meu filho outros também acompanham o mesmo andamento.
Publicado 31/07/2009 12:30
Eles não entendem o porque da escola em suas vidas, senti a necessidade de demonstrar, que o momento de aprendizado escolar era importante não só para ele aprender a ler, escrever e fazer as quatro operações básicas, mas por que este processo escolar faz parte da formação social dele.
O difícil foi fazer trazer até ele a conexão entre o mundão da rua, que é mais atrativo, com a escola.
Pois então, usei com ele o exemplo dos quatros elementos do hip-hop; o graffiti pra ser bem executado o artista deve conhecer de cores, o que é cores quentes, frias, primarias, secundarias, como misturar cores e para isso serve as aulas de educação artística. Um bom DJ deve conhecer de tempo, compasso, velocidade do som, o que é analógico, o que é digital para isso serve a matemática e a física. Um bom rapper deve ter boa leitura, saber o que é verso, prosa, ter boa interpretação de texto, conhecer do tema que esta retratando na letra do rap, por isso a importância das aulas de português e historia.
Depois desse primeiro passo comecei a buscar no dia a dia, coisas que aflorasse este entendimento até ele, e é claro nesta hora todos a sua volta devem ajudar. A professora mudou ele de lugar na sala, pois desde a minha época até hoje a turma do fundão ainda existe, sua avó lhe deu de presente um DVD de curso de DJ, é o que ele gosta, levei ele num batalha de B.Boys onde o DJ Dan Dan tocava e pedi ao Dan pra lhe dar uns conselhos, uma palavra de incentivo dos ídolos sempre ajuda.
Acreditem! Nos últimos 30 dias meu filho tem se mostrado mais dispostos e interessado, e eu continuo a dizer a ele o “Estudo é o Escudo” e “cada informação que chega, é uma nova munição pro guerreiro”.
Todos este acontecimentos me levaram a desenvolver um projeto em parceria com os pontos de culturas Hip-Hop a Lápis de São Paulo e Projeto Aprender de Ribeirão Pires chamado Hip-Hop na Escola – “Da Teoria a Pratica”. O projeto foi contemplado no edital Ponto a Ponto do Ministério da Cultura, fui até a Secretaria Regional de Ensino do ABC em Mauá, e através da Direção responsável a Profª Marilena Secon e a Secretaria de Educação do Município a Profª Rosi Ribeiro consegui apresentar a proposta para as escolas aqui de Ribeirão Pires, que acolheram a idéia e entre os dias 15 e 20 de Junho de 2009, levamos atividades para as Escolas que abriram suas portas para o movimento.
Convoquei um time de artilheiros para segurar a responsa comigo; no Graffiti chega Thiago Vaz, no Breaking B.Boy Chris, no rap eu Beto Teoria e o Mano Mochila, nas Pick-up’s DJ Beto Aliado e DJ Oicram e é claro que no moio tem que ter tempero e pra garantir a estrutura, chega Zuripa e Neurus na produção e o mano Alex, motorista da Kombi.
Dia 15 – 1º Dia
Escola Pastana Menato no Bairro de Santa Luzia lá mora um truta o Marcelo “Fedo” que corre com os manos da Familia Brooklyn Sul pedi pra ele chega e representa a quebrada, pra este dia nosso convidado da noite é Markão II DMN e as 8:30 os alunos descem aos pátio e a atividade se inicia. A cada explicação de um elemento chega um artista pra representa na prática. No break, no rap, nas pick-up’s, e o graffiti segue no flip chart retratando em tempo real o que está rolando.
Pra encerrar a noite chega Markão II “Qué passa de ano tiú, vêm cum nois”, fez questão de dizer aos alunos presentes.
– Temos que lutar pra vencer chegar lá na paulista (reduto de concentração do poderio capitalista) e mostrar a eles que podemos vencer, entrar na loja pedir um produto ou um café no “Frans” pagar olhando no olho do dono sem se sentir menor que ele. Mas pra isso tem que ter informação e conhecimento pra se fortalecer.”
Dia 16 – 2º Dia (rodada dupla)
Na Manhã Escola Dom José Gaspar, seguimos o mesmo roteiro com a equipe de artistas cada um na sua função desenvolvendo o workshop, Destaque pro DJ Oicram que chega de Mauá pra se somar a equipe. Nosso convidado é Marcelo Buraco, com a fala mansa e objetiva da um toque pra molecada, sobre o mundo da informação e salienta.
– Vocês assistem a novela das oito certo!? mas até hoje não fiquei sabendo de um capitulo que falasse de Ghandi personagem que revolucionou aquele país. Portanto sejam críticos e observadores das informações que levam até vocês.
A Noite fomos para a Escola Judith Ferreira no Bairro 4 Divisão, quebrada do DJ Beto Aliado ex aluno da escola e tal. Tivemos total apoio da Direção e coordenação escolar. A participação dos alunos foi garantida no pátio, pra somar chegou o “gordão” negooo D.B.S. O mano falou um pouco da caminhada pra chegar até o sucesso de hoje, desde o apoio que teve da Família RZO até mesmo a opção que teve de fazer, deixar o emprego no banco para correr pelo rap.
Esta escola é a única da região que não pega nenhum sinal de celular, Toni C. estava presente e frisou “Aqui sinal de celular num chega, mas o rap chegou, tá presente mais uma vez na linha de frente”. Ao final atendendo aos apelos dos alunos DBS fez um trecho do som “Qui nem judeu”
Dia 17 – 3º Dia
Escola Farid Eid no Jardim Caçula, a equipe segue seu trampo e pra somar cola Mano Axé – Império Z.O.
O mano fala das oportunidades que faltam para o nosso povo e que por isso é preciso estar preparados para aproveitá-las quando vier. Ele citou seu parceiro de grupo que ficou privado da liberdade por algum tempo e hoje ta firmão correndo pelo rap e eles se conheceram numa troca de idéia no trem.
Dia 18 – 4º Dia
Escola Álvaro de Souza – Vila Gomes, alem do workshop apresentado pela equipe de trabalho, tivemos a apresentação dos alunos do b.boy Chris que estão no Ponto de Cultura Aprender, para engrandecer chega Dani Voguel (Sampa Crew) e b.boy Kokada (Tsunami Crew). Representando as minas Dani Voguel fala do orgulho de estar presente na cultura hip-hop e convoca a participação das minas.
– Podemos participar e atuar sem deixar nosso charme de lado” Kokada b.boy que começou na São Bento (berço do break) relatou: – Antes éramos discriminados pela opção ao hip-hop, hoje estar aqui na escola é uma conquista.
Dani Voguel com sua bela voz fez um trecho da musica “Ninguém” e depois carinhosamente atendeu a todos com fotos e autógrafos.
Dia 19 – 5º Dia (Rodada Dupla)
Pela Manha Escola Estadual Mario Leandro, Uma expectativa a mais, pois os alunos do b.boy Chris do Ponto de Cultura Aprender são estudantes de lá e todos aguardavam ansiosos para se apresentarem. A escola autorizou a participação da comunidade e foi legal ver os pais de alunos presentes acompanhando nossa ação, e pra somar chega Nuno Mendes 105 FM, e ele destaca: – Estamos aqui pra contribuir com a comunidade e levar informação, seja através do Radio,Televisão ou do hip-hop, alguns desinformados dizem que o rap, é violento, faz apologia ao crime, mas o único crime que a gente comete é levar informação e consciência através das ferramentas do rap, do break, do graffiti e do DJ.
A Tarde para encerrar o circuito nas escolas, seguimos até a Escola Marli Raia Reis, um grupo de alunos do ensino fundamental nos aguardavam. Impressionou a todos da equipe o comportamento dos alunos, todos muito participativos e com uma atenção incrível em tudo que falávamos.
Da zona norte de São Paulo veio acompanhar a atividade a b.girl Ingrid para conhecer e registrar a ação deste coletivo de hip-hop. Para somar chega TOTA grafitti, durante a atividade ele foi ilustrando tudo o que aconteceu, e por fim mostrou algumas fotos de trabalhos como a pintura de um prédio de 4 andares feito na Zona Leste de Sampa. Em sua fala foi bem direto: – Não podemos nos iludir pela idéia de vida fácil, luxo e fama que a televisão e outros meios pregam. Pra vencer tem que trabalhar e estudar mesmo, acordar cedo e correr atrás só assim seremos abençoados, e temos que nos valorizar também sem falsa modéstia. Se você é bom no que faz, erga a cabeça e diga “eu sou bom mesmo, eu venci!”.
Dia 20 – Sábado Teatro Municipal Atividade de Encerramento
Desta vez não tinha nenhuma apresentação erudita ou peça de teatro global. Era a Nação Hip-Hop Brasil celebrando o encerramento de um grande feito, na mesa solene a Secretaria de Educação da cidade e representantes das Escolas participantes, e no palco MC’s, B.boys grafiteiros e DJ’s para receberem o certificado de mérito cultural pela contribuição cultural e educacional de deram durante todo o projeto.
Num entendeu a grandeza da ação então saca só!
É como se um grupo de sindicalistas chegasse na porta da fabrica e gritassem “Parem as Máquinas” e do Diretor ao Ajudante todos se reunisse para ouvir o que se tem a dizer, pois éh! Fizemos isso. Mas foram nas escolas, do diretor aos alunos o pátio das escolas serviu de ponto de encontro para troca de informação e conhecimento entre os manos, os estudantes e educadores.
Fica aqui também meu registro de protesto, a Escola Senador Casemiro da Rocha, escola que estudei minha vida inteira, aonde meu filho estuda atualmente e aonde surgiu o Grupo Teoria em 1993, o primeiro grupo de hip-hop da cidade de Ribeirão Pires. Foi à única escola que não aceitou receber o projeto. Talvez esta unidade escolar ainda não entendeu que através do eu, ele é que surge o nós.
“Ontem eu era aluno, hoje sou professor!”
Formado pela Faculdade Hip Hop Cultura de Rua.
Beto Teoria é rapper e produtor cultural, membro da Nação Hip-Hop Brasil e da equipe do Ponto de Cultura Hip-Hop a Lápis.
É Tudo Nosso! O Hip-Hop Fazendo História. Parte 10 – Ceará