Lições sobre o fator petróleo

A valorização do câmbio vem preocupando parte do governo brasileiro. Tanto é que o Ministério da Fazenda iniciou estudos para tentar compreender as causas que permitiram o real se tornar umas das moedas que mais se valorizaram nos últimos anos. Conclusões

Não resta dúvida de que a questão da valorização do câmbio é assunto de grande pertinência. Basta lembrar que durante os anos 1990, países que utilizaram políticas contraproducentes que permitiram atrasos cambiais foram alvos de ataques especulativos e crises financeiras. E, no Brasil a valorização do câmbio tem sido maior que o aumento da produtividade da indústria.


 



Mas na realidade o tema me veio à mente em razão do descobrimento da mega-reserva de petróleo do Tupi. A descoberta da Petrobrás pode trazer benefícios incalculáveis ao país. No entanto, há de se adotar algumas precauções para que o petróleo não se torne um entrave ao desenvolvimento da nação e, além disso, que os benefícios não sejam apropriados por parcela diminuta da sociedade.


 



Sobre este assunto o cientista social Albert Hirschman escreveu o ensaio, “Sobre a Economia Política do Desenvolvimento Latino-Americano” sobre o qual vale à pena refletir (1). No ensaio o autor lembra que após a Segunda Guerra Mundial o desenvolvimento econômico do México seguiu uma trajetória bastante estável. O câmbio permanecia equilibrado desde os anos 1950 e o país avançava no processo de industrialização com razoável sucesso. No final da década de 1960 e início da de 1970 foram descobertos no México imensos campos petrolíferos. Já a partir de 1975 a produção aumenta velozmente transformando o México num importante produtor e exportador de petróleo. Logo, o petróleo se transformou no seu principal produto de exportação. As divisas adquiridas com a exportação somadas a facilidade de obter empréstimos externos permitiu que a moeda mexicana rapidamente se valorizasse.


 



O fascínio com o petróleo e a valorização da moeda mexicana fez com que os investimentos nos setores exportadores se tornassem escassos (2). Com isso, as importações mexicanas não só acompanharam o aumento da capacidade exportadora mexicana como chegaram a ultrapassá-la. Isto ocorreu devido à recusa do governo em desvalorizar o câmbio ou a restringir as importações por meio de algum controle administrativo. Em contraste com a experiência antecedente, como bem coloca Hirschman, “as importações passaram a compor uma porção cada vez mais substancial da oferta interna total, para bens de consumo, de capital e intermediários”. Em 1981 o déficit em transações correntes como porcentagem do PIB alcançou 6,1%.


 



A questão é que chegou o momento em que os investidores perceberam que a desvalorização do câmbio era inevitável e iniciaram uma corrida contra a moeda mexicana. O ápice da tragédia ocorreu em 18 de agosto de 1982 quando o governo mexicano avisou que entraria em moratória. O anúncio pegou de surpresa porque o México, justamente por ser exportador de petróleo, era considerado devedor de baixo risco.


 



A questão é que o fator petróleo criou a fantasia de que o sistema financeiro internacional estaria sempre disposto a fornecer crédito ao México. Essa ilusão permitiu que a política cambial pudesse ser levada de forma inconseqüente durante alguns anos, mas nunca eternamente. De fato, faltou visão estratégica por parte do governo mexicano, este não soube aproveitar as novas oportunidades abertas com a descoberta do petróleo.


 



Ainda é cedo para dimensionar os benefícios da descoberta do poço de Tupi. Não há como ter uma noção exata dos esforços tecnológicos necessários para a produção.


 


De qualquer forma são grandes as possibilidades da descoberta colocar o Brasil em um novo patamar geopolítico. É um excelente momento para refletir em exemplos como o mexicano.


 


Bibliografia


 


(1) HIRSCHMAN, Albert (1996). Sobre a economia política do desenvolvimento latino-americano. In: Auto-subversão: teorias consagradas em cheque. São Paulo: Cia das letras.


 



(2) Com exceção da indústria automotriz e da indústria petroquímica. Cf.MORENO-BRID, Juan Carlos e ROS, Jaime (2004). “México: las reformas del mercado desde una perspectiva histórica”. Revista de la Cepal, nº. 84 dez. Santiago do Chile.

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