Não fomos a nocaute

Ouço de alguns, nesses dias tormentosos, que tudo está perdido, que as cartas estão marcadas no Senado e já se deve contar, inapelavelmente, com a consumação do impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Não duvido da sinceridade e das boas intenções desses aflitos companheiros do campo democrático e progressistas e que perfilaram na luta contra o golpe do impeachment. Mas vejo-os equivocados.

É verdade que recebemos muitos e poderosos golpes ao longo da ofensiva política desse consórcio golpista parlamentar-jurídico-policial-midiático contra o mandato da presidente Dilma. Mas ainda não fomos a nocaute. Não acho, portanto, que devamos jogar a toalha antes do final do combate.

Michael Temer inicia um governo interino sob o estigma da traição e do golpe, com baixíssima – quase nula – aprovação popular, criando arestas entre os próprios golpistas pela impossibilidade de atender a todos os reclamos do fisiologismo, compondo um ministério de medíocres, um terço do qual de envolvidos em denúncias – e alguns em processos – de corrupção e, além do mais, um ministério sem mulheres e negros, maiorias no Brasil. Cresce a reprovação internacional do golpe.

Desde que Temer assumiu interinamente, ministros vêm anunciando um cardápio de medidas – ou intenções – antipopulares e antidemocráticas. Configura-se o retrocesso político, social e econômico, rechaçado por setores cada vez mais amplos da sociedade brasileira, mesmo entre boa parte dos que saíram às ruas pelo impeachment.

As desastrosas circunstâncias em que está mergulhado o governicho Temer fazem crescer ainda mais a repulsa popular e impulsionam a luta democrática, que também conta com um acentuado protagonismo da presidente Dilma e o decisivo trabalho de corpo-a-corpo com os senadores. Tudo isso prenuncia, no processo de impeachment, eventuais surpresas para os que vêm sendo atacados pelo pessimismo.

Há um conjunto de senadores ainda em dúvida quanto a aprovar ou não o impeachment, agora objeto específico do exame do Senador. Não são muitos, mas existem. Votaram pela admissibilidade e nesta fase deverão conhecer mais à fundo as razões alegadas contra a presidente para além da discurseira que se ouviu até agora. Alguns poderão definir-se contrários à medida. Seus motivos são variados, vão do mais rasteiro fisiologismo (os contrariados por Temer em seus interesses, por exemplo) até à sincera consciência de que o impedimento só vale com crime de responsabilidade que não restará demonstrado.

Bastam três deles – votando contra o impeachment ou mesmo se abstendo ou faltando à sessão final – para que os golpistas não consigam os votos necessários e a presidente retorna ao cargo.

Assim, não se dar o golpe como favas contadas. Não fomos a nocaute. Não devemos, portanto, jogar a toalha. A luta, agora, é mais do que essencial.

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