Navegue

Quem você ama? Guarde dentro de um porta-jóias, tranque, perca a chave!

Há dias em que, quando o vírus da desesperança tenta se apossar de mim, busco refúgio e energias na poesia, que para mim é um colo, um lugar de consolo, de esperança e de renovação de energia. Compartilho os versos de “Navegue” e os ofereço à minha filha Débora Cristina, que hoje aniversaria, tão longe, lá nos pampas gaúchos.


 


 
Dizem serem versos da marca Fernando Pessoa. Não sei. Até tentei descobrir. Em vão. É que Fernando Pessoa, assim como Minas, são muitos, pois usou vários heterônimos, todos fascinantes. Os principais são: Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos.


 


 


Durante a 3ª Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e Formas Correlatas de Intolerância, em Durban, África do Sul (2001), participei de uma homenagem a Fernando Pessoa, feita pela CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné- Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe).


 



Fazia um sol causticante na praça Fernando Pessoa, quando foi lida a poesia que ora compartilho. Em Durban, quando se trata de Fernando Pessoa, as pessoas param em reverência. Há poetas que são patrimônios da humanidade. Durban tem algo especial com Fernando Pessoa, nascido em Lisboa ( 13.6.1888), que considerava a África do Sul uma de suas pátrias. É que aos cinco anos seu pai faleceu e sua mãe casou-se no ano seguinte com o cônsul português em Durban, João Miguel Rosa.


 


 


 


O poeta morou em Durban até 1905, quando voltou para estudar em Lisboa. É congnominado “o poeta do exílio”, pois a pátria e o exílio são recorrentes em sua obra, assim como pesquisas de releituras da literatura portuguesa e da lingüística, donde resultam o resgate da célebre frase do padre Antônio Vieira: “Minha pátria é minha língua”.


 


 


“Navegue, descubra tesouros, mas não os tire do fundo do mar,
o lugar deles é lá.
Admire a lua, sonhe com ela, mas não queira trazê-la para a terra.
Curta o sol, se deixe acariciar por ele, mas lembre-se que o seu calor é para todos.
Sonhe com as estrelas, apenas sonhe, elas só podem brilhar no céu.
Não tente deter o vento, ele precisa correr por toda parte, ele tem pressa de chegar sabe-se lá onde.
Não apare a chuva, ela quer cair e molhar muitos rostos, não pode molhar só o seu.
As lágrimas?
Não as seque, elas precisam correr na minha, na sua, em todas as faces
O sorriso!
Esse você deve segurar, não o deixe ir embora, agarre- o!
Quem você ama?
Guarde dentro de um porta-jóias, tranque, perca a chave!
Quem você ama é a maior jóia que você possui, a mais valiosa.
Não importa se a estação do ano muda, se o século vira, se o milênio é outro, se a idade aumenta…
Conserve a vontade de viver, não se chega à parte alguma sem ela.
Abra todas as janelas que encontrar e as portas também
Persiga um sonho, mas não o deixe viver sozinho.
Alimente sua alma com amor, cure suas feridas com carinho.
Descubra-se todos os dias, deixe-se levar pelas vontades, mas não enlouqueça por elas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que deve seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se acha-lo, segure-o!
Circunda-te de rosas, ama, bebe e cala.
'O mais é nada'.
Seja feliz!”


 

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