Receita para provocar as crises
Vale a pena analisar os ensinamentos da estratégia utilizada pelos Bancos para provocar situações de crise individuais ou nacionais. Não apenas os Bancos, mas todas as instituições financeiras e, com elas, as grandes empresas multinacionais. Refiro-me ao esqueleto financeiro que sustenta o sistema capitalista que age tanto nas aldeias como nas regiões planetárias mais desenvolvidas.
Publicado 02/06/2010 20:10
Ao nível de indivíduos têm um conceito do ser humano que apenas existe como cliente, que é objeto do plano financeiro desenvolvido e também um produto na perspectiva do consumo que alimenta o crescimento financeiro. Um exemplo, no caso do cliente individual, é o envolvimento do mesmo com a publicidade enganosa das facilidades de obtenção de crédito imediato (livre das confusões habituais burocráticas que empurram os clientes para soluções mais rápidas e mais caras) distribuída pela midia. Para o caso de falta de dinheiro para o pagamento automático das contas mensais existe o cheque especial com juros para lá de abusivos. Para compras imprevistas existem os cartões de crédito com parcelamento com juros extorsivos. Os emprestadores financeiros ouvem as histórias de vida miserável dos clientes e procuram com a maior gentileza dividir as dívidas de um crédito, salvador no momento, em parcelinhas tão pequenas que a longo prazo parecem ser insignificantes. E o objeto do plano financeiro, isto é o cliente com uma história de vida sofrida, torna-se um financiador dos futuros juros que alimentam o Banco.
Conheci o caso de uma pessoa, cuja família vive com dois salários mínimos e que em um ano, graças ao estímulo compreensivo do Banco, passou a consumir eletrodomésticos e produtos iguais aos do seu patrão da alta classe média. Em um ano de belas ilusões adquiriu uma dívida de R$ 23.000,00 com o Banco, resultante das inúmeras parcelinhas contratadas com os créditos especiais que já não podiam ser pagas com os dois salários inteiros de que dispunha. A família ficou com a dívida, o nome sujo na praça, impedida de ter conta bancária e usar o CPF que lhe daria os direitos de exercer a cidadania junto ao Estado, e com a crise. Praticamente foi marginalizada da condição de cidadania por ter feito uma má gestão dos seus recursos assessorada por uma importante instituição bancária.
Ao nível nacional assisti às grandes campanhas feitas pela social democracia na Europa para que também os países pobres do continente aderissem à Comunidade Européia que prometia torna-los iguais aos mais ricos com investimentos na infra-estrutura – principalmente comunicação por meio de estradas, mas também linhas telefônicas, portos e aeroportos – que atrairiam a atenção de investidores no grande comércio tipo supermercados e lojas de grande superfície especializadas e no turismo hoteleiro que se acompanha de lojas de produtos supérfluos (modernos e caros), shows artísticos, serviços de atendimento pessoal, para dinamizarem aquelas terras ermas das aldeias onde a produção ainda era artesanal.
Os habitantes mais lúcidos se perguntavam: “quem vai pagar essa transformação cosmética do país se prejudicam as fontes de produção artesanal com que hoje nos mantemos?” Por tal razão discutiam se deviam ou não entrar para a CEE, o que era proposto como “entrar para o paraíso”. Foram vencidos pela propaganda enganosa e passaram a compor a União Européia.
Uma lufada de modernidade cobriu a velha Europa. Os paises ficaram todos com a mesma cara e com os mesmos produtos comerciais, apesar de que nos mais pobres os salários não iam além de um terço do que pagavam nos paises ricos. Mas isto o turista e o funcionário de multinacionais não percebem. É um problema de povo “sem a necessária formação” e dos imigrantes vindos de outros países ainda mais pobres. O velho preconceito por séculos mantido pelos colonizadores fundamentava as novas teorias. Agem como apátridas comprando nas regiões pobres e vendendo nas mais ricas. A meta é o lucro que move produtos e objetos, mesmo que se sejam seres humanos. Assim foram sendo alteradas não só as paisagens nacionais, como os conceitos fundamentais de vida, de família, de pátria, de futuro, de afeto, de apego às tradições, de respeito pelo ser humano na sua integridade. Os valores éticos que qualificam o ser humano.
E chegou a hora de pagar: com os altíssimos juros e sem as formas de sobrevivência modestas de antigamente que bem ou mal compunham o produto interno nacional. Mesmo os países pobres europeus que plantaram as suas empresas multinacionais na América Latina, África e Ásia (como a Portugal Telecon, o Banco Santander etc), deixaram-se dominar pelos créditos da Europa rica, principalmente Alemanha, Inglaterra e França, que hoje instalaram a crise financeira nas pátrias abandonadas. A solução recomendada pelo FMI e parceiros habituais e apátridas, é reduzir os salários, aumentar os impostos e economizar nos serviços de atendimento social (saúde, ensino, previdência social, serviços públicos de acesso popular) e rever as taxas de crédito que permitiram à classe média (a baixa) comprar a sua casa, o seu carro etc. A Grécia, que acreditava no valor do seu passado histórico e da sua arte milenar que recheia os maiores museus do mundo, viu logo que não tem de onde tirar. Perde a nacionalidade como o cidadão devedor perde a cidadania?
Este filme não se passou só na Europa. Também nos Estados Unidos a população se tornou consumidora e produto de uma rede infernal que dinamiza a vida financeira do país responsável pelo produto nacional bruto. Segundo o FMI a população norte-americana que não poupava seus tostões agora guarda 5% porque conheceu a crise financeira que a despiu das propriedades antes adquiridas. Agora alguém terá de produzir estes tais 5% do PIB americano e outros terão de consumir os 5%. Advinhem quem! Os subdesenvolvidos de sempre, na América Latina, África e Ásia e mais aqueles que emigraram das suas pátrias ex-socialistas da Europa e mais todos os imigrantes nos países ricos..
Não é por acaso que alguém genial descreve a crise financeira mundial como um saque mundial (saque este que em silêncio os clientes pobres dos bancos sofrem todos os dias como se fosse assaltado sem perceber e não podem chamar a polícia para os proteger).
Receita para provocar as crises
Vale a pena analisar os ensinamentos da estratégia utilizada pelos Bancos para provocar situações de crise individuais ou nacionais. Não apenas os Bancos, mas todas as instituições financeiras e, com elas, as grandes empresas multinacionais. Refiro-me ao esqueleto financeiro que sustenta o sistema capitalista que age tanto nas aldeias como nas regiões planetárias mais desenvolvidas.
Ao nível de indivíduos têm um conceito do ser humano que apenas existe como cliente, que é objeto do plano financeiro desenvolvido e também um produto na perspectiva do consumo que alimenta o crescimento financeiro. Um exemplo, no caso do cliente individual, é o envolvimento do mesmo com a publicidade enganosa das facilidades de obtenção de crédito imediato (livre das confusões habituais burocráticas que empurram os clientes para soluções mais rápidas e mais caras) distribuída pela midia. Para o caso de falta de dinheiro para o pagamento automático das contas mensais existe o cheque especial com juros para lá de abusivos. Para compras imprevistas existem os cartões de crédito com parcelamento com juros extorsivos. Os emprestadores financeiros ouvem as histórias de vida miserável dos clientes e procuram com a maior gentileza dividir as dívidas de um crédito, salvador no momento, em parcelinhas tão pequenas que a longo prazo parecem ser insignificantes. E o objeto do plano financeiro, isto é o cliente com uma história de vida sofrida, torna-se um financiador dos futuros juros que alimentam o Banco.
Conheci o caso de uma pessoa, cuja família vive com dois salários mínimos e que em um ano, graças ao estímulo compreensivo do Banco, passou a consumir eletrodomésticos e produtos iguais aos do seu patrão da alta classe média. Em um ano de belas ilusões adquiriu uma dívida de R$ 23.000,00 com o Banco, resultante das inúmeras parcelinhas contratadas com os créditos especiais que já não podiam ser pagas com os dois salários inteiros de que dispunha. A família ficou com a dívida, o nome sujo na praça, impedida de ter conta bancária e usar o CPF que lhe daria os direitos de exercer a cidadania junto ao Estado, e com a crise. Praticamente foi marginalizada da condição de cidadania por ter feito uma má gestão dos seus recursos assessorada por uma importante instituição bancária.
Ao nível nacional assisti às grandes campanhas feitas pela social democracia na Europa para que também os países pobres do continente aderissem à Comunidade Européia que prometia torna-los iguais aos mais ricos com investimentos na infra-estrutura – principalmente comunicação por meio de estradas, mas também linhas telefônicas, portos e aeroportos – que atrairiam a atenção de investidores no grande comércio tipo supermercados e lojas de grande superfície especializadas e no turismo hoteleiro que se acompanha de lojas de produtos supérfluos (modernos e caros), shows artísticos, serviços de atendimento pessoal, para dinamizarem aquelas terras ermas das aldeias onde a produção ainda era artesanal.
Os habitantes mais lúcidos se perguntavam: “quem vai pagar essa transformação cosmética do país se prejudicam as fontes de produção artesanal com que hoje nos mantemos?” Por tal razão discutiam se deviam ou não entrar para a CEE, o que era proposto como “entrar para o paraíso”. Foram vencidos pela propaganda enganosa e passaram a compor a União Européia.
Uma lufada de modernidade cobriu a velha Europa. Os paises ficaram todos com a mesma cara e com os mesmos produtos comerciais, apesar de que nos mais pobres os salários não iam além de um terço do que pagavam nos paises ricos. Mas isto o turista e o funcionário de multinacionais não percebem. É um problema de povo “sem a necessária formação” e dos imigrantes vindos de outros países ainda mais pobres. O velho preconceito por séculos mantido pelos colonizadores fundamentava as novas teorias. Agem como apátridas comprando nas regiões pobres e vendendo nas mais ricas. A meta é o lucro que move produtos e objetos, mesmo que se sejam seres humanos. Assim foram sendo alteradas não só as paisagens nacionais, como os conceitos fundamentais de vida, de família, de pátria, de futuro, de afeto, de apego às tradições, de respeito pelo ser humano na sua integridade. Os valores éticos que qualificam o ser humano.
E chegou a hora de pagar: com os altíssimos juros e sem as formas de sobrevivência modestas de antigamente que bem ou mal compunham o produto interno nacional. Mesmo os países pobres europeus que plantaram as suas empresas multinacionais na América Latina, África e Ásia (como a Portugal Telecon, o Banco Santander etc), deixaram-se dominar pelos créditos da Europa rica, principalmente Alemanha, Inglaterra e França, que hoje instalaram a crise financeira nas pátrias abandonadas. A solução recomendada pelo FMI e parceiros habituais e apátridas, é reduzir os salários, aumentar os impostos e economizar nos serviços de atendimento social (saúde, ensino, previdência social, serviços públicos de acesso popular) e rever as taxas de crédito que permitiram à classe média (a baixa) comprar a sua casa, o seu carro etc. A Grécia, que acreditava no valor do seu passado histórico e da sua arte milenar que recheia os maiores museus do mundo, viu logo que não tem de onde tirar. Perde a nacionalidade como o cidadão devedor perde a cidadania?
Este filme não se passou só na Europa. Também nos Estados Unidos a população se tornou consumidora e produto de uma rede infernal que dinamiza a vida financeira do país responsável pelo produto nacional bruto. Segundo o FMI a população norte-americana que não poupava seus tostões agora guarda 5% porque conheceu a crise financeira que a despiu das propriedades antes adquiridas. Agora alguém terá de produzir estes tais 5% do PIB americano e outros terão de consumir os 5%. Advinhem quem! Os subdesenvolvidos de sempre, na América Latina, África e Ásia e mais aqueles que emigraram das suas pátrias ex-socialistas da Europa e mais todos os imigrantes nos países ricos..
Não é por acaso que alguém genial descreve a crise financeira mundial como um saque mundial (saque este que em silêncio os clientes pobres dos bancos sofrem todos os dias como se fosse assaltado sem perceber e não podem chamar a polícia para os proteger).