Sergio Vaz: Geração Tubaína

Esta semana as coisas andaram numa velocidade alucinante, mil coisas ao mesmo tempo – ''tudo ao mesmo tempo agora'' (Titãs).

Na sexta-feira fui para a FLIP, em Parati-RJ acompanhado do Toni C., Eduardo Toledo e Mariana, a convite da CPFL. O lugar é muito bacana, mas o evento não foi o que eu esperava. Pensei que a cidade inteira ia respirar literatura, mas somente nas tendas haviam encontros. Também não vi nenhum lugar para os livros: livrarias, sebos, lançamentos, etc. Isso não tira o merecimento da feira nem de seus convidados oficiais. O legal é que chegando lá encontrei vários parceiros mangueando seus livros, estava em casa. Juntos (Maurício Marques, Allan da Rosa, Berimba, Silvio, entre outros) como não poderia deixar de ser, realizamos um sarau na praça do Chafariz, no centro da cidade. O bagulho ficou doido, apareceu gente de tudo quanto é lugar. Marcamos presença.


 


Já de volta, na segunda-feira, realizamos o Café Literário em Taboão da Serra, na Secretaria de educação, mais uma noite de muita poesia e vitória. Nesse dia recebemos a visita dos alunos do EJA, da Escola Julieta Calda Ferraz, uma puta energia se espalhou pelo ar. Sales, Márcio Batista, Rose, e outros poetas entoaram seus poemas como quem canta um hino antes de uma batalaha.Mas a segunda só estava começando. De lá saimos para o sarau do Binho, e tome mais poesia, tome mais energia. Muita idéia positiva.


 


Na terça fomos no lançamento do livro do Sacolinha na Ação Educativa, no centro de São Paulo. Lá realizamos um outro encontro de poesia com os convidados Elizandra, Akins, Robson Canto, Toni, Dugueto, Dinha, Francis Gomes… Vixe, mais parecia uma reunião de guerrilheiros partindo pra guerra, tamanha concentração e dedicação dos presentes. Numa semana confusa e sem metrô tinha 77 pessoas presentes no encontro para o lançamento do livro, para o sarau e para o encontro com a vida. Se já não bastasse a felicidade da noite, a Lila, uma das gêmeas, leu o texto ''mineirinho'' de Clarice Lispector, da forma mais linda que podia ser lido, com emoção, com dor e a angústia necessária para tocar nossos corações. Recitei um poema, porém, em homenagem a ela, à Clarice? Não, para Lila, a nossa menina. Não satisfeito saimos de lá, eu, Jairo, Kênia e o Wésley Noog, para pinheiros no lançamento do livro ''Canto dos malditos'' – que inspirou o filme Bicho de Sete cabeças-, do Austregésilo Carrano, que segue sua luta anti-manicomial. Lá também encontramos com poeta Lobão, Edson Lima e o Erton de Morais e tomamos umas cervejas para colocar o mundo em dia, e no seu devido lugar, nossos corações!


 


Na quarta-feira, no sarau da Cooperifa teve o lançamento do cd do Wésley Noog, dizem que foi muito louco, aliás, só pode ser, sendo Cooperifa, mas infelizmente não pude ir, estava longe do quilombo. Fora de Sampa fui eu, Cocão, Kênia, a convite do Toni C. participar de um Sarau no espaço cultural da CPFL, em Campinas. Também foram convidados o grupo de rap Inquérito, Fusão Caracas e o grafiteiro bonga, que ajudaram a dominar o evento. Também apareceu a Harumi e o Beso. O lugar ficou totalmente lotado. Muita gente, muita gente, então, muito amor, muito amor. Transformamos o lugar parecido com o Zé Batidão, só parecido. Durante a noite, liguei para o sarau da Cooperifa e fizemos um elo dos dois saraus que estavam acontecendo no mesmo horário, aliás no mesmo horário da novela. O que quero dizer com isso? Setecentas pessoas a menos em frente a televisão e antenadas na poesia. Acho que é isso que é combater o sistema, esse inimigo que os teóricos e intelectuais tanto falam. No caminho de volta tentei dormir, mas a insônia e a felicidade travaram uma luta desleal pela alma do meu sono.


 


Na quinta-feira, mal acordo e o pessoal da Panorama (arte na periferia) Peu, Anabela e Rogério Pixote já estão na porta de casa para a gravação de um documentário que eles estão fazendo sobre a cena cultural da periferia que não pára de crescer. Passamos um dia inteiro, café e almoço, trocando idéias e filosofando sobre a perifa, o nosso país, o nosso Brasil. Rapaziada nova da periferia fazendo cinema, será que o Datena sabe disso? Acho que não. Aliás, são poucos os que sabem, por outro lado, esses poucos que sabem são os que nos interessam, pra nós já tá bom demais. Amigos, apesar de tudo, nos sobraram alguns.


 


Sob a mira da câmera:


 


-Afinal o que está acontecendo na periferia? Pergunta-me Peu, na abertura da gravação do seu documentário.


 


– Tudo. Respondo. Já com os pêlos dos braços eretos.


– Como assim, tudo? Diz Anabela.


 


– Tudo. A nossa primavera de Praga, a nossa semana (interminável) de arte moderna, a nossa bossa nova, o nosso cinema novo, a nossa tropicália, o nosso teatro do oprimido, o nosso clube da esquina, a nossa literatura, o nosso pasquim, a nossa música de protesto (o rap), só que tudo de uma vez, tudo num só lugar, longe dos olhos das pessoas sem entimentos, na nossa periferia, na nossa capital do nosso país. Uma lágrima ameaça, é meu coração que está tendo um orgasmo, ele, ejacula pelos olhos. Foi bom pra você?


 


Por conta da fé, no futuro, trato os idiotas como pessoas normais.


 


muito amor,


 


Sérgio Vaz
Poeta da periferia

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