Trump e seus reais objetivos?

Entre tarifas, caos e promessas, Trump pode visar não só empregos, mas um corte drástico de impostos para fortalecer o grande capital e ampliar o lucro interno.

Donald Trump | Foto: Mandel Ngan

Não é fácil compreender. O que realmente significa “MAGA- Fazer a América Grande Novamente”? Muitas são as interpretações possíveis, qual a verdadeira?

Não se pode negar, está fazendo tudo que havia prometido. Evidentemente, como um bom bufão, com alarido e muitas idas e vindas. Sem jamais reconhecer os recuos, sem jamais dizer que voltou atrás. E, também, deixar explícitas suas reais intenções.

Trouxe a incerteza, criou desconfiança, desestruturou os mercados mundiais, gerou inimigos e a imagem de “senhor do Mundo”. Tudo pode, será?

Na economia americana, começa a desestruturar os estados do centro, aqueles que dependem fortemente da agricultura. Encareceu a mão de obra com sua cruzada contra os imigrantes, fechou mercados com sua tentativa de punir aqueles que sempre foram parceiros.

Concretamente, criou condições para que a inflação possa se agigantar, os preços dos importados subiram, mesmo com os recuos que teve de fazer, os grandes grupos americanos que tinham globalizado sua produção se vêm em apuros, as margens de lucro são reduzidas, algumas drasticamente.

Nem sempre o explícito é o real, muitas vezes o implícito é o que se procura. Entendê-lo faz parte da busca das principais razões que alicerçam políticas públicas. E essas não são facilmente compreendidas.

O discurso oficial é de que os Estados Unidos estão sendo prejudicados no comércio internacional. Países criaram barreiras aos produtos americanos e subsidiam seus produtos, gerando condições adversas para a economia do país líder, o que se procura é estancar. Isso faria com que as empresas que não seriam taxadas por produzir na América do Norte, desejariam voltar a se instalar lá, gerar emprego e renda naquela economia.

Não se pode negar que alguns resultados já foram alcançados. As empresas de chips que estavam em Taiwan, por exemplo, já anunciaram seu retorno para o País e o setor farmacêutico tem tido negociações intensas para se reposicionar, em parte, para lá.

É bom analisar mais de perto estes segmentos. Notar que são setores muito automatizados e robotizados, em que o custo de mão de obra no chão de fábrica é marginal, em que o custo maior é o de desenvolvimento dos produtos e nos quais a mão de obra mais qualificada e melhor remunerada se apresenta. Têm escalas de produção muito grandes e se destinam a mercados sempre crescentes com demanda consolidada e em expansão.

Poucos são os setores que apresentam essas características. Na grande maioria das cadeias produtivas mundiais, observa-se que a organização segmentada em diferentes regiões do planeta, se alicerça na busca de custos unitários de produção menores, inclusive próximas a fontes de matérias primas estratégicas e mão de obra mais barata. E, muito se investiu numa logística ágil e eficiente que as interconecta.

Sendo assim, a eficácia das políticas de tarifas tem fortes limites e não se apresenta como mecanismo capaz de modificar firmemente a estrutura das cadeias produtivas globais. As idas e vindas nas tarifas assim o demonstram e as pressões dos grandes grupos econômicos, das grandes multinacionais inclusive, tem levado a mudar fortemente as sanções impostas.

A economia americana está em polvorosa. O agronegócio prejudicado, os grupos industriais, em grande parte, sendo desarticulados, o setor de serviços para o mercado internacional onde correm bilhões de dólares, fortemente questionado e substituído por outros grandes players.

Nem mesmo o objetivo mais explícito, a guerra com a China, parece trazer, de imediato, bons resultados. A China não cede e tem aumentado muito as negociações com o resto do mundo, principalmente com os periféricos como os asiáticos e latino-americanos, além de entrar com grande peso na União Européia.

Evidentemente, o senhor Trump não é nenhum ingênuo e provavelmente tenha previsto muitos desses efeitos. Talvez não na proporção que as reações externas e internas tomaram, mas, sem dúvida, sabia que essas posições contrárias adviriam.

Sendo assim, qual será o motivo real das atitudes tomadas, provavelmente implícito.

Leio um interessante artigo de um professor da Universidade do Missouri. Ele aponta que tudo isso poderia e foi previsto. E acena para uma hipótese alternativa.

Para ele, a principal razão do tarifaço não é o aumento do emprego e reposicionamento das empresas no mercado americano que, reconhece, é limitado.

A principal razão do “Sr. Trump” está ligada á política econômica interna que pretende implantar. Seu objetivo maior, que atende aos interesses do grande capital, seria a redução drástica dos impostos internos. Ou seja, a redução ao máximo de qualquer taxação da produção americana e conseqüente aumento das margens de lucro. E isso faria com que as reações observadas do empresariado, até o momento, sejam bastante tênues. Haveria a expectativa de que esse caminho seja percorrido em breve espaço de tempo.

Só que para fazer isso, precisa-se capitalizar o Estado, o aparato gestor do governo americano. E isto leva a que o tarifaço seja o meio que ele engendrou. Com o tarifaço as receitas governamentais necessariamente aumentarão e poder-se-á ter uma folga que permita o passo adiante, a redução drástica dos impostos internos. Assim teria sido pensado.

Parece um caminho plausível. Tem uma lógica objetiva. Romper acordos internacionais, criar incertezas nos mercados, gerar inflação desproporcional, pode ser um caminho que solidifique o acordo cm o grande capital, inclusive com as Bigtechs através da redução abrupta e drástica dos impostos cobrados.

Isso associado com a busca de uma hegemonia que vem perdendo na área do conhecimento, principalmente, o conhecimento nas áreas mais avançadas pelas empresas americanas, parece ser a aposta de mais longo prazo.

Um caminho tortuoso que ameaça a lógica de estruturação dos mercados, que traz o protecionismo como bandeira para atender as demandas dos influentes capitais internos, ressalte-se, não da população como um todo, mas dos capitais e do mercado financeiro na sua busca alucinante de lucros astronômicos, pode ser a real razão das medidas até aqui tomadas.

Volta-se à velha máxima de que os fins justificam os meios, meios que geram desconforto e sofrimento pela desestabilização do comércio internacional e de suas cadeias produtivas.

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