A crise política se agrava e exige resposta popular  

A cavaleiro da informação de que 39% dos brasileiros o indicam como o melhor presidente da República que o Brasil já teve (Datafolha, divulgado no domingo, 28) Luiz Inácio Lula da Silva revela forte disposição de luta para enfrentar a crise, que se agravou desde a semana passada.

Na festa dos 36 anos de fundação do Partido dos Trabalhadores, Lula deixou clara essa disposição. Disse que não é candidato à sucessão de Dilma Rousseff em 2018, mas será “se for necessário” para manter o projeto de mudanças em curso desde 2003. “Estarei com 72 anos e com tesão de 30 para ser candidato a presidente da República.” E garantiu: “Nós sairemos mais fortes dessa luta. Se eu cometer um erro não vai ser a Globo que vai anunciar a vocês: vou ser eu”.

De fato, os sinais de agravamento da crise política são fortes. Entre eles a notícia de que foi remarcado para esta semana o depoimento de Lula e Marisa Letícia na investigação sobre o sítio em Atibaia e o apartamento no Guarujá.

Além do intenso falatório da mídia hegemônica e das bravatas costumeiras dos políticos conservadores, há fatos concretos que farão subir a temperatura política no início de março. Os principais entre eles são os próximos passos do processo de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff, em andamento no Congresso Nacional, e as decisões que serão tomadas pelo TSE sobre o pedido de cassação da chapa que vitoriosa em 2014 (Dilma Rousseff/Michel Temer) apresentado pelo PSDB.

A crise política, que nas últimas semanas parecia ter amainado, voltou com força, e revela o poder que a direita ainda tem no Brasil.

É comum se dizer que a justiça é igual para todos. Foram artistas alemães que, faz cinco séculos, colocaram uma venda nos olhos da imagem de Diké – a deusa grega que representa a Justiça – pois, não sendo cega, a deusa não pode ver pois deixaria de ser imparcial.

Esta reflexão busca entender a ação de setores do Judiciário em nossos dias. Uma parte dele justificaria outra correção naquela imagem: a venda na face de Diké taparia apenas o olho esquerdo, descobrindo o outro, para indicar a visão parcial e direitista que se manifesta cada vez mais entre os setores conservadores que agem para interromper o ciclo de governos democráticos iniciado em 2003.

O principal móvel da crise é o alegado combate contra a corrupção. Não pode haver dúvida de que todas as denúncias de irregularidades devem ser investigadas e, se comprovadas, punidas.

Mas o que o Brasil assiste desde o chamado “mensalão” de 2005 é a investigação implacável de qualquer denúncia, mesmo as mais inverossímeis, contra Luiz Inácio Lula da Silva, o Partido dos Trabalhadores, a esquerda e os progressistas.

Ao mesmo tempo há um silêncio estarrecedor quando se trata de acusações a políticos do PSDB, da direita ou a empresários da mídia conservadora.

São dois pesos e duas medidas que evidenciam a ação antidemocrática dos inconformados com a perda do controle da Presidência da República e que, com enorme dificuldade para retomar o poder através de eleições legítimas, se esforçam para voltar a ele pelo atalho golpista. Ou pela desconstrução da imagem pública de políticos da esquerda com o objetivo de destruir desde já suas chances eleitorais para 2018.

O Brasil de 2016 não é mais o de meio século atrás, quando a campanha conservadora e midiática legitimou a ação da direita e levou ao golpe militar que em 1964 inaugurou a ditadura que infelicitou o país durante mais de duas décadas.

A consciência política dos brasileiros avançou nas lutas pela democracia; os setores progressistas cresceram, sua organização se fortaleceu e, hoje, a tarefa golpista da direita ficou mais difícil.

Ganham corpo e vão chamando a atenção do povo denúncias da ação golpista que inclui alguns setores do Judiciário. A máscara da direita não se sustenta, e começa a cair.

Quando seus objetivos exigem, a direita não recua e fomenta a crise política mesmo com o risco de comprometer a economia. Aplica uma política de terra arrasada contra empresas brasileiras (entre elas a Petrobras), gerando desemprego e facilitando a entrada de empresas estrangeiras em áreas estratégicas.

Este é o sentido de sua tentativa de voltar ao Palácio do Planalto – quer retomar o governo para restaurar seus privilégios ameaçados nestes 13 anos de governos democráticos. Pretende fazer tudo voltar ao lugar onde tudo deveria estar, do ponto de vista conservador: restaurar a antiga tradição de governar para 1/3 da população e deixar os outros 2/3 à míngua, como sempre foi no passado.

Contra eles, o povo está atento, mobilizado e vai à luta para garantir o que já conquistou e alcançar novos avanços necessários para consolidar a democracia e o bem-estar de todos.

A presidenta Dilma Rousseff, na carta aos militantes lida na festa de aniversário do PT, fez acusações graves contra os golpistas. “Há um ataque sistemático aos pilares de nosso projeto de desenvolvimento para o Brasil. Ataque ao nosso maior militante, o presidente de honra Luiz Inácio Lula da Silva. O presidente Lula é um patrimônio político do nosso país que vem sendo atacado de forma injusta”, disse.

No jogo político pesado que armam, os conservadores vão, ao que tudo indica, para o tudo ou nada. A luta não será fácil. Nem para a direita nem para os setores democráticos e progressistas.

Os trabalhadores, o povo e as organizações do movimento social têm demonstrado uma disposição de luta decisiva. “Não podemos levar desaforo pra casa”, disse Lula. “Daqui pra frente, é pão, pão, queijo, queijo. Lulinha não vai ser mais Lulinha paz e amor!”

É um claro chamado à luta. A direita precisa ser derrotada no parlamento, nos tribunais e, principalmente, nas ruas. Não passará!