Como Lula e The Economist encaram 2009

Todo o final de ano, a revista inglesa The Economist dedica uma edição especial sobre as perspectivas do ano seguinte. […]

Todo o final de ano, a revista inglesa The Economist dedica uma edição especial sobre as perspectivas do ano seguinte. Nem sempre acerta. O ano passado, por exemplo, cravaram firme na eleição da senadora democrata Hillary Clinton como a futura presidente dos Estados Unidos. Deu Barack Obama, como todos sabem que por sua vez nomeou-a Secretária de Estado, o principal cargo diplomático dos EUA.


 


Desta vez, o editorial da revista que se autodenomina newspaper, parece ser mais comedido e acredita na possibilidade de Obama tentar restaurar a péssima reputação deixada pelos oito anos de Governo Bush, tendo a chance de promover reformas no sistema público americano, especialmente na área da saúde.


 


Ao fazer suas previsões para 2009, parte do raciocínio de que o PIB mundial vai cair abaixo dos 3% e as economias dos países ricos enfrentarão a recessão, com falências e aumento do desemprego.


 


O que chama a atenção é a análise do desempenho dos chamados países em desenvolvimento: apesar de vaticinar um crescimento menos espetacular do que 2008, a revista assegura que o ritmo do ano que vem será ''robusto'' e que haverá um ''deslocamento do poder global para locais como Brasil, Rússia, Índia e China. Estes países vão querer ter uma influência maior na condução do mundo'', diz o editorial.


 


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ganhou uma página da edição da Economist, onde faz uma breve síntese de seu governo. Nestes oito anos, afirma ele, muito progresso foi feito. ''O número dos muito pobres no Brasil se reduziu à metade. A classe média está agora em maioria, 52% da população. (…) O Brasil nunca esteve em melhor posição para enfrentar os desafios adiante e está totalmente ciente de suas crescentes responsabilidades globais''.


 


Em seguida, o presidente faz um retrospecto de como o país enfrentou a questão energética, com os programas do etanol e do biodiesel e a redução de 675 milhões de toneladas na emissão de gases de efeito estufa, o 1 milhão de novos empregos criados e a drástica redução da dependência do Brasil de combustíveis fósseis importados.


 


Em relação ao crescimento agrícola, Lula afirma que o país expande a produção e reforça sua posição como o segundo maior exportador de alimentos do mundo. Faz também uma firme defesa da conclusão da Rodada de Doha, com o objetivo de derrubar as barreiras ao comércio internacional que, segundo ele, estrangulam o potencial produtivo de incontáveis países na Ásia, África e América Latina.


 


Para avançar na solução destes e de outros problemas que assolam o planeta, como as questões ambientais, o presidente aponta a necessidade de um novo sistema internacional, mais regulamentado e transparente. Por isso, o Brasil uniu-se à Índia e à África do Sul para formar o Ibsa, uma associação das três maiores democracias do sul do globo, com foco nos temas de cooperação e desenvolvimento.


 


Por fim, Lula lembra a importante iniciativa de formação da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), com o objetivo de fortalecer a integração regional e assegurar uma presença internacional mais forte para o bloco. Com todas estas iniciativas, conclui, ''vamos fortalecer o diálogo e melhorar os mecanismos exigidos para revigorar o multilateralismo''.


 


A grande encruzilhada em que o Governo Lula se encontra, entretanto, é de como enfrentará os efeitos da crise econômica e financeira mundial do capitalismo. Ou rompe com os cânones da política macro-econômica de viés neoliberal que mantêm as taxas de juros reais nos mais altos patamares internacionais (contra toda a lógica do enfrentamento da crise capitaneado pelos Bancos Centrais dos EUA, da União Européia e da Ásia) ou sucumbe ao enfraquecimento do ritmo de crescimento do Brasil, deixando livre o caminho para a retomada do poder pelas forças conservadoras e atrasadas.