Conciliação com oposição conservadora levaria a retrocesso

Tal como já ocorrera em vezes anteriores quando subiu a temperatura da crise política, de novo surgem alquimistas da pequena política propondo o “entendimento entre o PT e o PSDB” como saída aos problemas nacionais.

Se fosse apenas um raciocínio simplista, passaria, por inócuo, despercebido ou no máximo se tornaria alvo de piadas e gozações próprias do folclore político. Ganharia charges nos jornais e memes nas redes sociais, para logo cair no esquecimento.

A trajetória e o alinhamento político do formulador da proposta, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) – um ex-petista que se alojou numa sigla governista (o PDT), mas faz oposição sistemática ao governo desde que foi demitido do ministério por Lula, ainda durante o primeiro mandato do ex-presidente – encarregam-se de revelar o simplismo da proposta, que não corresponde à complexidade do espectro de forças políticas do país.

Se bem que PT e PSDB sejam as forças estruturantes dos campos do governo e da oposição, o quadro político brasileiro é bem mais variado e complexo. A disjuntiva que condiciona o desenvolvimento da luta política no Brasil está no confronto entre as forças progressistas, democráticas, patrióticas, populares e de esquerda, por um lado, e as da oposição neoliberal e conservadora, antidemocráticas e entreguistas, por outro, aquelas mesmas que quando estiveram no governo – a última vez foi durante os dois mandatos do ex-presidente FHC – venderam o patrimônio nacional na bacia das almas e intentaram implantar a “ditadura dos punhos de renda”, na feliz expressão do jurista Celso Antônio Bandeira de Mello.

Mas a proposição, para além de ser simplista, encerra em seu conteúdo uma tendência para o retrocesso. Ao partir do pressuposto de que a crise é motivada pela recusa da presidenta da República ao diálogo e à autocrítica, situa no governo e nas forças que compõem sua base de sustentação a causa e a origem da crise. Por conseguinte, a solução subjacente seria a capitulação do governo e das forças progressistas às teses da oposição – derrotadas nas urnas – na prática, a entrega do comando político e administrativo do país a essa oposição.

O governo, os partidos da sua base de apoio e os movimentos populares não podem ser reféns das chantagens das forças oposicionistas nem se apresentar com fragilidade na luta política ao ponto de se deixar embair pela ilusão de uma conciliação com os inimigos da democracia e da soberania nacional. Seria trágico, porquanto isto representaria a reversão de um desenvolvimento político que, embora sinuoso e marcado por contradições, vacilações, retrocesso e erros, tem um sentido geral progressista.

O processo político do país chegou a um ponto de maturação que somente encontrará soluções virtuosas por meio do confronto – conduzido de maneira ampla e consequente – contra as teses e ações retrógradas da oposição, o que implica a afirmação e a audácia na aplicação do programa de reformas estruturais democráticas, a mobilização popular e a ampla união de forças em torno de uma frente democrática e patriótica, que deve abarcar todos os que sinceramente queiram encontrar soluções justas para os graves problemas nacionais, entre eles os que, por equívoco, formulam a falsa tese do entendimento com a oposição conservadora.