Contag fora da CUT lutará melhor pela unidade

O mundo sindical brasileiro viveu um deslocamento  tectônico de grande porte na noite da última sexta-feira (13) em Brasília: o […]

O mundo sindical brasileiro viveu um deslocamento  tectônico de grande porte na noite da última sexta-feira (13) em Brasília: o 10º Congresso da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura) decidiu, por 1.441 votos contra 1.109, pela desfiliação da CUT.



Reunindo 27 Fetags (Federações estaduais) e 4.312 mil sindicatos, a Contag sozinha possui mais entidades que a CUT, ou qualquer outra central sindical (embora a CUT tenha maior número de trabalhadores em sua base). Fundada em 1963, vítima de intervenção no golpe de 1964, retomada pelos trabalhadores em 1968, move-se sempre com passos bem meditados. Levou 11 anos para se filiar à CUT, em 1995; agora, desfilia-se, 14 anos depois.



A decisão do Congresso – que elegeu o gaúcho Alberto Broch para presidir a Confederação – respondeu a um movimento considerado divisionista: a tentativa de proliferação das entidades que dizem representar os trabalhadores na agricultura familiar e o projeto, em tramitação no Congresso, que cinde a representação sindical de camponeses e assalariados rurais. A Contag, firme e tradicional defensora da unicidade sindical (diversamente da CUT, que é plurisindicalista) reagiu com a votação de sexta-feira.



Em outro plano, a desfiliação deriva de uma reflexão sobre a realidade do sindicalismo brasileiro hoje. Embora unido na base, com a unicidade dos sindicatos consagrada na Constituição, ele se divide nas centrais e articulações intersindicais, que são várias – seis, contando apenas as reconhecidas pelo governo.



Nestas circunstâncias, a Contag concluiu que fora da CUT poderá lutar melhor pela unidade, no interior das suas fileiras e também no âmbito de todo o movimento dos trabalhadores da cidade e do campo. Na prática, ela própria é uma grande central camponesa, que reúne assalariados permanentes e temporários, agricultores familiares, assentados pela reforma agrária ou não, e ainda os que trabalham em atividades extrativistas. Desfiliada, terá cadeira cativa, voz e voto em qualquer fórum em que estejam em pauta os direitos e interesses dos trabalhadores.



A deliberação não teve sentido de hostilidade às centrais. Ao contrário.



Das 27 federações confederadas na Contag, 17 são filiadas à CUT; seis (porém somando a maioria dos sindicatos) ajudaram a fundar a CTB em 2008; e quatro são independentes.  ''Não vamos ficar ilhados do debate das centrais. Elas têm um papel importante e vamos continuar debatendo”, diz Broch – ele próprio vindo da Fetag-RS, filiada à CTB, porém eleito em chapa única, com apoio maciço dos delegados.



A existência de várias centrais sindicais no país não ajuda a causa dos trabalhadores. Mas é uma contingência que já dura há duas décadas e deve ser encarada de frente. O passo imediato é a unidade de ação de todas as centrais e do conjunto da classe, mais ainda hoje quando se tenta repassar para ela a conta crise global capitalista. A Contag, depois de seu 10º Congresso, é mais do que nunca uma protagonista de primeira linha nessa construção necessária e urgente.