Maluf e FHC: movimentações da direita contra as mudanças

Duas celebrações de aniversários de lideranças políticas, tirante os aspectos de cordialidade nas relações intersubjetivas, de sociabilidade e folclóricos, são ilustrativas de um comportamento típico da vida política brasileira, que se acentua toda vez que ocorre uma transição: a movimentação das forças de direita e centro-direita para garantir posições-chave no poder político.

Referimo-nos às comemorações dos aniversários natalícios do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em junho último, e neste final de semana, do deputado federal Paulo Maluf.

No aniversário do ex-mandatário, até a presidente Dilma Rousseff exagerou no tom, fazendo-lhe elogios imerecidos. FHC fez todos os esforços para aparecer como grande líder e figura de proa da intelectualidade nacional. Extremamente vaidoso e com desmedidas ambições, ainda pretende liderar a oposição e arregimentar forças em torno do seu fracassado PSDB.

No aniversário de Maluf, comemorado no último sábado (3), os principais líderes da política paulista – o governador Alckmin, o vice-presidente da República, Michel Temer, e o prefeito da capital, Gilberto Kassab –, procuraram ressaltar o papel do ex-alcaide e cortejá-lo tendo em vista capturar os votos da direita nas próximas eleições municipais e em eleições futuras. Este, oportunista como sempre, procura capitalizar os elogios e se posicionar “na crista da onda”.

Cada qual com sua trajetória e estilo, FHC e Maluf representam o que há de mais reacionário na vida política nacional. O ex-presidente da República liderou uma coalizão de forças de direita e centro-direita, da qual participou o próprio Maluf. Com tal aliança, realizou um governo conservador e neoliberal, um dos piores de toda a história nacional. Entreguismo, fisiologismo nas relações com o Congresso, corrupção desbragada, personalismo, repressão aos movimentos sociais foram as características do seu governo.

Já o ex-prefeito paulistano é filhote da ditadura, sob cuja sombra de corrupção e violência prosperou em negócios escusos e ascendeu na escala do poder. Lidera uma corrente política de direita, hoje em decadência, mas que ainda atua como força de reserva para aventuras golpistas, se eventualmente a ocasião se apresentar. Maluf é porta-voz de um discurso anticomunista, antipetista, antiprogressista, com tintas de misoginia e patriarcalismo.

As homenagens e paparicos em relação a essas duas figuras nefastas indicam a movimentação dos grandes partidos das classes dominantes para consolidar posições conservadoras no quadro político e, desde a oposição como de dentro do governo, exercer freio sobre qualquer ímpeto transformador. Não deixa de ser, no plano simbólico, uma jogada para pressionar, pela direita, a sucessão presidencial de 2014.

O Brasil precisa urgentemente de reformas democráticas estruturais, o que só será possível com a formação de um coerente e consistente núcleo de esquerda no governo e fora dele e com a mobilização do povo em torno de uma plataforma de lutas. A concertação ou a polarização entre forças e lideranças de direita e centro-direita não terá outro resultado senão a inflexão do curso político no sentido conservador. São movimentações estranhas e contrárias aos esforços para a união entre as forças de esquerda e do movimento popular.