Obama contra o satélite norte-coreano
A Coreia do Norte lançou com sucesso neste domingo (5) o satélite artificial Kwangmyongsong 2 (o número 1 data […]
Publicado 07/04/2009 00:17
A Coreia do Norte lançou com sucesso neste domingo (5) o satélite artificial Kwangmyongsong 2 (o número 1 data de 1998), nome que significa ''Estrela Brilhante'', integralmente desenvolvido com conhecimentos e recursos do país. É um belo êxito do povo coreano, de seus cientistas e técnicos, que terá uso declaradamente pacífico. Por que então a grita orquestrada pelos Estados Unidos?
O governo americano chegou a fazer a ameaça de derrubar o foguete norte-coreano com um míssil – bravata que afortunadamente não levou avante. Mas fez uma tentativa de demonizar e sancionar feito científico no Conselho de Segurança da ONU, frustrada pela oposição de países como a China, o Vietnã e a Rússia. E o presidente Barack Obama entrou pessoalmente na campanha contra a pequena República Democrática Popular da Coreia. Disse que o lançamento foi uma ''provocação'', que o país ''ignorou as suas obrigações internacionais'' e ''se isolou ainda mais''.
Seria bom que Washington cuidasse do próprio isolamento. Sua política de bloqueio contra Cuba já foi condenada 29 vezes na ONU, a última delas por 185 votos a três (EUA, Israel e Palau). A crise econômica nascida em Wall Street agravou ainda mais o já imenso rechaço mundial ao imperialismo americano. Aliás, a própria eleiço de Obama foi em grande parte fruto dessa circunstância crítica, levada ao extremo pelo ultradireitista George W. Bush.
A nova administração na Casa Branca disse que não usa mais a expressão ''guerra contra o terrorismo''. Diante da ofensiva contra o satélite coreano, é o caso de indagar se ainda vige essa outra peça da terminologia bushiana que é o ''eixo do mal''.
Alega-se que a tecnologia que permitiu o lançamento ''pode'' ter uso militar. E quem são os EUA para impedir que os outros se defendam? Não só são os recordistas mundiais em gasto militar, como quase empatam com a soma de todos os outros países: em 2008, chegaram a US$ 711 bilhões, 48% do total mundial.
Parte desse gasto vai para os 27 mil soldados que o Pentágono mantêm desde há seis décadas em 23 bases militares na Coreia do Sul, concentradas na borda do Paralelo 58, que divide a Península Coreana ao meio. Além de dois destróieres que participaram de uma manobra e esqueceram de deixar o Mar do Leste da Coreia – cada um com tripulação de 270 homens e mísseis BGM-109 Tomahawk.
Durante 33 anos o arsenal americano na Coreia também incluiu oficialmente armas nucleares. Estas, diz o Pentágono, foram retiradas em 1991, da Coreia e de todas as bases militares dos EUA no exterior, devido ao fim da Guerra Fria mas também porque os mísseis intercontinentais já eram capazes de jogar bombas em qualquer ponto da Terra.
A República Democrática Popular da Coreia é um país socialista que enfrenta sérios problemas, os piores deles causados pela asfixia americana. É esta que faz arrastar a novela do reator nuclear de Yongbyon, vital para o fornecimento de eletricidade num país sem recursos hidroenergéticos. É ela que impede a assinatura de um acordo de paz formal, mais de meio século depois da Guerra da Coréia (vigora apenas um armistício). É ela também que entrava a aproximação iniciada com o histórico encontro de junho de 2000 entre os presidentes Kim Jong Il e Kim Dae-jung, que proclamou como objetivo a reunificação pacífica da nação coreana.
É de responsabilidade dos EUA a sobrevivência de um pedaço da Guerra Fria naquela parte do mundo. E o batismo de fogo coreano da administração Obama indica que ela vai continuar.