Os EUA são um Estado policial 

Os Estados Unidos veem-se cada vez mais constrangidos no plano internacional, desde que as denúncias do ex-técnico da Agência Nacional de Segurança (NSA) e da Agência Central de Inteligência (CIA) norte-americanas sobre espionagem foram publicadas. Recentemente, entram no grupo de países que exigem explicações da Casa Branca os aliados (ou vassalos) ocidentais tradicionais, como a França e a Alemanha.

Segundo a mídia internacional, Edward Snowden tem dezenas de milhares de documentos que detalham o programa de espionagem das agências de inteligência dos Estados Unidos, e a publicação das denúncias tem sido feita aos poucos, pelo jornal britânico The Guardian e pelo estadunidense The Washington Post. Recentemente, também foram publicados pelo francês Le Monde, quando o assunto afetou o governo de François Hollande.

Apesar das convocações de embaixadores norte-americanos pelos governos nacionais e dos telefonemas protocolares ao presidente estadunidense, Barack Obama, os países afetados pelo programa de espionagem não recebem qualquer resposta decente da Casa Branca.

Em discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas, em 24 de setembro, Obama reagiu à tendência recente de acuação do seu governo com uma postura arrogante e grosseira de justificativa e reafirmação das suas ações com o direito que o governo estadunidense deu a si mesmo de defender os supostos “interesses nacionais” a todo custo.

Obama ouviu, primeiro da presidenta Dilma Rousseff e, depois, de vários outros líderes, na Assembleia Geral, diversas críticas e acusações contundentes contra a violação da soberania dos países e a falta de respeito político aos outros chefes de Estado.

Entretanto, a Casa Branca promove o posicionamento histórico de um Estado policial, não apenas frente aos seus próprios cidadãos, vigiados diariamente (uma violação clara dos seus direitos civis à liberdade e à privacidade), mas inclusive frente a líderes globais e órgãos oficiais do mundo inteiro. Segundo estimativas de Snowden, publicadas nesta semana, o programa de espionagem estadunidense envolveu ao menos 35 chefes de Estado diretamente.

“É um comportamento inaceitável entre amigos e aliados”, é o que se limitam a afirmar os líderes da Alemanha e da França, nas últimas duas semanas, quando foram informados pela imprensa, em situação quase humilhante, de serem alvos diretos da espionagem dos EUA.

O caso da espionagem a companhias estatais internacionais, como foi com a Petrobras, revelou o objetivo comercial e, novamente, criminoso dos EUA com os programas que classificam de “vigilância securitária”, e que justificam com o combate ao terrorismo. Essa retórica, diga-se de passagem, já é suficientemente ridicularizada e desacreditada para que a Casa Branca a continue empregando.

Defender interesses comerciais, com a pressão das grandes companhias estadunidenses, sempre foi uma tendência do governo norte-americano. A prática de espionagem, embora fosse usada pelos EUA para acusar concorrentes, não é noticiada com tanta surpresa quanto é com indignação.

Obama foi flagrado em um dos maiores escândalos da história, e a falha dos líderes globais, espionados ou não, em condenar a prática dos Estados Unidos de policiamento e truculência sobre o mundo já se torna insustentável. Desde as denúncias do WikiLeaks sobre as práticas reprováveis da diplomacia, a exigência mundial pela transparência e pelo respeito à soberania dos países tem-se intensificado.

Embora continue investindo no fortalecimento e na justificação do Estado policial, Obama precisa dar explicações sobre práticas que, embora defendidas com unhas e dentes pela Casa Branca, não são legitimadas. O empenho pelo multilateralismo, promovido principalmente pelos países do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), por exemplo, tem tornado a política imperialista estadunidense claramente obsoleta.