Ousadia para que o ''pibinho'' não seja um problemão

A expectativa dos ''analistas de mercado'' para o crescimento da economia neste ano é pessimista e está em torno de 0,6%. No governo, os mais otimistas acreditam que pode chegar a 2,5% e os mais realistas desconfiam que não passará de 2%. A economista Maria da Conceição Tavares diz que ficará entre 2 e 3%. Seja qual for o resultado efetivo, o fato é que o crescimento do PIB em 2009 será bem menor que o observado nos últimos anos e há quem aposte até mesmo em forte recessão, como o banco estadunidense americano Morgan Stanley, que fez uma previsão exagerada de recuo de 4,5% no PIB brasileiro, recebendo por isso muitas críticas.



No Brasil, percebe-se claramente que uma parte da elite e da classe média mais reacionária e endinheirada torcem para que a crise tenha força para arrebentar nossa economia, gerando desemprego, falências, queda na qualidade de vida e outras mazelas que a grande mídia e a oposição já prenunciam em seus discursos e propagandas catastrofistas.



Exemplo recente disso foram as inserções do DEM no horário partidário no rádio e na TV, reflexo do sentimento desta parcela rancorosa da sociedade que não suporta ver setores progressistas no governo e vê numa crise profunda a única chance de desgastar a imagem do governo Lula e inviabilizar a continuidade de um projeto popular para o Brasil em 2010, já que as tentativas de golpe via mídia fracassaram.



Neste cenário, cabe às forças progressistas não apenas denunciar os que torcem contra o Brasil, mas também cobrar do governo medidas concretas e avançadas para enfrentar a crise. O próprio presidente Lula tem dito que é preciso coragem e ousadia para driblar a atual situação econômica mundial. Chegou a sugerir que os países ricos estatizem os bancos em dificuldades. Ousadia que também pode e deve se traduzir em medidas concretas para enfrentar a ameaça da crise em nosso país..



Muitas iniciativas importantes já foram tomadas. Mas é possível e preciso fazer mais. Por exemplo, exigir do Banco Central a queda acelerada dos juros; cobrar dos bancos e financeiras o mesmo comportamento pois, afinal, enquanto o BC começa um tímido movimento de queda da Selic, há bancos que continuam promovendo verdadeiras extorsões, cobrando juros superiores a 200% ao ano. Chegou a hora também de se estabelecer um rígido controle sobre o setor financeiro e condicionar a ajuda a empresas em dificuldades a um compromisso de manutenção de empregos, salários e proteção aos direitos trabalhistas. É preciso, sobretudo, firmar um novo pacto político que aglutine os esforços daqueles que concordam que o momento exige uma reorientação plenamente desenvolvimentista da política econômica.



Por enquanto, a direita, afilhada das idéias neoliberais que geraram a atual crise financeira mundial, está sem discurso e sem propostas para se apresentar como salvadora da Pátria. Mas não se pode ter ilusão: a economia que distribui renda, gera empregos e melhora a qualidade de vida das pessoas é a base sobre a qual se sustenta boa parte da popularidade do atual governo. Um PIB deprimido demais pode colocar em risco o que foi construído nestes últimos anos. Por isso, é preciso reagir e a hora é agora.