Um governo velho, aos cinco meses

O resultado político das manifestações do domingo (26) é mais negativo do que positivo ao presidente Jair Bolsonaro. Multidões foram […]

O resultado político das manifestações do domingo (26) é mais negativo do que positivo ao presidente Jair Bolsonaro. Multidões foram às ruas, mas a motivação e as bandeiras das marchas bolsonaristas deixaram sequelas políticas que revelam mais fraqueza do que força.

De início, o número de manifestantes embora expressivo ficou, visivelmente, aquém do que esperavam os organizadores. E esses tais organizadores, na verdade, foram o próprio presidente e seus filhos. Não foram espontâneas, tampouco se pautaram “em defesa do futuro da nação”, como disse Bolsonaro.

Os apoiadores do presidente foram às ruas mais por um grito de socorro do “mito” do que para respaldá-lo numa ação ofensiva ou para comemorar algum triunfo. E clamar aos céus por ajuda, pedir água, aos cinco meses de governo, convenhamos que tal fato escancara uma desidratação muito rápida do prestígio do trono.

As manifestações se originaram de um grito de guerra do presidente contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF). Bolsonaro, reconheceu que até aqui seu governo não aprovou nada, não fez nada e que a razão disso não é sua conhecida incompetência. A culpa, diz seu desvario autoritário, seria a velha política, e, sobretudo, o Congresso Nacional, ladeado pelo STF. Em outras palavras, seria impossível governar com as “amarras” do regime democrático grafado na Constituição de 1988. Que enfatiza a necessária divisão e harmonia entre os três poderes da República – o executivo, o legislativo e o judiciário.

Bravo assim contra a democracia, o presidente reacendeu a chama das hordas da extrema-direita que o idolatram. E estas saíram a campo arregimentando adeptos para saírem às ruas. Vozes do próprio governo, vozes de sua bancada parlamentar, o admoestaram. Houve até “rachaduras” na sua base.

O campo democrático, por sua vez, repeliu o “ apelo da selva” do presidente.

Bolsonaro, então passou a fazer teatro. Um péssimo teatro. Hipocritamente, disse que “fechar Congresso, fechar STF” seria pauta do presidente da Venezuela.

E o que seu viu dia 26 nas ruas? Por mais que tenham sido maquiadas, por mais que se tenha tentado domesticá-las, as hordas da extrema-direita atacaram o Congresso Nacional, jogaram lama no STF. Enquanto os atos ainda aconteciam, o presidente da República os enalteceu de forma comovida.

Ao fazê-lo, Bolsonaro se distancia, se aparta, de todos quanto prezam a democracia. Terá, daqui por diante, ainda mais dificuldades, para construir uma base no Congresso uma vez que respalda uma campanha que enxovalha os parlamentares, a começar, pelo presidente da Câmara dos Deputados.

O presidente vai se apartando da sociedade, vai agravando a divisão no seio de seu próprio governo e vai se atando unicamente ao gueto bolsonarista, aos bandos da extrema-direita.

O país, segundo nove entre dez especialistas em política, seguirá regido pela instabilidade, se moverá pela dinâmica de crises. Pelas colunas de jornais, nos gabinetes de integrantes dos Poderes da República, pelas mesas dos bares, já se debate se Bolsonaro terá fôlego para concluir seu mandato.

É um governo velho, aos cinco meses. Mas, como se diz, aqui do país do futebol, ainda há muito jogo.