Um vento progressista na Espanha

Um vento progressista soprou na Espanha neste domingo (28). Não foi um vendaval, mas teve força suficiente para erguer um […]

Um vento progressista soprou na Espanha neste domingo (28). Não foi um vendaval, mas teve força suficiente para erguer um dique contra a onda filo-fascista, de extrema direita, que ameaça o mundo e é motivo de preocupação das forças democráticas e progressistas.

Os espanhóis foram às urnas com disposição. O comparecimento foi de 76% dos eleitores – quase 10% (9,3%) a mais do que na última eleição geral, em 2016 – e a maior participação desde 2008.

O que esta disposição popular significa? A volta da política para o povo? Pode ser.

O que se viu na eleição na Espanha foi a vitória clara do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) e o desabamento do direitista Partido Popular (PP), que tradicionalmente dividia o cenário nacional em concorrência com o oponente social-democrata.

Cenário que, nos últimos pleitos, assistiu à ascensão do Podemos, uma frente de organizações políticas e movimentos sociais que parecia prestes a tomar a hegemonia do PSOE na esquerda.

O PSOE, com cerca de 29% dos votos, elegeu a maior bancada parlamentar: 123 entre 350 deputados, e reafirmou sua posição como maior força da esquerda da Espanha. Seguido de longe por um PP que só elegeu 66 deputados, menos da metade dos 137 que tinha.

Outro vitorioso na votação deste domingo foi o partido de extrema-direita Vox – de vocação nazi-fascista -, que levou pela primeira vez em décadas, aqueles extremistas de volta ao parlamento nacional. Embora abaixo do que muitos analistas supunham: com 24 deputados, ficou em 5º lugar, quando diziam que poderia ficar em 3º. Mesmo com uma resultado aquém do previsto, o desempenho da extrema-direita não deve ser subestimado.

Nenhum partido elegeu uma bancada capaz de formar o próximo governo, que dependerá de negociação entre eles.

A soma dos deputados eleitos pelo PSOE (123 deputados) e pela aliança entre a esquerda Unidas Podemos (42 deputados) é de 165 nomes, faltando 11 para alcançar a maioria de 176 deputados necessária para formar o governo. Se o líder do PSOE, Pedro Sanchez conseguir o apoio dos pequenos partidos regionais como a Esquerda Republicana da Catalunha – ERC (entre eles a brasileira Maria Dantas, que vive em Barcelona) e dos bascos PNV e EH-Bildu a soma permitiria formar um governo capaz de ajudar a conter o vagalhão direitista que assola a Europa.

Para a direita o cenário é difícil – o decrépito PP elegeu 66 deputados que, unidos aos 57 do Ciudadanos e aos 24 do Vox, somam 147 parlamentares, bem longe da maioria necessária.

A importância da inegável a vitória da esquerda na Espanha cresce num cenário europeu onde a extrema-direita se fortalece e conquista posições estratégicas em quase todos os países, entre eles Polônia, Hungria, República Tcheca, Itália, Áustria, Finlândia, Bulgária, Dinamarca, França, Holanda, Suécia, Noruega e Reino Unido. Apenas quatro países europeus estão imunes à presença institucional da extrema direita – Portugal, Irlanda, Luxemburgo e Malta.

Formar um novo governo na Espanha exigirá muita negociação e uma postura ampla e flexível das forças progressistas. Será necessária muita engenharia política, empenho e paciência. Vai exigir os mesmos ventos que, nas urnas, renovam a política para confirmar, na mesa da negociação, a disposição que os eleitores manifestaram ao rejeitar a direita, por um governo progressista e avançado.