Zumbi, ano 312: bons sinais

Nesta terça-feira (20), 312º aniversário do suplício de Zumbi dos
Palmares, há prenúncios promissores nos horizontes do movimento negro
brasileiro. Em São Paulo, os organizadores esperam 50 mil participantes
na Marcha da Consciência Negra que partirá do vão do Masp. Em várias
cidades foram convocadas manifestações, com plataforma unificada: pela
aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, pela política de cotas e
pela transformação do 20 de novembro em feriado nacional.

Já lá vão três décadas desde os primeiros passos do Dia da Consciência
Negra, em 1971 e 1978. Quem olha o caminho percorrido, sobretudo
recentemente, constata o quanto se avançou.

O primeiro dos seus feitos é a construção, coletiva e contemporânea, do
herói Zumbi dos Palmares. Sim, pois um herói é um homem, uma mulher,
mais as condições de sua vida e morte e, antes de tudo, o lugar que
ocupa na consciência partilhada por um povo.

Zumbi, nascido livre em Palmares (1655), escravizado na infância, negro
fugido aos 15 anos, chefe do maior dos quilombos brasileiros aos 25,
guerrilheiro após a destruição de Palmares em 1694, um ano depois foi
atraiçoado, capturado, ferido, morto, decapitado. Nem por isso virou
herói. A ideologia dominante reservou-lhe o papel de bandido durante
dois séculos. Mesmo depois, ficou relegado a um canto do limbo da
história. Foi a partir do movimento negro, pelas mãos do povo
organizado, que o resgatou e abriu seu caminho até o posto de herói da
luta pela liberdade, talvez aquele com uma presença mais viva na
consciência coletiva contemporânea.

O resgate de Zumbi é fruto de um movimento negro que ganha espessura e
densidade. A fragmentação que prevaleceu por um bom tempo cede lugar a
um notável esforço unificador, com o Congresso Nacional de Negras e
Negros do Brasil – com sua primeira assembléia já realizada, em São
Paulo, e outras previstas para Porto Alegre, Belém e a conclusão em
Salvador. Neste esforço, vai se construindo também um pensamento, capaz
de combinar consistência teórica, coerência política e sensibilidade de
massas, que se recusa a permanecer no gueto e busca o fortalecimento
dos laços entre militância e bases.  

Zumbi teria gostado de ver. Neste 20 de novembro, laboriosa e
entusiasticamente, o movimento negro se afirma como uma das mais ricas
vertentes dos movimentos populares brasileiros – os movimentos de um
povo de quilombolas em luta por sua libertação social.