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Adalberto Monteiro: Viagem ao nordeste goiano

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A Chapada é tão alta
Que as nuvens são pintadas à mão.


 


A nudez explícita das serras
Açula a libido dos olhos que ganham asas.
E dão vôos rasantes na floresta de bonzais.
Mata-se a sede com água dos buritizais.


 


Morros colonizados a fogo.
Índias possuídas à força, a facão.


 


Não há cordilheiras, só a sobra delas — as serras,
De rostos, dorsos e corpos belos.
Serras, museu ao aberto,
Fósseis de répteis colossais.


 


Folhagens. Mestiçagens várias.
Vermelho, verde, marrom e amarelo muito.
As próprias folhas são flores.


 


A estética em delírio.
O belo vem do feio.
As cores, o perfume, brotam


 


Do miolo das pedras.
Serras e morros. Grotões, cavernas, desfiladeiros.
Antigos abrigos de países livres, os quilombos.


 


Quanto ao povo, a maioria é negra.
São serenos, são bravos, são calmos.
A miséria é farta, mas também não falta
Quem não queira bani-la para nunca mais.


 


Em São Domingos se vê
A Serra Geral e o Pico do Moleque.
Do outro lado já é a Bahia, aqui ainda é Goiás.


 


As Delícias do Amargo & Uma Homenagem poemas – Adalberto Monteiro
Editora Anita Garibaldi, 2006