O bumba é uma festa ligada às mais profundas raízes do nosso povo – um verdadeiro retrato de como a transmissão da memória cultural sobrevive por gerações.
Publicado 08/01/2020 10:23 | Editado 08/01/2020 10:24
O reconhecimento do Complexo Cultural do Bumba Meu Boi como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco, em dezembro, coloca novamente o Brasil em destaque aos olhos do mundo. Um dos maiores símbolos do Maranhão, em São Luís e nas áreas urbanas e rurais do estado, o bumba é uma festa ligada às mais profundas raízes do nosso povo – um verdadeiro retrato de como a transmissão da memória cultural sobrevive por gerações.
Expressões orais, danças, coreografias, artes cênicas, plásticas e lúdicas representam a devoção a um universo místico e religioso, mediada pela figura do boi. Matraca, orquestra, zabumba e baixada, entre outros, são diferentes estilos com um sentimento comum: compartilhar um período de renovação. É uma festa que chega a ter mil participantes e que não aceita discriminação de gênero, cor ou etnia. Homens e mulheres desempenham personagens de acordo com o sotaque.
É a cultura que toma forma e encanta – e de maneira especial aqueles que a veem pela primeira vez. Brasileiros e estrangeiros, quando viajam ao Maranhão, hoje têm a certeza de que participar e levar a festa do bumba meu boi para casa, em fotografias e memórias, é algo que não pode faltar no itinerário.
Esse tipo de manifestação tem impulsionado o turismo cultural no país. É cada vez mais comum que visitantes planejem seu roteiro de viagem não apenas com o que já é conhecido pela maioria. Querem uma experiência que os conecte com a história brasileira, com a tradição de nossas comunidades, que extrapola limites territoriais e preserva uma herança incalculável do nosso passado.
Ao investir na proteção de expressões como o bumba meu boi, estamos, ao mesmo tempo, criando uma fonte de recursos que até há pouco não recebia a atenção devida. Com a inscrição na lista do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, ações de salvaguarda realizadas pela Unesco estão em curso para assistir as comunidades praticantes do Complexo Cultural do Bumba Meu Boi: fortalecer a autonomia dos grupos; realizar nova documentação; e ampliar pesquisas que valorizem ainda mais esse importante bem cultural.
Nesse sentido, estamos no caminho certo. O Brasil é referência mundial na proteção a patrimônios. Em 2020, comemoraremos 20 anos de uma política federal que foi unificada para a salvaguarda do patrimônio imaterial. A atuação da Unesco, dos governos federal e estaduais e de entidades parceiras é central para o desenvolvimento em longo prazo de práticas ainda mais eficientes.
Cooperação técnica, pesquisas e diálogo constante com as comunidades devem ser prioridades para que possamos atingir a chamada “educação patrimonial”. Por meio dela, nós, brasileiros, reconhecemos a importância dessas manifestações culturais para a identidade do nosso povo.
Reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como Patrimônio Cultural do Brasil em 2011, o Complexo Cultural do Bumba Meu Boi é o sexto bem brasileiro a integrar a lista internacional. O último, inscrito em 2014, foi a nossa roda de capoeira, tão famosa aqui e no exterior.
Quando trabalhamos para manter a essência dessas verdadeiras obras de arte, estamos também contribuindo para levar o setor turístico a outro patamar, bem como para gerar receitas que tornem o Brasil mais igual e mais justo.
Publicado originalmente na Folha de S.Paulo