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Sergio Vaz: Atestado de antecedência

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Acompanhando as eleições em São Paulo, da Marta contra o Kassab, ou vice-versa, descobri que há uma polêmica sobre a propaganda da Marta perguntando sobre a vida do Kassab, se ele é casado ou se tem filhos, que está gerando uma baita polêmica e que eu gostaria de saber o porque de tanta indignação.


 



Será que só porque eles são brancos, dos olhos azuis, já é o bastante para governar a maior cidade da América do Sul e a quarta maior metrópole do mundo? Pois eles que fiquem sabendo que qualquer pessoa que procura emprego, quer seja executivo ou Gari, é obrigado a escrever um Currículo com todas as informações a seu respeito e se ele for da periferia, ainda tem que tirar um “atestado de antecedência”, coisa que se certos políticos tirarem são capazes de ficar presos – presos no sentido figurado, nem algemado rico pode ser.


 



Ele deveria preencher um currículo e distribuir as cópias em nossas casas para que a gente pudesse avaliar, e conforme for, convocá-lo, ou não, para fazer uma entrevista, e se possível ligar em seus empregos anteriores pedindo as referências. É, eu gostaria de receber o currículo de todos eles em casa, com nome, endereço, número dos documentos, se são casados, se têm filhos, escolaridade, experiências anteriores, referências, dois telefones para contato, se fumam, se bebem, exame de saúde, religião, chapa do pulmão e o escambal.


 



Tem algumas empresas que querem saber até a cor do candidato, como se
isto tivesse algum tipo de competência profissional. E depois de tudo preenchido, eles ainda teriam que ficar ligando (todo dia) para saber se a gente já tem alguma resposta. Só para gente dar aquela “canseirinha básica” que todo trabalhador sofre ao disputar uma vaga de trabalho.


 



E depois de selecionados, os candidatos ainda deveriam passar por uma dinâmica de grupo do tipo daquelas brincadeirinhas sérias com bexigas para saber se eles saberiam trabalhar em grupo, se são egoístas, se têm desequilíbrio emocional e coisa e tal. Sem esquecer de colocar a pretensão salarial, para que a gente pudesse fazer a contra-proposta, sabe como é, às vezes o salário é baixo mas a gente podia compensar nos benefícios, vale-transporte, ticket restaurante, bilhete único, plano de saúde…


 


Pois é, eu quero saber quem são eles, até porque sou de uma época em
que morava num bairro abençoado pelo Gil Gomes e cortejado pelo falecido “Notícias Populares” em que a gente precisava mentir o bairro em que morava se quiséssemos arrumar um mero emprego de ajudante geral ou de auxiliar de escritório.
Já imaginou se um de nós da periferia pleiteássemos um cargo a prefeito de São Paulo?