Wagner Mendes: Salvação pela pele do trabalhador

“É inadmissível que o futuro de quem pega ônibus lotado todos os dias para trabalhar e ganha um salário mínimo por mês, ou pouco mais que isso, por exemplo, seja definido à revelia dos seus interesses, sem o debate devido. É escandaloso que o futuro (e o presente) de milhões de brasileiros tenha servido de moeda de troca para ajudar na salvação de um governo enlameado da cabeça aos pés em indícios de corrupção”.

Por *Wagner Mendes

Reforma trabalhista acaba com CLT - Ilustração: Márcio Baraldi

Os trabalhadores brasileiros assistiram na semana passada à aprovação da reforma trabalhista no Senado Federal a toque de caixa. Sem debate, sem emenda. A então proposta — já sancionada em forma de lei pelo presidente Michel Temer — passou pela Casa revisora sem ser revisada. Um senador não teve a chance de apresentar uma proposta sequer de modificação do texto aprovado pela Câmara dos Deputados.

Como a tramitação de um Projeto de Lei prevê que o mesmo texto precisa ser aprovado pela Câmara e pelo Senado, a base governista tentou “negociar” uma Medida Provisória, prometida pelo presidente, para realizar as mudanças que parte da Casa exigia.

A estratégia visava acelerar a aprovação da matéria, já que, caso houvesse mudanças no Senado, o texto deveria voltar para a Câmara discutir e votar novamente. O que levaria tempo — sem garantias, portanto, de ser sancionada pelo atual governo que pode ser afastado a qualquer momento após a denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o presidente, por corrupção passiva.

A necessidade de Temer de apresentar “resultados” com urgência, para segurar a base e atrair o apoio do mercado, acabou atropelando o curso natural das discussões de uma matéria que atinge diretamente a vida de todos os trabalhadores brasileiros.

É difícil crer que o que foi aprovado pela Câmara estava em sintonia com o que pensava o Senado. Independente do teor do projeto que foi aprovado na primeira Casa, furtar um senador da República de modificar um texto, tendo em vista a necessidade do Executivo de mostrar resultado, é humilhar o trabalhador que produz a riqueza do País. O governo é para quem? Um desrespeito.

Ainda sem entrar no mérito do texto, é inadmissível que o futuro de quem pega ônibus lotado todos os dias para trabalhar e ganha um salário mínimo por mês, ou pouco mais que isso, por exemplo, seja definido à revelia dos seus interesses, sem o debate devido.

É escandaloso que o futuro (e o presente) de milhões de brasileiros tenha servido de moeda de troca para ajudar na salvação de um governo enlameado da cabeça aos pés em indícios de corrupção.

*Wagner Mendes é jornalista.

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