O futuro da Alemanha e da UE nas urnas no próximo domingo

No próximo domingo (24), a Alemanha decidirá seu destino nas urnas. As pesquisas apontam para uma vitória da atual chanceler, Angela Merkel, da União Democrata-Cristã (CDU). A vantagem é de aproximadamente 17% sobre Martin Schulz, candidato dos sociais-democratas (SPD) e presidente do Parlamento Europeu. Enquanto Merkel aparece com 37% das intenções de votos, o SPD tem 20%.

Por Thiago Cassis

Eleições na Alemanha - B. Pedersen

Ao contrário do que muitos analistas políticos alemães afirmavam, mais uma vez não teremos no país uma eleição disputada palmo a palmo por dois programas diferentes, o que acenaria com a possibilidade da formação de um novo governo. Angela Merkel deve mesmo consolidar a vantagem apresentada pelas pesquisas. Vale lembrar que desde 2005, com o fim do mandato de Gerhard Schröder, os sociais-democratas estão fora do poder.

O candidato social-democrata embora tenha começado sua campanha com a pauta de “justiça social”, não passou do discurso e nada apresentou como alternativa para a rigidez imposta por Merkel para a zona do Euro. O candidato chegou a figurar com 30% das intenções de voto, logo após o anúncio de sua candidatura, mas tudo que fez foi apenas reforçar a proposição do presidente francês, Emmanuel Macron, de criar um fundo de investimentos em comum para os países da comunidade europeia, o que na prática, transformaria as dívidas de um país em dívidas de todos os países da eurozona. Ideia no mínimo muito anti-popular, posto que o senso comum, em parte construído pela grande mídia, vende a ideia de que a Alemanha teria que "pagar pela salvação da Europa".

Por outro lado, o crescimento da Alternative für Deutschland, Alternativa para Alemanha, (AfD), com um discurso contra a União Europeia e xenófobo, vem sendo notado desde os pleitos regionais de 2016, e às vésperas das eleições, esse parece ser o fator que mais causa debates.

A questão que pode encaminhar os rumos do país é justamente este crescimento do AfD. E com isso, qual seria a coalizão possível para o próximo período. A AfD, que tem sua liderança nas figuras de Alexander Gauland e Alice Weidel, aparecem nas pesquisas com algo entre 8% e 12% dos votos, e com isso entrariam no Bundestag pela primeira vez. O que por si só representaria uma guinada à direita no que diz respeito a temas como a política de refugiados e sua integração. Além disso, seria a primeira vez no pós-Segunda Guerra Mundial que um partido populista-nacionalista teria representação no Parlamento alemão.

Para termos uma noção ainda melhor do fator simbólico envolvido na possível ascensão do AfD, basta dizer que os alemães mudaram a regra, que estava vigente até alguns dias atrás e que instituía que o deputado mais velho presidisse a sessão de abertura da legislatura. No antigo modelo a sessão de abertura, após as eleições do próximo domingo, muito provavelmente seria presidida por um deputado da AfD, Wilhelm von Gottberg, de 77 anos. No novo modelo, cabe ao deputado com mais tempo de Casa cumprir essa tarefa. Entre outras coisas, Von Gottberg, da Afd, já conceituou o Holocausto como "instrumento eficaz para a criminalização dos alemães e de sua história".

Para pensarmos na coalizão futura, é necessário também aguardar qual será o resultado do Partido Democrata Livre (FDP), que voltou a crescer com a jovem figura de Christian Lindner. As pesquisas atuais mostram que terão entre 8% e 10% dos votos. Se essa quantidade de votos em Lindner se confirmar, uma coalizão de centro-direita, democratas-cristãos e democratas livres será uma tendência. Com isso os democratas livres pressionariam Merkel no sentido de endurecer suas políticas para a zona do euro, com o afastamento da Grécia, inclusive, em perspectiva.

Analisando os discursos e propostas que aparentemente impactarão nos resultados da eleição do próximo final de semana, ao menos segundo as pesquisas, detectamos que assim como no episódio do Brexit no Reino Unido, ou até mesmo nas últimas eleições do Estados Unidos, o debate sobre a globalização e os impactos da crise do capitalismo na vida dos trabalhadores, vem sendo disputada e ganhando força pela direita. E o pleito do próximo domingo podem colocar Merkel, que tem a fama de “ir pra onde bate o vento” da opinião pública, numa posição de ter que desviar a locomotiva alemã, e sua força dentro da UE, ainda mais para o caminho do conservadorismo e de pautas que defendem apenas os interesses do capital.