Membros da OMC preparam terreno para eventual cúpula

A menos de dois meses do prazo para que seja definida a base do acordo final da Rodada de Doha, para liberalização do comércio global, os negociadores dos seis principais países-membros da Organização Mundial do Comércio (OMC) começaram a preparar o terre

Ao término de uma reunião de dois dias, em Londres, em que participaram os representantes da União Européia, Estados Unidos, Brasil, Índia, Japão e Austrália, o ministro das Relações Exteriores Celso Amorim disse que o encontro foi "útil" para que se tenha um "maior conhecimento das estatísticas e dificuldades" envolvidas nas negociações da Rodada de Doha.

Foram apresentados os resultados de simulações, por exemplo, de cortes de subsídios agrícolas e de tarifas de importação e seus respectivos impactos nas economias dos países.

"Isso vai ajudar na própria reunião de cúpula. Evidentemente os primeiro-ministros e presidentes não vão chegar lá para fazer contas", afirmou o chanceler brasileiro.

"Eu tenho que chegar para eles e dizer o que é preciso decidir: é isso aqui em troca disso. Uma maneira muito simples."

O encontro de chefes de Estado foi sugerido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o objetivo de levar à instância máxima do poder as decisões mais difíceis em termos políticos.

A idéia recebeu o apoio do primeiro-ministro britânico, Tony Blair, durante a visita do presidente Lula a Londres, nesta semana, mas ainda não foi definido se realmente será posta em prática.

'Clique'

Peter Mandelson, comissário de Comércio da União Européia, que presidiu a reunião em Londres, descreveu o encontro como "construtivo" e disse que as discussões estavam sendo feitas de forma "sincera" e "aberta".

"Neste momento estamos testando as possibilidades e limitações dessas negociações para chegar a um consenso e fechar um acordo, mas não há expectativa de se chegar a um grande avanço hoje (sábado)", comentou.

Para o ministro de Comércio da Índia, Kamal Nath, "ainda é preciso mais entendimento", uma avaliação semelhante à do ministro Amorim que diz "faltar um clique" nas negociações.

"O clique ainda não está aqui. Ainda tem que haver um incremento nas negociações. Ainda não está claro o que o acordo pode ser", disse Amorim. "O que falta é a convicção de que se não houver resultados ambiciosos, você provavelmente não terá resultado nenhum. Acho que isso não está totalmente claro."

O representante de Comércio dos Estados Unidos, Robert Portman, que, assim como a os seus colegas da Índia e do Brasil, também pressiona a União Européia para que o bloco apresente cortes maiores nas tarifas de importação de produtos agrícolas, declarou que "não houve uma aproximação significativa das posições", mas disse que estava "otimista".

"Acho que vamos chegar lá, embora não pareça", observou.

África

O encontro dos seis negociadores da OMC em Londres foi alvo de críticas por parte de ONGs e ativistas que apontaram o fato de um pequeno número de representantes discutir questões comerciais que afetam os 150 membros da organização.

Mandelson defendeu o encontro como uma oportunidade de "chegar próximo a um consenso para facilitar as negociações".

"Há reuniões comos essas todo o tempo. Não estamos excluindo ninguém porque, no fim, todos os países-membros da OMC terão que chegar a um consenso."

O chanceler brasileiro, contudo, observou que "no futuro um representante da África deveria estar presente".

"Ninguém iria se opor, eu acredito", disse.

O diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, também estava presente no encontro e ficou de repassar aos demais países-membros as questões discutidas pelos seis negociadores.

Fonte: BBC Brasil