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Belo Horizonte sitiada

Por Gilson Reis*

A capital mineira, a pacata Belo Horizonte, sedia desde o dia 29 de março até o dia 5 de abril, a assembléia anual do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). O BID é parte dos organismos multilaterais, responsável por desenvo

 

Passarão ou estão presentes em Belo Horizonte, neste dias, os principais formuladores do chamado consenso de Washington. Conforme proposta destes senhores, que comandam as deliberações desses organismos para a América Latina, a ordem é reorganizar uma nova etapa para aplicação do projeto neoliberal, denominada Novo Regionalismo.

 

O Novo Regionalismo tem como metas dois objetivos neste próximo período: o processo de privatização dos setores de infra-estrutura dos Estados nacionais, que ainda não foram privatizados (energia, água, saneamento, estradas, portos, comunicação, etc.), bem como introduzir no projeto neoliberal um “caráter mais humano”, com a focalização de políticas compensatórias. O modelo segue o seguinte figurino: privatizar o que resta dos setores estratégicos dos países da América Latina com distribuição de  migalhas, para justificar, perante a sociedade, a fracassada política neoliberal dos últimos 15 anos no Brasil e na região.

 

Para realizar todas as negociatas e transações, o governador de Minas Gerais mobilizou o maior e mais bem preparado aparato militar desde a ditadura militar. A repressão militar não é novidade pelas bandas de Minas Gerais. Desde o início do governo, a polícia militar mineira vem tratando o movimento social de forma criminosa. Ao longo destes últimos três anos, várias denúncias foram feitas contra o governador e sua política de repressão a sindicalistas, professores, estudantes, trabalhadores sem-terra, comunidades da periferia, etc. O movimento social vem denunciando, há muito tempo, a atitude fascista do governador mineiro, cuja administração, aos olhos do Brasil, respeita a democracia e os movimentos sociais.

 

Para o encontro do BID, Aécio extrapolou toda e qualquer noção de civilidade e de convivência democrática. Desde sexta-feira, com a chegada da marcha do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) e da Via Campesina — que vieram do interior do estado para participar do Fórum Paralelo —, o comando da Política Militar, sob a orientação do governador Aécio Neves, vem tratando o movimento social de forma violenta e truculenta. Depois de três dias de repressão total, o movimento saiu às ruas, numa manifestação pacífica, que deveria juntar-se a outra manifestação que ocorria no centro da capital mineira. Porém, desde sábado a polícia não permite qualquer manifestação de rua, dizendo que as passeatas prejudicariam a imagem do estado.

 

Na manhã desta segunda-feira (03/04), parte do centro de Belo Horizonte amanheceu sitiado. Milhares de policias não permitiram que trabalhadores fossem ao trabalho, sem que fossem molestados ou reprimidos. Por volta das 10 horas, a manifestação seguia de forma pacífica e ordeira quando novamente a polícia tentou bloquear a passeata. Depois de muito empurra-empurra, os manifestastes foram para o confronto. O que se viu nas mediações da Cemig, empresa estatal mineira, foi um campo de guerra. Várias pessoas machucadas, pernas e braços quebrados, mais de 20 companheiros e companheiras presos e muita indignação da população.

 

Contudo, mesmo sob toda a repressão o movimento continua unido e na luta. Estamos preparando para hoje e amanhã várias manifestações e uma grande passeata que deverá sair da Praça da Assembléia Legislativa até o centro da capital, logo após uma atividade proposta pelo Fórum Paralelo, que denunciará os crimes contra os trabalhadores rurais sem-terra em Minas Gerais.

 

Companheiros de todo o Brasil, os mineiros precisam de solidariedade neste momento de extrema repressão. Os trabalhadores e o povo de Minas Gerais lutam contra o neoliberalismo, contra a criminalização dos movimentos sociais, contra um governo fascista — mas, fundamentalmente, lutam pela democracia.

 

* Da CUT Nacional