Candidata peruana tem influência de lobbys estrangeiros
Ollanta Humala (União pelo Peru), candidato favorito na eleição presidencial que o Peru terá no próximo domingo (9), tem sido bombardeado pela mídia peruana e pelas agências de informação alinhadas com o pensamento
Publicado 06/04/2006 18:25
Segundo recente pesquisa do instituto CPI, Humala tem 31,5% das intenções de voto, contra 26,8% de Lourdes. Leia artigo do jornalista peruano que desmascara os apoiadores da campanha da candidata da Unidad Nacional:
Por Herbert Mujica Rojas*
Um dos laboratórios teóricos neoconservadores e pró norte-americanos fervorosos é a organização não governamental Diálogo Interamericano com sede em Washington e cujos propósitos são, entre outras coisas, prover soluções às conjunturas econômicas, políticas e governamentais. Sempre sob o patrocínio de um conjunto de poderosíssimas empresas transnacionais e executivos e gerentes ao serviço, fundamentalmente dos interesses dos Estados Unidos na América Latina.
Uma das diretoras do Diálogo Interamericano é a senhorita Lourdes Flores Nano, candidata à presidência do Peru e não oculta, para nada, ser a candidata de “San” Dionísio Romero Seminário, o banqueiro dos banqueiros.
Um pouco de história
No primeiro semestre de 1982, o Centro de Estudos Woodrow Wilson (Estados Unidos) realizou três seminários para tratar as repercussões da Guerra das Malvinas e da Nova Ordem Mundial que já se anunciava, com a proximidade da derrocada da União Soviética. Participaram convidados de toda América Latina, entre políticos, banqueiros, professores universitários, lobbistas e o resto da fauna neoliberal.
Destes seminários surgiu a idéia do Diálogo Interamericano, um think tank [centro de investigação, propaganda e divulgação de idéias, geralmente de caráter político] fundado em 15 de outubro do mesmo ano por David Rockefeller, Robert McNamara, Cyrus Vance, entre outros representantes do establishment norte-americano e significativas figuras da América Latina, integradas no esquema que redesenhava o mundo a partir do fim da bipolaridade.
A Diálogo Interamericano propunha estabelecer estruturas supranacionais para atuar no continente, vigiando as atividades militares e promovendo ações intervencionistas “sempre que for necessário”. O conjunto de medidas ficou conhecido como Projeto Democracia e foi anunciado pelo presidente Reagan.
Soberania
Dez anos depois (1992), a Diálogo Interamericano anunciou um plano para eliminar a curto prazo a soberania dos Estados da América Latina, substituindo suas funções por uma rede de instituições supranacionais subordinadas aos interesses hegemônicos dos Estados Unidos, via Nações Unidas (ONU), Fundo Monetário Internacional (FMI) e uma série de Organizações Não Governamentais (ONGs). Este projeto se baseava no argumento de que “a soberania dos Estados nacionais não poderiam se constituir em um escudo por trás do qual governos ou grupos armados poderiam se esconder”.
Por coincidência – e até ironicamente – movimentos de guerrilhas no México, Colômbia, Peru e Guatemala passaram à primeira página dos jornais, servindo para estimular as diretrizes de Diálogo Interamericano, como formas de intimidação e erosão dos Estados nacionais. Também foram incrementadas as campanhas para a formação e separação de nações indígenas, como no caso dos Ianomâmi no Brasil.
Nasce a Nafta, Tratado de Livre Comércio entre Canadá, Estados Unidos e México, com o objetivo de se estender até a Patagônia, enquanto o então embrionário Mercosul passou a ser hostilizado. Outras ameaças aos Estados nacionais foram feitas pelo Diálogo Interamericano: suspensão de ajuda econômica bilateral, embargo de exportações e importações vitais, suspensão de ajudas militares e, finalmente, intervenções militares.
O modelo também contemplava privatizações, possibilidade total de especulação financeira e até recomendações de que deviam suspender os direitos sociais de algumas constituições de países da América Latina, forma de “aumentar os investimentos”.
A ameaça demográfica
Conforme denunciou em 1991 o general Osvaldo Muniz Oliva, então comandante da Escola Superior de Guerra do Brasil, a erosão da soberania dos Estados nacionais se concentrou primeiro na assistência ao reconhecimento de uma responsabilidade internacional relativa ao meio ambiente, com severas limitações ao direito de exploração e utilização racional e ecologicamente equilibrada dos recursos naturais. Este objetivo se cristalizou rapidamente na ação de ONGs relacionadas aos interesses hegemônicos dos países ricos.
Outra obscena sustentação dos internacionalistas, já aplicada na África e Ásia e agora é sugerida para a América Latina, foi uma ênfase excessiva nos perigos da explosão demográfica, para eles “com perigos maiores que os provocados pelas bombas nucleares”.
Forças Armadas
A estratégia da Nova Ordem, depois de passar pelo distanciamento das Forças Armadas como instituição nacional permanente, ressalta o ponto de vista de que o meio ambiente deve ser salvo pela ação e não pela inação e a inércia.
Para a Diálogo Interamericano, nada mais conveniente que aproximar a Amazônia primeiro e mais tarde o resto do continente. A América Latina serviria como imensa reserva de recursos naturais para a exploração de acordo com as necessidades da superpotência, permitindo territórios específicos (nações indígenas), verdadeiros jardins zoológicos a ser visitados por turistas, negando às populações selvagens os benefícios da civilização.
Gurus da DI
Peter Kakim é o presidente da Diálogo Interamericano. Escreve e fala amplamente sobre assuntos hemisféricos, é entrevistado regularmente em rádios e televisões e foi testado mais de uma dezena de vezes diante do Congresso. Seus artigos foram aparecendo no Foreing Affairs, Foreing Policy, New York Times, Washington Post, Financial Times e Christian Science Monitor. Foi vice-presidente da Fundação Interamericana e trabalhou para a Fundação Ford em Nova Iorque e na América Latina. Ensinou no Massachusetts Institute of Technology (MIT) e na Columbia.
Atualmente presta serviços como diretor e em comitês consultivos na Fundação das Américas, Banco Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento, Foreing Affairs em Espanhol, Corporação Intellibridge e Human Rights Watch. É membro do Conselho de Relações Exteriores.
Os outros membros de Diálogo Interamericano são da mesma claque que o senhor Hakim já que compartilham de um prontuário muito parecido.
Por e para o Império
Nesta fauna encontramos desde representantes do establishment norte-americano, personalidades da direita mais recalcitrante e conservadora, até latino-americanos renegados (ou filhos de renegados) passando por vários sionistas confessos. Não se deve confundir estes cargos e títulos pomposos como algo que outorgue prestígio a seus possuidores. Muito pelo contrário, trata-se da mais absoluta falta de moral e carência de ética destes indivíduos para pensar os destinos da América Latina. Eles estão “trabalhando” por e para o Império. Estão lutando para que os Estados Unidos da América consolide e mantenha sua hegemonia imperial em todo o hemisfério. Basta ler qualquer documento da Diálogo Interamericano para se dar conta disso.
Vejamos os que integram a mesa diretora da Diálogo Interamericano:
Peter D. Bell (EUA); Fernando Henrique Cardoso, Brasil; Carla A. Hills (EUA); Ricardo Lagos (Chile); José María Dagnino Pastore (Argentina); Peter McPherson (EUA); David de Ferranti (EUA); Roberto H. Murray Meza (El Salvador); Lourdes Flores (Peru), Sonia Picado (Costa Rica); William L. Friend (EUA); Jacqueline Pitanguy (Brasil); Donna J. Hrinak (EUA); Jorge Quiroga (Bolívia); Enrique Iglesias (Uruguai); Jesús Silva-Herzog (México); Yolanda Kakabadse (Equador); Roberto Teixeira da Costa (Brasil); Barbara J. McDougall (Canadá); Elena Viyella de Paliza (República Dominincana); Thomas F. McLarty III (EUA); Javier Pérez de Cuéllar (Peru); Raúl Alfonsín (Argentina); Peter Hakim (EUA); Jimmy Carter (EUA).
Existem outros peruanos membros da Diálogo Interamericano? Certamente que sim. Entre eles está o escritor conservador Mario Vargas Llosa.
Conheça a relação de empresas que fazem parte do círculo da DI:
Acon Investments, LLC
ACPZ Venture Capital
AES
AIG
Alston & Bird
AMLA Consulting
Andrews Kurth LLP
Anheuser Busch
Bausch & Lomb
BB&T
BCIE
BellSouth International
BrightStar Corporation
Caterpillar Inc.
CEMEX
Chemonics International
Chevron Corporation
Chubb & Son
Cisco Systems, Inc.
Cisneros Group of Companies
Citigroup
Cleary, Gottlieb, Steen & Hamilton
Coca Cola Company
Colegio Bandeirantes
College of William and Mary
Comexi
Continental Airlines
Darby Overseas Investments, Ltd.
Dartmouth College
DevTech
Diageo PLC
E.M. Warburg, Pincus & Co., Inc.
Electronic Data Systems Corporation (EDS)
Emerging Markets Partnership
EnCana Corporation
Eton Park Capital Management
Experian
Federal Express Corp.
Federal Mogul Corporation
Federal Reserve Bank of Atlanta
Fitch, Inc.
Fleishman-Hillard Government Relations
Ford Motor Company
Frito Lay
Fujisawa Healthcare, Inc.
Fundación Chile
Gartner, Inc.
General Accounting Office
General Electric
General Motors Corporation
Global Crossing International Ltd.
Goldwyn International Strategies LLC
Greenberg Traurig LLP
Grupo Empresarial Bavaria
Grupo Domos
Grupo Financiero Uno
Grupo Marhnos
H2O Plus, L.P.
Hemispheric Partners, Inc.
Holland & Knight
HSBC
Hunt Oil
IBM
Institute of the Americas
Inter-American Defense College
International Trade and Communications Corporation
Japan Bank for International Cooperation
Japan Center for International Finance
Johnson & Johnson
Jamaica National Building Society
JP Morgan Chase & Co.
Kirkpatrick & Lockhart
Kissinger McLarty Associates
Knight Foundation
Latin Trade Solutions, Inc.
Laureate Education
Manatt%20Jones%20Global%20Strategies%20LLCManat'' target=''_blank''>Lockheed Martin Corporation, Inc.
Pillsbury Co.
Planty & Associates LLC
Porter, Wright, Morris & Arthur
PriceWaterhouseCoopers LLP
Quisqueyana
Raytheon Company
Reebok International
Rohatyn Group
Ryder Systems
SabiaNet Inc.
Sara Lee
Schmeltzer, Aptaker & Shepard, PC
Scowcroft Group
Sidley, Austin, Brown & Wood
Standard & Poor’s
Squire Sanders & Dempsey
Sullivan & Cromwell
Syracuse University
Telecommunications Management Group, Inc.
The Boeing Company
The Yankee Group
Toyota Motor Corporation
UBS
University of Florida
University of Minnesota
University of New Mexico
U.S. Army South
United States Southern Command
White & Case
Wilmer, Cutler & Pickering
Chemonics é a empresa que conjuntamente com Devida quer pulverizar todas as plantações de folha de coca no Peru em uma forma vassala de obedecer ao pé da letra à política do Departamento de Estado da “Gringolândia”. Junt Oil é a empresa dos irmãos Hunt, os mesmos que jogaram pela janela o contrato de concessão da Camisea e que anos atrás desgastaram o Peru no negócio da prata por várias centenas de milhões de dólares. Amiguinhos de PPK [Pedro Pablo Kucsynski, ministro peruano do governo de Toledo] não duvidou nunca em pôr seus investimentos no nosso país, apesar de que ainda não permanece na obscuridade sem honrar suas obrigações passadas e delinquenciais.
JP Morgan é o banco intermediário de mil e um negócios com os papéis da dívida externa do Peru. Amiguinhos também de PPK e de altos funcionários do regime atual, sempre são favorecidos ou levados em conta em toda negociação que seja encaminhada em termos de milhões e milhões de dólares.
Então, segundo indicam os dados, a senhorita Lourdes Flores não está sozinha nem lhe falta respaldo no exterior já que a hipótese de uma possível candidata como presidente de um país latino-americano constituiria em um campo fértil de experimentação das propostas e iniciativas da Diálogo Interamericano vindas a partir dos EUA.
Uma conclusão inicial leva a pensar que não é pouca coisa essa conexão pública, e que Lourdes Flores não esconde, com a Diálogo Interamericano, da qual é diretora.
Para fechar, é preciso mencionar que vários dos personagens citados são membros da Council on Foreing Relations (CFR), da Trilateral Comission e do Bilderberg Group.
*Herbert Mujica Rojas é jornalista, trabalha para diversos veículos de comunicação em Lima, Peru.
Fonte: www.voltairenet.com