Peru vai às urnas neste domingo

No próximo domingo (9), os peruanos vão finalmente às urnas eleger seu novo presidente. Cerca de 16,5 milhões de peruanos estão aptos a votar no pleito que ganhou destaque internacional devido à forte campanha contrária

A legislação eleitoral peruana proíbe a divulgação de pesquisas no país na semana anterior à votação. Nas sondagens divulgadas no último domingo, Ollanta Humala aparecia em primeiro, com 31%; a conservadora neoliberal Lourdes Flores em segundo, com 26%; e o ex-presidente aprista Alan García em terceiro, com 23%. Apesar da restrição da lei eleitoral, resultados de novas pesquisas foram revelados na reta final confundindo e induzindo os votos dos peruanos.

Em uma das sondagens, por exemplo, realizada pela empresa CPI, indica que Flores teria ultrapassado Humala. Já uma outra pesquisa, conduzida pelo instituto Apoyo, sugere que o candidato nacionalista teria, na verdade, ampliado a vantagem sobre os adversários.

Os números contraditórios revelam uma disputa acirrada no próximo domingo e confirmam a sensação de que nenhum dos candidatos terá votos suficientes para vencer a eleição já no primeiro turno. Além de contar com três nomes fortes na disputa, as eleições peruanas têm ainda outros 17 candidatos a presidente, o que faz com que seja ainda mais difícil para um candidato obter mais da metade dos votos válidos e evitar um segundo turno.

De fevereiro pra cá, Humala cresceu sete pontos nas pesquisas. Mesmo sob o fogo cerrado conjunto da mídia, associada com o empresariado e a oligarquia peruanos, respaldados pelos dois principais oponentes, que – em coro – classificam Humala de “fascista”, “ameaça à democracia peruana” e “aspirante a ditador”.

Apoiado publicamente pelos presidentes venezuelano Hugo Chávez e boliviano Evo Morales, Humala também foi acusado de ameaçar a economia do país. Seu crescimento nas pesquisas foi orquestrado de forma negativa junto ao mercado do Peru. O motivo seria suas intenções de nacionalizar os recursos naturais e revisar os contratos com empresas estrangeiras.

Enquanto o crucificam por suas idéias, fazem propaganda da sua candidata predileta, a neoliberal Lourdes, amiga de Wall Street e pupila dos pensadores neoliberais estadunidenses. Com ela, as multinacionais não têm o que temer já que ela garante que manterá as condições para atrair – e aumentar – o investimento estrangeiro.


Ataques

No último dia da campanha, Lourdes e García realizaram comícios em Lima. Por sua vez, Humala, que já havia discursado na capital no dia anterior, preferiu encerrar a campanha na cidade de Arequipa, um de seus principais redutos eleitorais.

Nestes últimos dias, Lourdes adotou uma postura mais agressiva partindo para o ataque frontal contra Humala. Por diversas vezes, a advogada se referiu ao candidato nacionalista como um "afilhado político" do líder venezuelano Hugo Chávez e disse que sua vitória coloca em risco a liberdade dos peruanos. "O Peru não pode se colocar à beira do abismo e cair no vazio seguindo o projeto improvisado dos Humalas", disse Flores.

O candidato aprista também não poupou saliva para criticar o candidato da coligação União pelo Peru. O ex-presidente afirmou que Humala representa o "perigo do extremismo, da desordem e da confrontação".

Tenente-coronel da reserva, Ollanta Humala ganhou popularidade ao atuar como um dos líderes de uma rebelião militar contra o ex-presidente Alberto Fujimori em 2000. Nesta reta final da campanha, os adversários de Humala oportunamente denunciaram uma suposta ligação entre colaboradores do candidato e Vladimiro Montesinos, o ex-assessor de Fujimori acusado de corrupção no caso que derrubou o governo peruano em 2000.

O candidato nacionalista, no entanto, nega a acusação e denuncia que a versão é uma tentativa de associá-lo a Montesinos para "demonizá-lo" e livrar a cara de Fujimori. "Estão cozinhando uma estratégia suja de campanha para tentar desvincular Fujimori e Montesinos quando, na verdade, eles são irmãos siameses", afirmou Humala. "Aceito diferenças ideológicas, mas não que haja ódios porque o ódio vai dividir mais o Peru, e isso é a última coisa que queremos para a nossa pátria", acrescentou.

Bandeiras
Humala defende a elaboração de uma nova Constituição para o Peru, ameaça rever contratos do governo peruano com multinacionais e é contra a ratificação do Tratado de Livre Comércio com os Estados Unidos. Além disso, é filho de Isaac Humala, ideólogo do Movimento Etnocacerista, um grupo radical que defende a tese de que os herdeiros da cultura inca devem tomar o lugar da atual elite peruana, formada em sua maioria por brancos e asiáticos.

Durante a campanha, Humala procurou moderar seus discurso e se afastar das idéias radicais do etnocacerismo defendido por sua família. Um dos irmãos de Ollanta, Ulises, é candidato a presidente por outro partido. "Dizem que os investidores vão embora do país se eu chegar ao poder. Isso é totalmente falso", disse o candidato no seu último comício em Lima. "Nós conversamos com empresários nacionais e estrangeiros, e ninguém está pensando em ir embora".

Da Redação,
Com agências.