Publicado 09/04/2006 21:01
Giorgetti confessa que não sabe explicar por que o esporte que apaixona nove entre dez brasileiros, ainda mais em ano de Copa do Mundo, frequenta tão pouco a cinematografia nacional. "Acho que o cinema brasileiro não esgotou nenhum assunto, inclusive esse. No Brasil a gente produz poucos filmes, de modo geral", disse. E relembra que mesmo escritores não tratam do assunto em suas obras. "Nelson Rodrigues, que era Fluminense fanático, não usou o futebol nas peças de teatro dele. A mesma coisa acontece com os romances do José Lins do Rêgo, que foi enterrado com a bandeira do Flamengo. Os dois só falaram do tema em crônicas de jornal", recordou.
Comparado ao filme de 1998, que fez um respeitável público de 90 mil pessoas nos cinemas, sem contar a venda em vídeo e DVD, Boleiros 2 revela-se bastante pessimista. Há histórias sobre o ídolo Marquinhos (José Trassi), que há muito joga na Europa, e de empresários mafiosos, como Lauro (Paulo Miklos), que dominam a profissão. Irônico como sempre, Giorgetti reconhece que há semelhanças entre a crise ética no futebol e na sociedade brasileira. "O futebol reproduz a vida, é parte da sociedade. Se as coisas não vão bem numa área, com certeza não irão também na outra. Estou falando de pessoas. Falar de futebol é um pretexto para falar de gente", afirma
Ainda assim, um grupo de velhos jogadores (interpretados por Adriano Stuart, Flávio Migliaccio e o ex-jogador corintiano Sócrates) representa, no filme, o último reduto do idealismo. "Eles são reservas morais. A entrada de Sócrates nessa turma, aliás, é exemplar. Ele é do tempo das Diretas-Já, da Democracia Corintiana e não tem mesmo papas na língua. O fato de ele estar ali é mesmo para reforçar esse discurso", afirma Giorgetti. O cineasta tem boas expectativas em relação à recepção de Boleiros 2. "Apesar do tom crítico, há ironia, humor. Espero que as pessoas percebam e encontrem neste filme elementos do outro", disse.
No elenco, encontram-se, além de atores globais como Lima Duarte e Otávio Augusto, o comentarista esportivo Sílvio Luiz e a Tiazinha, como ficou conhecida Suzana Alves, no papel da mãe de um filho do jogador Marquinhos.
Com agências