Ex-juiz federal e professor Flávio Dino fala sobre política, desenvolvimento, governo lula e sua fil

O ex-juiz federal, Flávio Dino, que deixou a magistratura para ser candidato a deputado federal pelo PC do B em coligação com o PSB e o PT, criticou a tentativa da senadora Roseana Sarney (PFL) de retornar ao Governo do Estado. “N&atil

O ex-juiz federal, Flávio Dino, que deixou a magistratura para ser candidato a deputado federal pelo PC do B em coligação com o PSB e o PT, criticou a tentativa da senadora Roseana Sarney (PFL) de retornar ao Governo do Estado. “Não é hora de mais do mesmo. Todos sabem e sentem que esses velhos grupos não têm mais vigor, vitalidade, aptidão para entusiasmar os sindicatos, a sociedade civil, as Igrejas, o empresariado urbano e rural, os prefeitos. O longo ciclo inaugurado em 1965 deve chegar ao final em 2006”, avaliou.

            Flávio Dino defendeu também a estratégia do governador José Reinaldo Tavares (PSB), de apoiar as candidaturas a governador do ex-prefeito Jackson Lago (PDT) e do ex-ministro Edison Vidigal (PSB). “Em uma situação de transição, de crise de hegemonia, é difícil encontrar referências que dêem conta de polarizar todos os setores descontentes, dissidentes, interessados em construir novas alternativas. Não há lugar para messianismos e exclusivismos. A estratégia está absolutamente correta, sobretudo em uma eleição em dois turnos”, garantiu.

Disse ainda que o palanque a ser montado pela coligação puxada pelo PC do B e PSB “será o palanque de Lula no Estado”. Sobre o papel desempenhado pelo governador, Flávio Dino assegurou que “ele lidera um momento de transição, marcado pela clara crise de hegemonia política” e que “aproxima-se o final da influência de toda uma geração de políticos tradicionais”.

– É hora do novo e o governador tem apoiado novos quadros políticos.

A seguir a entrevista com o ex-juiz federal, que relatou que, quando esteve na magistratura, ajudou “a dirigir o movimento pela Reforma do Judiciário, cujo resultado mais evidente é a criação do Conselho Nacional de Justiça, que entre muitas medidas importantes proibiu o nepotismo e fixou o teto salarial no serviço público”, e na qual ele também fala sobre as suas principais bandeiras como candidato a deputado federal.

Jornal Pequeno – O que levou o senhor a deixar a magistratura para ser candidato a deputado federal?

Flávio Dino – Minha participação política começou na luta pela redemocratização do país, na campanha das Diretas Já. Nesse período, a Igreja Católica era claramente guiada pela proposta de opção preferencial pelos pobres, o que influenciava fortemente a educação que recebíamos no Colégio Marista. Daí para o movimento estudantil e para a política partidária foi um passo. Na magistratura, ajudei a dirigir o movimento pela Reforma do Judiciário, cujo resultado mais evidente é a criação do Conselho Nacional de Justiça, que entre muitas medidas importantes proibiu o nepotismo e fixou o teto salarial no serviço público. Assim, nunca deixei a política desde que nela entrei, há mais de 20 anos, apenas me afastei da atuação partidária. Conheço e vivenciei o imenso poder transformador do Judiciário, porém a política tem um papel próprio e insubstituível. É nela que projetos gerais de organização da sociedade se confrontam, políticas públicas são construídas e o destino de todos é desenhado. Enfim, há motivos objetivos e subjetivos que me levaram a essa opção.

JP – Como analisa a onda de magistrados deixarem suas funções para entrar para a política partidária?

FD – Não vejo uma onda, um movimento organizado, uma homogeneidade. Acho que cada um tem sua história e seus motivos. O trânsito entre a magistratura e a política partidária, e vice-versa, é algo que se observa no mundo inteiro. Baltazar Garzón, o juiz espanhol do caso Pinochet, o argentino Eugenio Zaffaroni, o norte-americano Warren, são exemplos bastante significativos. O que não pode é haver a instrumentalização partidária da toga.

JP – A verticalização é boa ou ruim para o fortalecimento dos partidos políticos brasileiros?

FD – Considero uma tese positiva, na medida em que leva a uma maior coerência nas alianças. Defendo a reforma política como uma prioridade, inclusive enfrentando o tema do financiamento das campanhas. Precisamos de uma vida institucional mais organizada. Apenas temos que ter cuidado para não estreitar demais o quadro partidário, pois o Brasil é um país muito grande e plural.

JP – Quais os partidos com os quais o PC do B caminha para se coligar para disputar o Governo do Estado e as vagas na Câmara e na AL?

FD – O nosso partido adota uma tática eleitoral nacional, no caso o fortalecimento do projeto de desenvolvimento soberano, democrático e popular, hoje representado pelo Governo Lula. A partir daí, vamos discutir as alianças regionais com todos os partidos que queiram se somar a esse projeto.

JP – A coligação do senhor será mais um palanque para Lula no Estado?

FD – Será o palanque de Lula no Estado. Vamos defender a política externa independente e a integração latino-americana, contra o retrocesso defendido por Geraldo Alckmin e seus aliados, isto é, a submissão política e econômica aos Estados Unidos. Também vamos defender a continuidade das políticas sociais como o Bolsa-Família, o Luz para Todos, a Universidade para Todos (PRÓ-UNI), o financiamento da agricultura familiar. A vitória de Alckmin seria a volta das privatizações, dos cortes em gastos sociais, da política de ataque aos movimentos populares. Não esqueçamos a greve dos petroleiros de 1995 e os oito anos sem reajuste dos servidores públicos federais.

JP – Quais as chances da candidatura do ex-ministro Edison Vidigal a governador?

FD – São plenas. Há um esgotamento das forças políticas que dominaram a luta eleitoral nos últimos vinte anos. Celso Furtado, antes de morrer, escreveu um belo texto em que conclamava as novas gerações a retomarem o gosto pela imaginação institucional. A candidatura Vidigal representa isso: ousadia, criatividade, abertura de espaços para além de grupos fechados. Ele fará um forte discurso desenvolvimentista, de união dos maranhenses, de participação popular, em favor dos municípios. A hora é de olhar mais para o pára-brisas e menos para o retrovisor.

JP – Não corre o risco do eleitorado não entender a candidatura do ex-ministro, já que ele mesmo se diz amigo de longas datas do grupo Sarney?

FD – Esse é um falso debate. Todas as lideranças tradicionais que aí estão já foram do grupo Sarney ou a ele se aliaram em algum momento. Não é esse, portanto, o critério para delimitação do perfil de uma candidatura. Hoje Vidigal não representa o grupo Sarney. Temos que parar com essa simplificação de que tudo que é diferente e novo é “invenção de Sarney”. Além disso, acho que o mundo é bastante complexo para que pensemos que todos que hoje se classificam como “anti-Sarney” são de fato diferentes. Por isso, me preocupo mais com conteúdo do que com rótulos. Lembremos do que Cristo disse sobre os fariseus.

JP – O governador Zé Reinaldo disse que vai votar no senhor. Qual a importância dessa declaração e qual a contribuição dele para a sua saída da magistratura para ser candidato a deputado?

FD – É uma declaração importante e extremamente honrosa, feita no dia em que me filiei ao PC do B. Minha candidatura pré-existe a essa declaração. Sou apenas mais um candidato que integra um grupo de vários bons candidatos. Tenho certeza de que o povo escolherá os 18 melhores para representar o Maranhão como deputado federal. Quanto ao governador, ele lidera um momento de transição, marcado pela clara crise de hegemonia política. Aproxima-se o final da influência de toda uma geração de políticos tradicionais. É hora do novo e o governador tem apoiado novos quadros políticos.

JP – O governador disse que a oposição terá dois candidatos a governador, Vidigal e o ex-prefeito Jackson Lago. Como o senhor analisa essa estratégia?

FD – Em uma situação de transição, de crise de hegemonia, é difícil encontrar referências que dêem conta de polarizar todos os setores descontentes, dissidentes, interessados em construir novas alternativas. Não há lugar para messianismos e exclusivismos. A estratégia está absolutamente correta, sobretudo em uma eleição em dois turnos.

JP – Finalmente, vai ser possível derrotar no grupo Sarney no Estado?

FD – É plenamente possível. Acredito na vitória da nossa coligação, liderada por Edson Vidigal. O PC do B atuará nessa direção, de modo claro, com união, sem divisões e vacilações.

JP – Como analisa a tentativa da ex-governadora Roseana voltar ao comando do Estado?

FD – Não é hora de mais do mesmo. Todos sabem e sentem que esses velhos grupos não têm mais vigor, vitalidade, aptidão para entusiasmar os sindicatos, a sociedade civil, as Igrejas, o empresariado urbano e rural, os prefeitos. O longo ciclo inaugurado em 1965 deve chegar ao final em 2006.

JP – Quais as principais bandeiras que o senhor pretende empunhar como candidato a deputado?

FD – Pretendo cumprir quatro papéis principais. Em primeiro lugar, propor leis nas áreas em que tenho uma longa atuação profissional: Justiça, Segurança Pública, Direitos Humanos e Educação. Para isso, vou atuar em absoluta sintonia com a comunidade jurídica do Maranhão, que é uma das mais qualificadas do país, bem como com a sociedade civil organizada. Em segundo lugar, vou apoiar o governo Lula e trabalhar para que o seu próximo mandato seja ainda melhor do que o atual. Em terceiro, vou representar o Maranhão, viabilizando financiamentos públicos e privados para projetos de desenvolvimento e inclusão social. Em quarto lugar, desejo contribuir para que se constitua um pólo de esquerda na política maranhense, capaz de atuar de modo autônomo e protagonista. Repito: não é hora de mais do mesmo.